O Obreiro Cristão Normal 3º parte
Watchman NeeLeitura: / Coríntios 9.23-27; II Coríntios 11.27; I Coríntios 4.11-13 e Romanos 8.11.
Escrevendo aos crentes de Corinto, declarou Paulo: "Tudo faço por
causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Não sabeis vós
que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o
prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina;
aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim
corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.
Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a
outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (I Coríntios 9.23-27).
No versículo vinte e três, Paulo
se apresenta como servo de Deus, como pregador do evangelho. "Tudo faço
por causa do evangelho", diz ele; e, tendo-nos desvendado qual a atitude
intransigente que ele adotara para consigo mesmo, a fim de atingir o seu
objetivo -"esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão" — ele
prossegue a fim de esclarecer como punha em efeito essa determinação que tinha
de manter domínio sobre o seu próprio corpo.
Desde o início queremos deixar bem claro que o escritor da
epístola aos Coríntios não era algum asceta. Ele não se aliava àqueles que
ensinam que o corpo é um fardo do qual nos devemos procurar desvencilhar, e
muito menos ainda que o corpo seja a fonte do mal. Pelo contrário, nessa mesma
epístola Paulo declara que o corpo do crente é santuário do Espírito Santo, e
que se aproxima o dia quando a redenção dos nossos corpos tornar-se-á uma
realidade, porquanto então teremos corpos glorificados. Nenhum traço de
ascetismo deve macular o conceito cristão de "esmurrar o próprio corpo".
Repudiamos o pensamento que diz que o corpo nos serve de entrave, ou que seja a
fonte originária do pecado; mas reconhecemos, de modo bem definido, que podemos
pecar por meio do corpo, e que podemos continuar pecando, sem importar o rigor
com que tratemos de nosso corpo.
Nesse nono capítulo da primeira
epístola aos crentes de Corinto, Paulo confronta os obreiros cristãos com o
desafio que deveriam tornar seus corpos subservientes aos seus próprios
interesses, na qualidade de servos de Cristo. Foi na capacidade de obreiro
cristão, de pregador do evangelho, que Paulo abordou o problema, e foi no
interesse do evangelho que procurou solucioná-lo. E temos aqui a solução por
ele apresentada - "Esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão". O
vocábulo "esmurro" não é um termo suave; não há nenhuma sugestão de
que Paulo usava de meias medidas consigo mesmo.
Paulo deixou perfeitamente esclarecido de que maneira
esmurrava seu próprio corpo e o controlava, Porquanto esse tema é de
importância vital para todo obreiro cristão, observemos com cuidado o que ele
tem a dizer acerca da questão. Em sua aplicação prática da questão às vidas dos
servos do Senhor, o apóstolo usa a ilustração de uma pista de corridas.
"Não sabeis vós", pergunta ele no versículo vinte-e-quatro, "que
os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio?
Correi de tal maneira que o alcanceis". Nem todos quantos participam de
uma corrida se saem vencedores, declara Paulo; e em seguida exorta aos seus
leitores para que corram de modo a conquistar o prêmio. E como pode ser isso
conseguido é o que ele explica no versículo vinte e cinco, baseando a sua
metáfora nos jogos olímpicos. "Todo atleta em tudo se domina". Paulo
salientava a necessidade de auto-disciplina por parte de cada competidor.
Aqueles que competiam pelo prêmio tinham de manter rigoroso controle sobre si
mesmos. Durante o período de treinamento, antes das competições, não podiam
comer o que bem desejassem, nem quando desejassem; muitas coisas que seriam
normalmente permitidas, a eles lhes eram vedadas. E quando entravam na corrida
propriamente dita, tinham de seguir regras inflexíveis; pois de outro modo
seriam desqualificados.
Vocês talvez digam: Preciso disto
e tenho de possuir aquilo. Muito bem! Se vocês não são competidores nos jogos,
poderão obtê-las; mas, caso vocês sejam competidores, serão obrigados a manter
sob controle absoluto o próprio corpo. Que significam as palavras "em
tudo se domina"? Significa que o corpo não tem a permissão de impor
exigências excessivas; a liberdade deles tinha de ser restringida. O corpo não
era levado à pista de corridas para satisfazer suas exigências quanto a
alimentos, bebida, vestuário ou sono; mas era para ali conduzido, a fim de
realizar uma função -correr, e correr de maneira tal que conquistasse o
prêmio. Paulo continuou o seu raciocínio com base nessas mesma ilustração:
"Aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a
incorruptível". O vencedor dos esportes olímpicos era coroado com uma
coroa de louros que logo murchava, e, no entanto, se sujeitava a rigorosíssima
disciplina, e isso durante longo período, a fim de conquistá-la. Que
auto-domínio não deveríamos nós exercer, a fim de conquistar uma coroa
incorrutível?
"Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não
como desferindo golpes no ar", declara Paulo, dando prosseguimento ao seu
tema. Ele não se sujeitava a tão rigorosa disciplina em troca de nada; mas
tinha um objetivo claro em vista; corria diretamente para o alvo. Este
versículo tem que ser lido juntamente com o próximo. Paulo não corria numa
direção e então noutra, nem combatia desvairadamente; todos os seus movimentos
eram regulados, já que trazia o seu próprio corpo debaixo de estrito controle,
e fora capaz de obter o domínio sobre o mesmo disciplinando-o violentamente.
Irmãos e irmãs, se vocês ainda não
conseguiram pôr debaixo de controle o próprio corpo, seria melhor que fizessem
uma pausa no trabalho e procurassem obter tal domínio, antes de tentarem
exercer autoridade sobre qualquer terreno mais vasto. Talvez vocês tenham
grande prazer na obra, mas esta será de pouco valor se vocês ainda são
dominados por seus anelos físicos. Servir ao Senhor não consiste meramente de
pregar sermões em um púlpito. Paulo sabia disso.
Que se entende por reduzir nossos corpos à escravidão? Para
compreender isso, precisamos, primeiramente, entender quais são as exigências
do corpo. Mencionaremos apenas algumas delas — alimentação e vestuário;
descanso e recreação; e, em períodos de enfermidade, cuidados especiais. Todas
essas exigências são legítimas. Mas o Senhor também apresenta as Suas
exigências e, se eu tiver de corresponder a estas últimas, terei de impor
determinadas restrições ao meu corpo. Quando o trabalho impõe esforços
especiais ao arcabouço físico, este será capaz de suportar a tensão se houver
sido constantemente disciplinado; mas, se seus anelos tiverem recebido
normalmente a permissão de governar, estará fora de forma quando um serviço
árduo lhe for exigido. Se os nossos corpos não tiverem aprendido a nos servir
habitualmente, quando conclamarmos nossos membros para que desenvolvam um
esforço conjunto na pista de corrida, os pés recusar-se-ão a funcionar, e os
demais membros mostrar-se-ão lentos em obedecer às nossas ordens. Se a corrida
houver de ser ganha, o atleta não ousará relaxar a sua disciplina sobre o corpo
quando não estiver na pista. Se na vida diária e ordinária do obreiro cristão o
seu corpo nunca houver sido ensinado a reconhecer o seu senhor, como se poderá
esperar que corresponda às exigências extraordinárias que às vezes lhe serão
impostas, por causa da obra do Senhor? É somente quando impomos persistentemente
a nossa autoridade que os nossos corpos finalmente tomar-se-ão obedientes. Se,
na vida diária, nossos corpos tiverem adquirido o hábito da obediência, então
poderemos contar com eles, pois nos servirão fielmente sob circunstâncias de
pressão excepcional.
Permitam-me perguntar: Vocês são
os senhores de seus corpos, ou são antes seus escravos? Eles se submetem às
suas ordens, ou vocês cedem perante os seus desejos?
Nossos corpos exigem regularmente o repouso do sono, e essa
exigência é legítima. Deus dividiu o tempo em dia e noite, a fim de prover ao
homem a oportunidade de descansar; e se o homem desconsiderar essa provisão
divina, não poderá fazê-lo impunemente. Por outro lado, se o indivíduo
permitir que o seu corpo assuma o controle, deixando-o dormir sempre que se
sinta inclinado a isso, dentro em pouco tornar-se-á um homem preguiçoso e lerdo
para o trabalho. Normalmente, é razoável permitir que o corpo descanse durante
oito horas por dia. Entretanto, quando os interesses do Senhor assim o
exigirem, talvez tenhamos de reduzir as horas de descanso, ou mesmo adiar
inteiramente o sono por uma noite ou duas. Naquela noite em que se dirigiu ao
jardim do Getsêmani, o Senhor Jesus levou Consigo a três discípulos
selecionados, e lhes disse: "A minha alma está profundamente triste até à
morte; ficai aqui e vigiai comigo". Todavia, ao retornar da oração,
encontrou-os dormindo, e disse a Pedro: "Então, nem uma hora pudestes vós
vigiar comigo? " Não, não puderam vigiar em companhia de nosso Senhor nem
ao menos por uma hora; o sono os havia dominado inteiramente. Que há de errado
em se querer dormir à noite? Nada. Entretanto, se o Senhor requerer de nós que
vigiemos com Ele, mas preferirmos obedecer aos impulsos do corpo, ao invés de
Lhe sermos obedientes, então teremos falhado como servos Seus. Isso não quer
dizer que possamos passar indefinidamente sem o repouso do sono, porquanto
somos seres humanos e não espíritos; mas significa que se tivermos de
satisfazer à necessidade do Senhor devemos manter nosso corpo constantemente
debaixo de controle, a fim de que se torne acostumado com a fadiga.
Que significa "correr"?
Significa fazer algo de excepcional. Normalmente andamos passo a passo, mas
numa corrida o corpo é conclamado a despender um esforço extra. Como regra
geral, podemos permiir-nos oito horas de sono, mas, sempre que o serviço do
Senhor assim o exigir, devemos estar preparados para abreviar o nosso período
de descanso; e é então que nos convém esmurrar o próprio corpo. Quando nosso
Senhor encontrou Seus discípulos a dormir, após ter-lhes feito o pedido
especial que vigiassem, Ele desnudou o problema, dizendo: "O espírito, na
verdade, está pronto, mas a carne é fraca". De que nos adianta ter um
espírito voluntário se a carne for incapaz de realizar aquilo que o espírito
quer? Se a carne for fraca, nem mesmo um espírito disposto poderá mantê-la
desperta. Se vocês tiverem de vigiar em companhia do Senhor, quando Ele assim o
exigir, precisarão tanto de um espírito bem disposto como de um corpo bem
disposto. O corpo não é um obstáculo, mas é um servo que precisa ser treinado a
fim de que nos sirva bem; e esse treinamento precisa ter lugar sob
circunstâncias ordinárias, a fim de que esteja sempre preparado para satisfazer
às exigências das circunstâncias excepcionais.
Nicodemos veio falar com o Senhor à noite, e o Senhor pôde
falar com ele descansadamente, apesar da hora adiantada da noite; e os
evangelhos registram que, ocasionalmente, o Senhor passava noites inteiras em
oração. Ele estava preparado para permitir que o Seu ministério interferisse em
Suas horas de sono, e nós devemos estar dispostos a fazer outro tanto. Não estamos
advogando que os obreiros cristãos criem o hábito de passar noites em oração.
Substituiro dia pela noite e gastar continuamente as horas noturnas em oração
só pode desgastar o corpo e a mente, pois é algo anormal; entretanto, é normal
que os servos do Senhor nunca sacrifiquem o seu sono devido o serviço a Ele
prestado? Se, na questão do repouso do sono, deixarmos o corpo fazer o que
quiser, não resistiremos quando lhe tentarmos impor alguma restrição e enfrentarmos
alguma exigência especial em nosso trabalho.
O mesmo princípio se aplica à
questão da comida e da bebida. Devido a circunstâncias especiais, nosso Senhor
podia abster-se de alimentos, mas sabia comer bem quando não havia necessidade
de abstinência. Seu corpo tinha de ser-Lhe obediente. Algumas pessoas dependem
de tal modo da comida que não podem trabalhar se tiverem de ficar com fome.
Sem dúvida, precisamos de alimentos e não ousamos ignorar as nossas
necessidades físicas; mas o corpo tem que ser treinado para passar sem
alimentos, quando as circunstâncias assim o exigirem. Vocês devem estar
lembrados da ocasião quando o Senhor se assentou ao lado do poço de Jacó a fim
de descansar um pouco, quando então entrou em contacto com uma mulher em grande
necessidade espiritual. Era hora de certa refeição, mas o Senhor ignorou a Sua
própria necessidade física, e com grande paciência explicou-lhe como a
necessidade espiritual dela poderia ser satisfeita. Se chegarmos com fome em
algum lugar, e nada pudermos fazer ali enquanto não nos alimentarmos, é que os
nossos corpos não nos estarão servindo como convém. Sem sermos extremistas,
certamente devemos controlá-los ao menos nesse ponto, pois, se por causa do
trabalho tivermos de dispensar alguma refeição, doutra maneira os nossos
corpos nos dominarão com seu insistente clamor da fome.
No terceiro capítulo do evangelho de Marcos lemos que o
Senhor se viu cercado de uma tão numerosa multidão de pessoas necessitadas que
não Lhe sobrava tempo para comer. Seus amigos reagiram, procurando retirá-Lo do
meio da multidão, porquanto diziam haver Ele perdido o juízo; mas Ele não podia
fazer outra coisa senão adiar a satisfação de suas próprias necessidades
físicas por algum tempo, até que a premente necessidade das multidões houvesse
sido atendida. Se vocês e eu jamais pudermos suspender uma refeição quando a
obra exigir nossa atenção imediata, então faremos bem pouco trabalho eficaz.
Nessas oportunidades devemos refrear nossos próprios corpos, a fim de que não
assumam o controle, e assim os interesses do Senhor venham a sofrer detrimento.
A Bíblia afirma claramente que os crentes devem jejuar quando a ocasião assim o
requerer. Algumas vezes uma necessidade especial requer um período prolongado
de oração, que não dá margem para que o crente se alimente, e, quando nos
defrontamos com alguma circunstância em que não devemos parar de orar e jejuar,
então devemos recusar, temporariamente, a satisfazer às exigências racionais
do corpo.
Outra exigência do corpo é o
conforto. Não devemos acusar o obreiro que gosta de certa medida de comodidade
quando as circunstâncias o permitirem; entretanto, deveríamos deplorar a
incapacidade que certas pessoas têm de corresponder à convocação para o
trabalho, se este não for acompanhado pelas comodidades a que elas estão
acostumadas. Os servos do Senhor deveriam ser capazes de desfrutar do repouso
que consiste de condições mais fáceis, quando o Senhor assim o determinar; e
aqueles que, a despeito do fato que estão confortavelmente situados na vida,
esmurram habitualmente o corpo, serão mais capazes de se adaptarem a
circunstâncias de grande desconforto do que aqueles cuja situação é inferior à
deles, mas que, no entanto, não se esforçaram por manter seus corpos em
sujeição.
Quanto ao vestuário, este não deve merecer demasiada atenção.
O Senhor Jesus disse a respeito de João Batista que se alguém quisesse ver uma
pessoa elegantemente vestida, não poderia buscar nele o seu exemplo; que
buscassem tal pessoa nos palácios. Alguns crentes, todavia, infelizmente
estabeleceram para si mesmos um padrão elevadíssimo nessa questão do vestuário
e insistem em se conformarem a todo o tempo ao mesmo. Afirmamos que não
estaremos honrando ao Senhor se usarmos vestes sem decoro, e que, na medida do
possível, devemos estar limpos, arrumados e corretamente vestidos; não
obstante, não nos deveríamos esquecer do exemplo dado por Paulo, o qual podia
dispensar qualquer coisa por amor ao Senhor. Aludindo às suas próprias
experiências, escreveu ele: "...em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em
frio e nudez" (II Coríntios 11.27).
Em períodos de enfermidade ou
fraqueza, o corpo faz maiores exigências do que comumente, e, sob tais
circunstâncias, muitos obreiros cristãos não trabalham e se sentem
justificados. Como é que Paulo poderia ter cumprido o trabalho que lhe foi
confiado se estacasse sempre que não se sentisse com boa disposição? E que
teria acontecido ao ministério de Timóteo se ele tivesse acomodado o seu corpo
quando sofria de suas "freqüentes enfermidades"? É necessário que
cuidemos razoavelmente de nós mesmos, tanto na enfermidade quanto na saúde; mas
isso não elimina a necessidade de esmurrar o corpo e de mantê-lo em escravidão.
Até mesmo em períodos de enfermidade e dor intensas, se O Senhor assim ordenar,
poderemos recusar ouvir a todos os clamores físicos e ser-Lhe obedientes. Se
quisermos ser úteis nas mãos do Senhor, é imperativo que obtenhamos completo
domínio sobre estes nossos corpos.
Esse princípio deve ser aplicado aos desejos sexuais, como
também a todos os demais impulsos físicos. Se somos servos de Cristo, então o
Seu serviço deve receber prioridade acima de tudo o mais. Em 1Coríntios
4.11-13, diz Paulo: "Até á presente hora sofremos fome, e sede, e nudez: e
somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando
com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando
perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora temos
chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos". É óbvio que
os múltiplos sofrimentos de Paulo na carne não se confinaram a um período
isolado de sua vida, e que coisa alguma jamais teve permissão de impedir seu
serviço ao Senhor. No sexto capítulo dessa mesma epístola, desde o versículo
doze até o fim, ele faz alusão a duas questões - a questão dos alimentos e a
questão do sexo — e deixa perfeitamente claro que somos servos do Senhor, e
não servos do corpo. Então, no sétimo capítulo, ele aborda o assunto do sexo
com alguns detalhes, enquanto que no oitavo capítulo o seu tema gira em torno
dos alimentos, acentuando que, de modo algum, estamos na obrigação de atender â
vontade da carne, pois pertencemos a Cristo e temos o dever de servi-Lo. Por
amor a Ele cumpre-nos aprender a dizer "Não" aos nossos desejos
físicos, e teremos de reforçar essa negativa com medidas suficientemente
drásticas para estabelecer o fato que as rédeas estão em nossas mãos. O Senhor
é o Criador do corpo, e Ele o criou dotado de determinados impulsos que são
perfeitamente legítimos; mas Ele criou o corpo para ser nosso servo, e não
nosso senhor, e enquanto essa verdade não for bem estabelecida não poderemos
servi-Lo como convém.
Até mesmo um apóstolo Paulo temia
ser desqualificado na corrida, e assim vir a perder o prêmio; por conseguinte,
tomava a precaução de subjugar o próprio corpo mediante uma dura e constante
disciplina. E que diríamos acerca de nosso Senhor, o qual negou a Si mesmo a
mais exaltada glória e se humilhou até às profundezas do sofrimento e do
opróbrio perante os homens? Por amor a Ele, não ordenaríamos a estes nossos
corpos que nos sirvam, para que possamos servir ao Senhor sem obstáculos? Não
lhes comandaríamos que sejam fortes no poder de Sua vida ressurrecta? Não foi
Ele mesmo quem disse: "Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou
a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito
que em vós habita"?
Leitura: / Pedro 4.1; II Samuel
23.14-17; Apocalipse 2.10.
Todo obreiro cristão deveria estar mentalmente preparado para
o sofrimento. Em I Pedro 4.1, lemos as seguintes palavras: "Ora, tendo
Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento". Uma
atitude mental correta, em relação aos sofrimentos, faz parte do equipamento
essencial de todo obreiro cristão.
Há certa escola de pensamento, mui generalizada, que mantém
que toda forma de prazer milita contra o desenvolvimento espiritual. Rejeitamos
enfaticamente essa filosofia, porquanto a própria Palavra de Deus declara que a
porção do povo de Deus é uma porção abençoada. No Salmo oitenta e quatro,
podemos ler: "O Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam
retamente". E o conhecidíssimo Salmo vinte e três, diz: "O Senhor é o
meu pastor: nada me faltará". Por todas as páginas da Bíblia o amoroso
cuidado do Senhor, que nos trata qual pastor, é claramente retratado, e por
todas as Escrituras vemo-Loa cuidar fielmente dos que Lhe pertencem,
livrando-os das suas aflições e sempre estabelecendo distinção entre o Seu povo
e as nações pagãs. Mesmo durante o tempo em que Seu povo escolhido peregrinava
no Egito, Ele destacou aquela região da terra onde eles habitavam, para
derramar bênçãos peculiares sobre a mesma.
De outra parte, Deus não isenta os Seus filhos das provações
ou castigos; em realidade, as provações e os castigos são necessários para
garantir-lhes o crescimento até à maturidade. Mas aquilo para o que desejamos
chamar a atenção, nesta altura, é um determinado aspecto do sofrimento, com
freqüência ventilado na Palavra de Deus, e que consiste da escolha deliberada
de Seus filhos, cujo consumidor desejo é o de prestar-Lhe serviço. Não se trata
de algo que lhes haja sido imposto, de algo que tenham aceitado com relutância,
e, sim, de algo que eles preferem voluntariamente. Os três heróis de Davi não
tinham necessidade de arriscar a própria vida, a fim de trazer-lhe um pouco de
água para beber; todavia, quando o ouviram expressar o seu anelo por um gole de
água, tirada do poço de Belém, puseram em risco a própria vida e irromperam
pelas fileiras do exército filisteu, a fim de satisfazerem ao seu desejo. (Ver
II Samuel 23.14-17).
Muito sofrimento existe que
poderíamos evitar, se assim o desejássemos; contudo, se tivermos que ser úteis
para o Senhor, será fundamentalmente necessário que tomemos a deliberada
decisão de palmilhar pela senda do sofrimento por amor a Ele. A menos que
assumamos a disposição de sofrer por Ele, o trabalho que realizaremos será de
qualidade extremamente superficial.
Que queremos dar a entender quando falamos em estar-se
mentalmente preparado para o sofrimento? Em primeiro lugar, estabeleçamos
claramente a diferença que há entre sofrer e estar mentalmente preparado para
sofrer. Estar mentalmente preparado para sofrer implica em termos escolhido
espontaneamente a vereda do sofrimento por amor a Cristo; significa que o nosso
coração se dispõe a suportar as aflições por causa Dele. A questão não consiste
da intensidade do sofrimento a que porventura sejamos chamados a experimentar,
mas consiste de nossa atitude para com o sofrimento que nos cerca. Por exemplo,
o Senhor talvez tenha posto vocês em circunstâncias onde contam com boa alimentação
e boas vestes, e com uma casa bem mobiliada. Disso não se segue que se vocês
tiverem escolhido sofrer por Sua causa, que não poderão continuar desfrutando
de todas as dádivas que Ele lhes tiver conferido. A questão não é: Sua situação
externa é boa ou má? e, sim: A atitude de seu coração se dispõe a suportar
privações por amor a Ele? Talvez que os sofrimentos não sejam a porção diária
de nossa vida, mas que estejamos preparados para sofrer a cada dia.
Infelizmente, a massa comum dos
crentes, juntamente com muitos obreiros cristãos, parece poder prosseguir
esplendidamente enquanto as circunstâncias lhes são favoráveis; mas, no momento
em que alguma aflição lhes sobrevêm, estacam de súbito. A dificuldade é que não
estão intimamente preparados para sofrer. Se já nos tivermos decidido a aceitar
voluntariamente o caminho do sofrimento por causa de nosso Senhor, então os
testes nunca nos apanharão desprevenidos. Se Ele achar por bem dar-nos alívio
do sofrimento, isso é questão que só a Ele diz respeito; de nossa parte,
entretanto, devemos estar sempre prontos para experimentá-lo. Sempre que nos
sobrevier o sofrimento nós o aceitaremos como fenômeno normal; e, visto que não
o reputamos coisa estranha, não somos tentados a nos desviarmos do caminho,
mas prosseguimos diretamente em direção ao alvo. Observem cuidadosamente as
palavras de Pedro: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também
vós do mesmo pensamento". Puderam perceber como a disposição mental para
sofrer faz parte de uma armadura? Trata-se de um item de nosso equipamento
para a luta espiritual, e que reduz Satanás à impotência quando ele nos ataca
em qualquer ponto vulnerável. Se nos faltar essa peça da armadura, não
estaremos aptos para o conflito.
Existem crentes que suportam os sofrimentos, não tendo,
porém, qualquer conceito da preciosidade dos sofrimentos que lhes cabe na vida.
Gemem sob o sofrimento sem qualquer senso de gratidão para com o Senhor, e só
esperam pelo dia quando puderem ver-se livres do mesmo. Não aceitam a aflição
de todo o coração, mas reputam-na como algo deplorável, que tem de ser
tolerado. A atitude dos tais demonstra o fato que lhes falta a disposição
mental para sofrer.
Irmãos e irmãs, se em períodos de
prosperidade vocês não se armarem com o pensamento que se dispõe a sofrer,
então, quando forem apanhados pela adversidade, serão incapazes de continuar
servindo ao Senhor; entretanto, se estiverem armados com a determinação de
sofrer por causa Dele, prosseguirão constantemente, sem importar o que lhes sobrevenha.
Não pensem que, quando estiverem passando por aflições, que de fato estão
sofrendo por causa do Senhor. A indagação que é mister que seja feita, não é:
Por quanto sofrimento eu já passei? Mas é antes: Até que ponto me tenho
regozijado ante o sofrimento? É possível para o crente sofrer de intensa
perturbação e dificuldades, sem ter a disposição para o sofrimento. A
disposição para o sofrimento é algo profundamente íntimo. Queremos que fique
perfeitamente claro, neste ponto, que é perfeitamente possível para o crente
estar mentalmente preparado para o sofrimento, ao mesmo tempo em que não
experimenta nenhuma provação material; como também é perfeitamente possível
atravessar muitas aflições materiais sem estar armado da disposição de sofrer.
Se aos crentes fosse oferecida a opção entre sofrer e não sofrer, muitos, por
certo, prefeririam a isenção de todo sofrimento, e isso pelo motivo simples que
lhes falta o desejo de sofrer pelo seu Senhor. Qualquer obreiro cristão em cuja
vida se faça ausente essa disposição no íntimo, sempre estará orando para que
lhe sejam proporcionadas circunstâncias favoráveis, a fim de que haja
progresso na obra.
No caso de alguns dentre os filhos de Deus, há poucos sinais
de adversidade nas suas circunstâncias, ao passo que outros se acham claramente
em grande aperto. Mui naturalmente, concluiríamos que estes últimos conhecem a
graça do Senhor em maior medida do que os primeiros, e que desenvolveriam um
mais rico ministério espiritual. Na realidade, porém, é justamente o contrário
que se verifica; e quando nos pomos a examinar de perto a situação,
descobrimos que embora alguns sofram tanto, falta-lhes a disposição mental para
acolherem o sofrimento, e só desejam escapar de suas provações na primeira
oportunidade que se lhes deparar. Os sofrimentos dos tais não têm proveito;
eles nada ' aprendem disso.
Uma das dificuldades que com
grande freqüência nos confronta no trabalho é a exigüidade dos recursos
financeiros. Há ocasiões em que parece que o Senhor nos deixou provisões inadequadas,
e decidimos que não podemos continuar. Como será que o Senhor se sente a
respeito da nossa reação? Já ouviram-No perguntar: Por qual motivo me estás
servindo? Oh, essa indagação nos acha com muita freqüência! Qual é o servo de
Cristo que poderia estipular que irá ao trabalho se o sol brilhar, mas que
permanecerá em casa se vier a chover? Se vocês forem dotados da atitude mental
correta a respeito do sofrimento, nesse caso nada poderá intimidá-los. Serão
capazes de desafiar as circunstâncias; desafiarão as enfermidades físicas;
desafiarão a morte; desafiarão até as próprias hostes das trevas. Todavia, se
vocês não houverem cultivado essa disposição, serão assaltados pelo temor, em
face das dificuldades; e, se abrigarem o temor, cairão como presas fáceis
perante o inimigo. Ele lançará contra vocês exatamente aquilo que mais temem, e
assim vocês tornar-se-ão vulneráveis ante os seus assédios, visto que a mente
de vocês não estará sendo salvaguardada pela determinação de sofrer na carne,
tal como Cristo também sofreu. Estamos preparados para dizer-Lhe:
"Compelido pelo Teu amor e pela Tua graça que me confere poder, entrego-me
ao Teu serviço, quaisquer que forem as conseqüências?" O crente não deve
convidar as tribulações, nem sair em busca delas; porém, se elas se
atravessarem em seu caminho, ele deve enfrentá-las com a mente já resolvida a
suportá-las galhardamente, por amor ao Senhor. Por exemplo, se vocês forem
pessoas fisicamente débeis, naturalmente necessitarão de um leito mais
confortável do que o precisaria uma pessoa vigorosa; mas, se ao se lançarem na
obra do Senhor, fixarem a mente no ponto que precisam de uma cama mais
confortável, tornar-se-ão mais vulneráveis ao inimigo nesse particular. Por
outro lado, se vocês estiverem mentalmente preparados para sofrer por causa de
Cristo, e então o Senhor lhes prover um leito confortável, não haverá mérito
algum em evitar o leito para tornarem mais áspera a sua existência, dormindo
no chão. Não imaginem que os crentes que vivem em circunstâncias mais
desfavoráveis sejam, automaticamente, capazes de suportar com mais facilidade
as dificuldades do que aqueles que vivem em condições mais favoráveis. Somente
aqueles que, não importando as suas circunstâncias externas — favoráveis ou
desfavoráveis — se têm entregue ao Senhor e se têm armado da disposição mental
de sofrer, é que serão capazes de se manter firmes no dia da provação. Um
irmão acostumado ao conforto, mas que tenha tido uma transação definida com o
Senhor e se tenha disposto ao sofrimento por causa Dele, terá muito maior poder
para suportar o sofrimento do que qualquer outro irmão, acostumado às
privações, mas que não se tenha armado de tal disposição.
Se essa questão não for deliberadamente resolvida, a fraqueza
de vocês será fatalmente descoberta um dia, e nesse dia vocês sentirão pena de
si mesmos. De certa feita, uma irmã, que vinha servindo ao Senhor durante anos,
veio falar com uma outra irmã, a qual derramava copiosas lágrimas de
auto-compaixão, e lhe perguntou: "Por qual razão você está derramando
essas lágrimas? " Muitos crentes que parecem dotados de certa medida de
tolerância, fracassam quando se confrontam com um teste crucial, visto não
terem usado da precaução de se armarem, conforme Deus recomenda em Sua Palavra,
e assim, na hora em que são achados em falta, seu orgulho fica ferido e as
lágrimas de auto-compaixão começam a correr.
Levanta-se, mui naturalmente, a
pergunta: Até que ponto deveríamos estar preparados para sofrer? "Sê fiel
até à morte", responde-nos a Palavra de Deus (ver Apocalipse 2.10). Alguns
dizem que há o perigo de nos tornarmos extremistas. E assim é, realmente; mas,
se vocês se têm armado da disposição mental para o sofrimento, não estarão
sempre tentando conservar o meio termo feliz. Poderão, com toda a segurança,
deixar a questão de preservar o equilíbrio, se estiverem no perigo de perdê-lo,
nas mãos do Senhor e de Sua Igreja.
O que lhes cabe é entregar a vida a Ele, chegando a padecer
até à morte, se Ele assim o exigir; e Ele, por Sua vez, haverá de resguardá-los
de caírem em extremismos. Se vocês vivem sempre pensando sobre até onde devem
prosseguir nessa questão do sofrimento, nunca irão muito longe; serão apanhados
no ardil de permitir que a obra sofra, a fim de preservarem a própria vida. A
disposição mental para o sofrimento não é uma idéia diluída; mas é uma
determinação viril que nos capacita a dizer ao Senhor: "Sim, Senhor, até à
morte. Minha vida está à Tua disposição, para que faças dela o que melhor Te
parecer". Deus precisa de servos que queiram tratar a sério com Ele, que
não hesitem em desistir de tudo, até da própria vida, por Sua causa. Abandonemos
todos os nossos cálculos cautelosos e aquele temor deformante de cair em
extremismos, e transacionemos com o Senhor com a disposição de servi-Lo a qualquer
preço, mesmo que isso signifique a própria morte.
Está registrado, em Apocalipse
12.11, a respeito dos vencedores: "Eles, pois, o venceram por causa do
sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em
face da morte, não amaram a própria vida". Se vocês cumprirem essas
condições, os assaltos desfechados por Satanás contra vocês serão fúteis. Ele
se tornará incapaz de vencer a qualquer crente que não busque preservar a
própria vida. Satanás zombou da idéia que Jó poderia servir a Deus sem ser
impulsionado por qualquer desejo de auto-preservação, e por essa razão, disse
ao Senhor: "Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Estende, porém, a
tua mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra ti na
tua face!" (Jó 2.4,5). Satanás sabia que poderia vencer a Jó se este
estivesse dominado pelo mais leve interesse próprio, e, por esse motivo,
pleiteou pela permissão de sujeitá-lo a um teste. O registro do livro de Jó,
semelhante àquele que se encontra no livro de Apocalipse, demonstra a
impotência de Satanás para vencer àqueles que não dão a menor importância às
suas próprias vidas. Há um limite para os nossos sofrimentos, mas não pode
haver limite para a nossa disposição de sofrer. Se, nesse particular, impusermos
qualquer limite, Satanás, mais cedo ou mais tarde, nos conseguirá derrotar.
Gostaria de perguntar: O que importa é a preservação das
nossas vidas ou é a preservação da obra do Senhor? O que tem importância é a
salvação de almas ou é a preservação das nossas vidas? O que é de maior
importância, salvaguardar os nossos interesses pessoais, ou salvaguardar o
testemunho do Senhor na terra?
Oxalá pudéssemos, todos juntos e
cada qual em separado, sacudir de nós mesmos o amor próprio, correspondendo
afirmativamente ao Senhor segundo Ele nos fosse desafiando, a fim de servi-Lo
com exclusividade, visando unicamente os Seus interesses! Se nosso abandono em
Suas mãos for completo, então também poderemos experimentar as Suas bênçãos de
modo completo.
Leitura: Números 22.1-21; Mateus 6.24; II Pedro 2.15;
Judas 11;
Apocalipse 2.14; II Pedro 2.1-3; I
Timóteo 6.3-10 e II Coríntios 8.1-24.
Qual deveria ser a atitude do obreiro cristão para com as
questões de dinheiro? Trata-se de uma pergunta importantíssima, porquanto
aborda facetas tão importantes que, a menos que o crente tenha recebido luzes
claras a respeito, não poderá sair-se bem, pois nenhum obreiro cristão pode
evitar de tocar nas "riquezas".
Desde o próprio início precisamos
perceber claramente que as "riquezas" fazem oposição a Deus. Seus
servos, por conseguinte, devem manter-se perfeitamente alertas, a fim de que
não caiam debaixo de seu poder, porque, se elas chegarem a exercer qualquer
domínio sobre as suas vidas, tornar-se-ão incapazes de ajudar o povo de Deus a
resistir aos seus ataques insidiosos. Por causa dos problemas universais que se
levantam em conexão com o dinheiro, passaremos alguns momentos juntos, falando
acerca deles.
Em primeiro lugar, observemos a relação existente entre o
dinheiro e a conduta e o ensino ministrado pelo obreiro. No Antigo Testamento,
a história de Balaão e as suas relações com o povo de Deus, pode ser referida
como ilustração desse ponto, enquanto que no Novo Testamento encontramo-lo como
ilustração do mesmo problema. No livro de Apocalipse, lemos acerca da
"doutrina de Balaão". Balaão era um profeta que trabalhava em troca
de recompensas; comercializava o seu ministério profético. Balaque, rei de Moabe,
inclinava-se por destruir o povo terreno de Deus, e alugou os serviços desse
profeta, a fim de que os amaldiçoasse. Balaão, entretanto, não ignorava a mente
de Deus, e tinha perfeita consciência de que o povo do Senhor era um povo
bendito; e, além disso, Deus lhe dissera claramente que não poderia atender à
solicitação de Balaque. Todavia, a recompensa oferecida o atraía. Como lhe
seria possível obtê-la? Ele procuraria persuadir a Deus a reverter a
Sua decisão declarada. Deus de fato, chegou a dar-lhe a permissão de fazer
exatamente aquilo que anteriormente lhe proibira.
Algumas pessoas imaginam
erroneamente que esse episódio serve de ilustração sobre como se deve esperar
em Deus. Na realidade, Balaão jamais teria consultado a Deus se não fosse a
esperança do ganho; e quando o resultado de sua primeira consulta foi uma
recusa patente, obviamente não havia necessidade de uma segunda consulta.
Quando Deus, finalmente, permitiu que Balaão acompanhasse os príncipes enviados
por Balaque, isso não significava que Ele tivesse aprovado a missão de Balaão,
mas simplesmente serviu isso de demonstração que permitia que Balaão seguisse o
caminho que ele mesmo escolhera. Não pode haver dúvidas que Balaão foi um
profeta, mas ele permitiu que a sutil influência do dinheiro afetasse o seu
ministério e o desviasse para tão longe.
Todo obreiro cristão que ainda não
resolveu em sua vida a questão financeira, corre o perigo de se desviar em
busca das riquezas. Nesse caso, quando tiver de resolver onde deverá trabalhar,
certamente se deixará influenciar pelas considerações de dinheiro. Se não
contar com o apoio financeiro em seu lugar, certamente se dirigirá para outro.
Sendo obreiro cristão, naturalmente buscará orientação divina acerca de para
onde se deverá dirigir, mas a sua inclinação por certo penderá para o lugar
onde o sustento for garantido. Quando oramos ao Senhor, pedindo orientação,
nossa vida natural pode guiar-nos para que aceitemos lugares onde não haja
falta de fundos, dando escassa atenção aos distritos pobres ou às pessoas sem
recursos. Certa vez observou um idoso crente: "Quantos dos servos do
Senhor se regem pelas considerações financeiras! Vejam quantos distritos pobres
não contam sequer com um obreiro residente, ao passo que as áreas mais
privilegiadas não se ressentem da falta deles". Essas observações são
rudes, mas são tragicamente verdadeiras. Infelizmente, muitos obreiros cristãos
andam no "caminho de Balaão". Seus passos se dirigem na direção do
lucro, ao invés de se orientarem pela vontade de Deus, e, por isso mesmo,
quando passam pela forma usual de buscar a Sua confirmação para o caminho que
eles mesmos escolheram, o Senhor lhes diz: "Vão".
Todo autêntico servo de Deus deve ser homem completamente
livre da servidão ao dinheiro. "Ninguém pode servir a dois senhores... Não
podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6.24). Isso de buscar a orientação
de Deus quando, de fato, nos deixamos guiar pelas vantagens materiais, é uma
indignidade. Se o Deus a quem servimos é o Deus vivo, não podemos seguir com
confiança para onde Ele nos determinar? E se Ele não é o Deus vivo, por que não
desistimos de todas as tentativas de servi-Lo? Oh, que vergonhosa é a situação
de qualquer crente que, sob a capa de estar servindo a Cristo, na realidade
serve aos seus próprios interesses!
Pedro, referindo-se, em sua
segunda epístola, a certos indivíduos que palmilham pelo "caminho de
Balaão", escreveu: "...tendo coração exercitado na avareza...
abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão...
que amou o prêmio da injustiça" (2.15). Irmãos e irmãs. Deus descortinou à
nossa frente o "reto caminho", e devemos ter o cuidado de não nos
desviarmos dele, a fim de não tomarmos o "caminho de Balaão". Pedro
descreve as pessoas que andam por esse caminho como aqueles que têm o
"coração exercitado na avareza". O problema basilar está arraigado no
coração. Quando se desenvolveu secretamente no coração o hábito da avareza,
então a mão se estende após a recompensa, e os pés começam a desviar-se do
caminho do Senhor. No caso de Balaão, não aconteceu tudo num único momento, e
não havia, no princípio, qualquer indicação acerca da sua dificuldade. Mesmo
depois de seu coração haver-se "exercitado na avareza", o desvio no
íntimo, para longe do Senhor, se disfarçou sob a forma exterior da consulta a
Ele. A Palavra de Deus informa-nos que Balaão "amou o prêmio da
injustiça". Ele se apegou aos presentes que lhe foram oferecidos, e o seu
coração já estava apegado a eles quando disse aos príncipes que não poderia
aceitá-los sem primeiro saber qual era a vontade divina; não obstante,
prometeu: "E vos trarei a resposta, como o Senhor me falar" (Números
22.8). Quão espirituais soavam aquelas palavras! Porém, o coração de Balaão
estava "exercitado na avareza", pelo que quando Deus lhe recusou a
permissão de fazer aquilo que o levaria a receber o cobiçado prêmio, ele
encobriu a sua avareza com uma fraseologia pia, ao falar com os emissários de
Balaque, e então tornou a fingir espiritualidade, ao consultar novamente a
Deus. Balaão adquiriu o que desejava, mas com que horrendo sucesso! O hábito
mau que ele vinha cultivando cresceu e se tornou num caminho aberto — o
"caminho de Balaão".
Irmãos e irmãs, podem vocês acompanhar a senda da cobiça? A
menos que a graça de Deus nos capacite a corrigir essa perigosa condição no
íntimo, cada vez mais nos aproximaremos da sutil escravidão às riquezas, até
sermos, finalmente, engolfados em seu poder.
Judas, escrevendo a respeito de
certos indivíduos que se tinham desviado, diz sobre eles que, "movidos de
ganância, se precipitaram no erro de Balaão". Essa qualidade de gente em
nossos dias não somente anda por esse caminho, mas, na realidade, precipita-se
pelo mesmo, e esse é o caminho do "erro".
No livro de Apocalipse, João escreve a uma das sete igrejas
nos termos seguintes: "Tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o
qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para
comerem cousas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição"
(2.14). Por essa passagem compreendemos que existe não só um "caminho de
Balaão", mas que também existe a "doutrina de Balaão".O coração
que abriga pensamentos cobiçosos não aceita a correção, e assim o desejo de
lucro se transforma num hábito fixo; e o hábito oculto dentro em pouco termina
por expressar-se externamente; e assim o caminho se vai tornando cada vez mais
definido, até que se desenvolve na forma de uma doutrina formulada.
A Palavra de Deus não se cansa de
falar sobre a espantosa destruição desfechada pela cobiça. Quando Pedro falava
sobre o "caminho de Balaão', referia-se, principalmente, aos falsos
mestres; e então advertiu os seus leitores com estas palavras: "Assim
também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente
heresias destruidoras... movidos por avareza, farão comércio de vós" (II
Pedro 2.1-3). Note-se que quando os pensamentos gananciosos são abrigados em
nossos corações, eles pervertem nosso próprio ensinamento. Então, se a nossa
audiência se compuser de pessoas menos privilegiadas, nosso ensino assumirá um
certo aspecto, mas se a nossa audiência for de pessoas mais bem situadas na
vida, adaptaremos nosso estilo e nossos temas e as aliciaremos. Portanto, se
descobrirmos que pensamentos interesseiros têm qualquer poder para influenciar
os nossos movimentos ou as nossas palavras, devemos humilhar-nos contritos
perante o Senhor, buscando a Sua misericórdia, porquanto trata-se de uma questão
solene.
Escrevendo a Timóteo, Paulo também tece comentários sobre os
perigos da cobiça. Em sua primeira epístola, ele observa: "Se alguém
ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus
Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem
mania por questões e contendas de palavras... supondo que a piedade é fonte de
lucro" (6.3-5). Como aqueles falsos mestres eram totalmente diferentes de
Paulo! Quão intensamente ele se desgastava a si mesmo e aos seus recursos, por
amor ao evangelho! Poderia haver coisa mais vil do que alguém lançar-se à obra
cristã tendo em mira o lucro? Mas nós, à semelhança dos demais, fatalmente
seremos vitimados por essa tentação, a não ser que enfrentemos corajosamente a
questão e a resolvamos de uma vez para sempre, tomando a resolução de que nunca
olharemos para nosso trabalho como um meio de vida. Rejeitemos o pensamento que
julga que "a piedade é fonte de lucro"; mas consolemo-nos com a certeza
de que "grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento"
(versículo 6). E entesouremos no coração as palavras que Paulo escreveu em
seguida, na sua epístola a Timóteo — "Porque nada temos trazido para o
mundo, nem cousa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos
vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e
cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os
males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores" (versículos 7-10).
Voltando-nos agora da Palavra do
Senhor proferida por meio de Seus servos para as palavras ditas diretamente
pelo Senhor, lemos no nono capítulo do evangelho de Lucas que Ele enviou os
doze, ao passo que o capítulo seguinte registra o envio dos setenta discípulos.
Em ambos os casos foram baixadas instruções específicas aos discípulos, a
respeito do equipamento deles, e, em ambas as ocasiões, essas instruções foram
vasadas em termos negativos. Dirigindo-se aos doze, disse Ele: "Nada
leveis para o caminho, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem
deveis ter duas túnicas" (9.3). Menores detalhes foram dados quando da
comissão dos setenta, mas o princípio orientador foi idêntico: "Não leveis
bolsa, nem alforje, nem sandálias" (10.4). Em ambos os casos, a ênfase
foi a mesma, isto é, que quando o Senhor comissiona aos Seus servos eles não
deveriam deixar qualquer coisa material entrar em seus cálculos.
Posteriormente, o Senhor interrogou os Seus discípulos a
respeito da experiência que tinham tido quando saíram por ordem Sua
—"Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos porventura
alguma cousa? Nada, disseram eles" (Lucas 22.35). No entanto, observemos
agora a seqüência imediata.
"Então lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a,
como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre
uma". As circunstâncias se haviam alterado naquele intervalo de tempo.
Chegara a noite em que o Senhor seria traído. Enquanto o caminho permanecia
aberto para que os discípulos se movessem livremente de lugar para lugar, as
instruções foram peremptórias: "Nada leveis para o caminho"; não
obstante, o Senhor legisla de conformidade com as circunstâncias, e, segundo
estas, os discípulos agora necessitavam de um mais completo equipamento.
Para que alguém seja um eficiente
pregador do evangelho, cumpre que seja compelido por uma paixão que elimine
todos os demais interesses. O verdadeiro pregador das boas novas não sente
ansiedade acerca da jornada, nem teme pela recepção de que será alvo no fim da
jornada, porquanto, juntamente com a sua comissão, recebeu instruções claras a
respeito de ambas as coisas. Quanto à jornada, as ordens que recebeu foram —
"Nada leveis para o caminho"; e quando chegar ao seu destino, ele já
conta com ordens igualmente explícitas — "Ao entrardes numa casa, dizei
antes de tudo: Paz seja nesta casa!" (Lucas 10.5). Que beleza! Todo obreiro
cristão deveria ser um mensageiro da paz; todo obreiro cristão deveria exaltar
o seu ofício. Talvez sejamos pobres, mas jamais deveremos perder a dignidade
de nosso chamamento. Mas, e se as pessoas a quem nos dirigimos se recusarem a
receber-nos? O Senhor antecipou essa questão e lhe deu resposta em Lucas 9.5
-"E onde quer que não vos receberem, ao sair daquela cidade, sacudi o pó
dos vossos pés em testemunho contra eles". Estão percebendo nessas
palavras a dignidade dos servos do Senhor? Não há qualquer vislumbre de auto-compaixão
devido à má acolhida de que forem vítimas; não há introspecção, não há
perguntas em tom de dúvida quanto à orientação recebida; nada há de negativo ou
de fraco. Pelo contrário, os servos do Senhor são fortes e cheios de dignidade,
porquanto nada neles é excuso.
Vamos aproveitar algo mais a esse respeito, enquanto notamos
as instruções dadas pelo Senhor aos discípulos, quando multiplicou pães para a
multidão. Numa das multiplicações de pães Ele estivera ensinando uma audiência
de cinco mil homens, sem incluir mulheres e crianças. Quase no fim do dia os
discípulos sugeriram que, visto estarem num local desértico, seria conveniente
despedir as multidões para que pudessem comprar alimentos pelas aldeias.
"Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se, dai-lhes vós mesmos de
comer" (Mateus 14.16). Um dos discípulos ficou bastante alarmado ante a
possibilidade de ter de arranjar alimentos para tanta gente, e protestou que
seria mister uma considerável soma de dinheiro para comprar o suficiente para
que cada pessoa recebesse ao menos uma migalha; e. em face disso, o Senhor
perguntou quanto alimento tinham realmente à mão. Foram capazes de localizar
cinco pães e dois peixinhos, que Lhe foram trazidos, e, devido à Sua bênção
sobre tão escasso suprimento, houve tanta abundância que todos se fartaram e
ainda sobrou muito.
Por intermédio desse milagre,
Cristo demonstrou para os Seus discípulos que a sabedoria do mundo não deve
vigorar quando se trata de Seu serviço. Por mais escassos que sejam os recursos
que tivermos à mão, devemos estar preparados para dar, dar e dar. As pessoas
que sempre se deixam influenciar pelas considerações financeiras são escravas
das riquezas, e não servas de Deus. Porém, leva tempo aprender essa lição. Os
discípulos não a aprenderam imediatamente, razão por que, apôs a miraculosa
multiplicação dos pães para os cinco mil homens, o Senhor os pôs novamente em
circunstâncias similares. Nessa outra oportunidade, uma multidão de cerca de
quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças, haviam-No seguido pelo
espaço de três dias, quando então Ele disse: "Tenho compaixão desta gente,
porque há três dias que permanecem comigo e não têm o que comer; e não quero
despedi-la em jejum, para que não desfaleçam pelo caminho" (Mateus 15.32).
Era óbvio que os doze ainda não haviam aprendido essa lição, porquanto dessa
vez a sua reação foi idêntica à da ocasião anterior - "Onde haverá neste
deserto tantos pães para fartar tão grande multidão?" Agora, como na vez
anterior, eles raciocinavam à base das circunstâncias prevalentes e da falta
de suprimentos para satisfazer à demanda. Novamente, entretanto, o Senhor
simplesmente indagou de quanto dispunham; e quando Lhe apresentaram sete pães,
por causa de Sua bênção teve lugar outro milagre, e outra multidão comeu até
fartar-se, e ainda sobrou muita coisa.
Por ocasião do Pentecostes, os discípulos viram-se a braços
com multidões de almas em necessidade espiritual; mas já haviam aprendido a
sua lição e, contando com os recursos divinos, se tornaram ministros da vida
eterna, certa ocasião, para nada menos de três mil almas, e, posteriormente,
para nada menos de cinco mil pessoas. (Ver Atos 2.41 e 4.4). Foi mediante a
disciplina que os discípulos se transformaram em homens capazes de estar à
altura da necessidade do Senhor, e não será sem disciplina que nós, igualmente,
ficaremos equipados para servi-Lo. Poderemos ser tão frugais quanto quisermos,
quando os nossos negócios particulares estiverem em pauta, mas não devemos
tentar ser mesquinhos no serviço do Senhor, pois isso Lhe tirará a oportunidade
de operar prodígios em favor das multidões. Nosso intuito de frugalidade tão só
impedirá Seus propósitos e empobrecerá nossas vidas. Precisamos nos submeter
ao treinamento Daquele que treinou aos doze, como igualmente aos setenta
discípulos; embora mesmo debaixo de Suas instruções um dos doze não tivesse
sido qualificado para o serviço e tivesse de ser rejeitado como um ladrão.
Judas chegou ao extremo de observar Maria, que ungia ao Senhor com um perfume
preciosíssimo, para então calcular friamente quanto dinheiro poderia ter sido
dado aos pobres, se o ungüento houvesse sido vendido e o apurado fosse entregue
aos seus cuidados. Judas só podia ver um desperdício sem propósito naquela
liberal expressão de amor de Maria pelo Senhor; mas Jesus valorizou a ação,
reputando-a de grande valor para Ele mesmo. "Ela praticou boa ação para
comigo", disse Ele; e ajuntou a declaração que por onde quer que o
evangelho fosse anunciado, essa pura expressão do poder do evangelho também
seria propalada. (Ver João 12.1-8 e Mateus 26.10-13). Quanto a Judas, que tinha
um senso de valores tão pervertido, acabou vendendo o Senhor por trinta moedas
de prata.
Não, não precisamos ter receio de extravagâncias, se é no
Senhor que estamos vertendo o nosso amor e os nossos recursos. Algumas pessoas
temem de tal modo ir a extremos que desde o começo de sua vida cristã podem
calcular exatamente com quanto devem contribuir regularmente. Se, no primeiro
arroubo de nosso amor pelo Salvador podemos mostrar-nos tão calculistas, como
não o seremos quando o ardor de nossa afeição se tiver arrefecido?
Que imenso contraste entre Pedro e
Judas Iscariotes! Judas era o tesoureiro dos apóstolos e, ao mesmo tempo que
administrava os fundos comuns, se apropriava de uma parte do dinheiro para o
seu uso pessoal. Pedro bem poderia ter melhorado a sua condição financeira
numa época em que um grande número de pessoas estava sendo salvo e vendia as
suas possessões para contribuir para o tesouro comum dos crentes. No entanto,
notemos o que ele disse ao aleijado que esmolava à porta do templo — "Não
possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, anda!" (Atos 3.5,6). Dediquemo-nos honestamente em
algum empreendimento secular se quisermos examinar o nosso aprimoramento
financeiro; porém, se quisermos servir ao Senhor, deixemos resolvido para
sempre que a nossa preocupação consiste da promoção do evangelho, e que não
gira em torno de nosso proveito próprio.
Examinemos de passagem a vida de Paulo e observemos a sua
atitude para com o dinheiro. Escutem a sua defesa, enquanto falava aos anciãos
de Éfeso: "De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos
sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que
estavam comigo" (Atos 20.33,34). Ao escrever aos crentes de Corinto,
fez-lhes esta pergunta: "Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de
viver humildemente, para que fosseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos
anunciei o evangelho de Deus? " (II Coríntios 11.7). E perante estes, tal
como fizera perante os crentes efésios, ele apresentou a sua defesa: "E,
estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os
irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e em tudo me
guardei, e me guardarei, de vos ser pesado. A verdade de Cristo está em mim;
por isso não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia. Por que razão? É
por que não vos amo? Deus o sabe. Mas o que faço, e farei, é para cortar
ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós,
naquilo em que se gloriam" (versículos 9-12). Paulo não adotara uma
atitude independente; estava disposto a aceitar ajuda financeira, conforme essa
própria passagem o demonstra; mas, mesmo em um período em que passava
necessidades, nada quis receber dos crentes de Corinto, porquanto, se o
fizesse, não poderia fazê-lo visando aos interesses do evangelho naquela
localidade. Pois na região inteira da Acaia havia pessoas que procuravam
desacreditar o seu ministério, e ele estava resolvido a não dar lugar a
qualquer dúvida atinente ao seu caráter. Será que ele não aceitava qualquer
sustento da parte deles porque pouco os amava? Ele responde à sua própria
indagação — "Deus o sabe". Paulo estava cônscio da dignidade de seu
ofício, e a resguardava ciosamente. Dele aprendemos a atitude de rejeitar
quaisquer dádivas que possam lançar na dúvida o caráter de nosso ministério.
Quão constrangido se sentia Paulo
a pregar o evangelho! Ele não podia fazer outra coisa, mesmo que para isso
tivesse de trabalhar horas extras, em algum negócio, a fim de que não se
transformasse numa carga para outros; e não somente provia para as suas
necessidades pessoais, como também para as de seus companheiros. Seu agudo
senso de responsabilidade jamais o deixou satisfeito por possuir o suficiente
para si mesmo. Ficamos muito aquém do que deveríamos ser, como obreiros
cristãos, se só podemos exercer fé no tocante à satisfação das nossas próprias
necessidades, mas a nossa fé não abarcar igualmente as necessidades alheias.
Geralmente pensamos que, à semelhança dos levitas, temos o direito de esperar
que o povo de Deus nos ofereça os seus dízimos; entretanto, inclinamo-nos por
olvidar que os levitas, por sua vez, estavam na obrigação de oferecer os seus
dízimos. Os obreiros cristãos de tempo integral correm o perigo de se tornarem
tão obcecados, pelo muito do que têm deixado, que sempre esperam apenas
receber, perdendo de vista, por completo, sua responsabilidade e seu privilégio
de contribuir, essa atitude é fatal para o progresso espiritual do obreiro,
pois todo crente, sem importar quão exígua seja a sua renda, sempre deve ser um
contribuinte. Se sempre receberem, sem jamais contribuírem, serão conduzidos à estagnação.
E se não desempenharmos qualquer responsabilidade financeira para com os
outros, Deus nos confiará pouco. Em sua segunda epístola aos Coríntios, Paulo
se utiliza da seguinte expressão: "...pobres, mas enriquecendo a
muitos" (6.10). Sim, aquele homem conhecia o seu Deus! Não importava quão
profunda fosse a sua própria necessidade, ele estava sempre preocupado com o
enriquecimento de outras vidas, e o que é mais admirável é que sempre se
mantinha em posição de enriquecê-las.
Irmãos e irmãs, se em qualquer lugar o caráter do ministério
que lhes foi confiado for posto em dúvida, então, visando à honra do
ministério, não ousem aceitar sustento. Cumpre-lhes deixar a sua posição
perfeitamente clara; mas, mesmo depois de rejeitar sustento, não se devem
esquecer de sua obrigação para com o próximo. Se tiverem a esperança de
aumentar os seus rendimentos, então aumentem as suas contribuições. A
experiência de muitos dos filhos do Senhor confirma as Suas próprias palavras
-"Dai, e dar-se-vos-á" (Lucas 6.38). Essa é uma lei divina, e só
podemos violá-la com prejuízo próprio. O crente gere os seus negócios sobre
bases diametralmente opostas do que o faz o incrédulo. Este último poupa a fim
de enriquecer; mas o crente se enriquece quando dá. Quiçá o crente não possa
aumentar a sua conta bancária com contribuições, mas desse modo é capaz de ir
aumentando cada vez mais a sua participação na experiência de Paulo
"pobres, mas enriquecendo a muitos".
Quase ao encerrar a sua segunda
epístola aos coríntios, ao escrever-lhes sobre a sua esperança de visitá-los
dentro em breve, Paulo declara: "Eis que pela terceira vez estou pronto a
ir ter convosco, e não vos serei pesado; pois não vou atrás dos vossos bens,
mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os
pais para os filhos" (12.14). Observem com quanta freqüência Paulo se
refere à sua atitude para com as questões financeiras em suas epístolas aos
crentes de Corinto, mas sempre que fala sobre a sua própria atitude, aproveita
a oportunidade para instruí-los; doutro modo, bem poderiam ter imaginado que
ele adotava uma atitude independente, por haver ficado ofendido com as críticas
assacadas contra ele e contra o seu ministério. Embora as circunstâncias
especiais em que Paulo fora colocado fizesse necessário que se abstivesse de
receber ajuda financeira da parte dos coríntios, era ele tão franco e tão
liberto que pôde encorajá-los a enviarem ajuda para os santos necessitados de
Jerusalém, e, igualmente, pôde jactar-se da liberalidade dos coríntios perante
as igrejas da Macedônia. Pessoalmente, Paulo não precisava do dinheiro deles,
mas esse dinheiro era necessário em outros lugares, e Paulo desejava que
contribuíssem abundantemente para o próprio enriquecimento deles, e também para
o enriquecimento de outros crentes.
Gostaria de perguntar se, enquanto vocês se locomovem entre
os filhos do Senhor, à semelhança de Paulo, sempre podem estabelecer a
diferença entre "vós" e o que "é vosso". Em todas as suas
relações com eles, vocês estão visando a "eles" ou ao que "é
deles"? Se eles olham para vocês com desconfiança e negam-lhes o que
"é deles", podem vocês ainda dar, sem reservas, daquilo que lhes
pertence, ou, pelo contrário, o desejo que vocês têm em ministrar a eles
desaparece quando, da parte deles, não há qualquer estímulo em forma de
vantagem financeira? De conformidade com o ponto de vista natural, Paulo teria
sobejas razões para abandonar aos coríntios, mas não podia deixá-los sozinhos,
e agora, pela terceira vez, planejava visitá-los. Ele rejeitava o que "era
deles", mas continuava desejando a "eles" mesmos, E quão
autêntica era essa sua atitude transparece crescentemente enquanto ele abria o
seu coração para eles, em suas cartas. A seqüência da passagem que citamos dá
prosseguimento aos mesmos sentimentos: "Eu de boa vontade me gastarei e
ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas. Se mais vos amo, serei menos
amado? Pois seja assim, eu não vos fui pesado; porém, sendo astuto, vos prendi
com dolo. Porventura vos explorei por intermédio de alguns daqueles que vos
enviei? Roguei a Tito, e enviei com ele o irmão; porventura Tito vos explorou?
Acaso não temos andado no mesmo espírito? não seguimos nas mesmas pisadas? (II
Coríntios 12.15-18). Vejam a atitude do coração de Paulo nessas palavras! Como
ele se derramou em favor dos crentes de Corinto! E como derramou de seus
recursos, por semelhante modo! Seremos indignos de nosso alto chamamento como
pregadores do evangelho se não pudermos investir tudo quanto somos e tudo
quanto temos nessa atividade.
Por outra parte, notemos que Paulo
aceitou o auxílio financeiro enviado da Macedônia, pois, sob circunstâncias
normais é correto que o obreiro cristão receba contribuições da parte de seus
irmãos na fé. Paulo não aceitava doações de modo indiscriminado, e também não
as rejeitava indiscriminadamente. Ele era dotado de percepção espiritual e,
caso as condições espirituais do doador fossem corretas, então Paulo se tornava
um grato recebedor. Nós, igualmente, deveríamos discernir entre aquilo que nos
compete aceitar e aquilo que nos convém rejeitar, livrando-nos da atitude por
demais generalizada de aceitar todas as dádivas que nos são oferecidas.
Passemos agora a considerar a epístola de Paulo aos
Filipenses, a fim de determinarmos sua atitude ao receber ofertas daqueles
santos. Eis como ele lhes escreve: "E sabeis também vós, ó filipenses, que
no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou
comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até
para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as
minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me
interessa é o fruto que aumente o vosso crédito" (4.15-17). Paulo
referiu-se com gratidão à oferenda da igreja de Filipos; porém, ao fazê-lo,
declarou que a sua principal alegria por haver recebido o donativo consistia,
não do enriquecimento que isso lhe trouxera, mas do enriquecimento dos
próprios doadores; e ato contínuo adicionou esta observação: "Recebi tudo,
e tenho abundância". Que contraste faz isso com as usuais cartas de
agradecimento pelas dádivas recebidas! Mui geralmente tais cartas salientam
quão grande é a necessidade que ainda resta satisfazer, com a intenção,
consciente ou inconsciente, de estimular novo ato de generosidade. Leiamos uma
vez mais as palavras de Paulo e as tornemos nossas: "Recebi tudo, e tenho
abundância". Aqui não há a mais leve indicação de necessidade. Pelo
contrário, há tudo para deixar a impressão de total satisfação. Que puro
espírito aprimorado era o de Paulo! Quão livre era ele da servidão às riquezas!
Entretanto, vamos prosseguir na
leitura: "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em
Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades". Paulo exprime agradecimento
por toda a ajuda material que lhe chegara às mãos através dos santos de
Filipos, mas jamais perde de vista a dignidade do seu ofício. No tocante à
dignidade espiritual ele nada sacrifica, nem mesmo quando reconhece a sua
dívida de gratidão para com eles. Paulo não se deixava prender às doações que
lhe eram oferecidas. Expressava voluntariamente a sua gratidão, mas deixava
patente que reconhecia que tais dádivas eram feitas a Deus - "como aroma
suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus". Não obstante, visto
ser participante da oferta que faziam a Deus, agora proferia uma bênção que
ultrapassa a todos os donativos dos filipenses, dizendo - "E o meu Deus,
segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de
vossas necessidades". Quão rico era Paulo! E quanta abundância ele
extravasava sobre os outros! Que nos possamos aliar à singeleza de coração
desse homem, dizendo então, conforme ele acrescentou: "Ora, a nosso Deus e
Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém".
Finalmente, verifiquemos qual a atitude de Paulo em relação
aos fundos da congregação. Em 11 Coríntios 8.1-4, escreve ele: "Também,
irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus, concedida às igrejas da Macedônia;
porque no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de
alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua
generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo
acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça
de participarem da assistência aos santos".
Tendo sabido da fome em Jerusalém,
Paulo informara aos irmãos da Macedônia acerca da necessidade que havia ali.
Embora os próprios macedônios estivessem em apertura financeira, ficaram tão
comovidos com essa notícia que se negaram a satisfazer às suas próprias
necessidades, a fim de enviarem alívio para os seus irmãos, e, movidos de
júbilo, enviaram doações acima do que as suas posses lhes permitiam. Tais
dádivas por certo não foram feitas sob a obrigação do dever, pois lemos que
rogaram fervorosamente ao apóstolo que se lhes fosse permitido ministrar para
as necessidades dos santos de Jerusalém. Estavam tão autenticamente vinculados
pela mesma vida aos seus irmãos na fé que a sua consciência predominante não
dizia respeito à sua própria necessidade imediata, e, sim, à necessidade de
membros distantes do Corpo de Cristo. O fato que haviam implorado esse favor,
mostra-nos que o apóstolo hesitara em encorajá-los em sua auto-negação, visto
que a necessidade deles era tão aguda; mas a importunação deles venceu toda
relutância de Paulo. A atitude dos macedônios foi digna de encômios, como
também o foi a atitude de Paulo. Achando-se em posição de responsabilidade,
Paulo não ousava ignorar a necessidade dos irmãos locais, em sua ânsia de
aliviar irmãos de outras paragens; mas os macedônios se sentiam tão libertos do
senso de sua própria necessidade e tão autenticamente preocupados pela
necessidade dos irmãos que Paulo não pôde deixar de reconhecer a ação de uma
vida coletiva, e assim lhes concedeu o pedido. Que belo quadro sobre a relação
entre um servo de Deus e aqueles a quem ele busca servir! Nós, que nos chamamos
de obreiros cristãos, não devemos saltar de alegria à primeira visão de
dinheiro oferecido pelos santos para as nossas próprias necessidades ou para as
necessidades de outros, mas antes devemos considerar bem as circunstâncias dos
doadores, a fim de que, em seus cuidados pelos seus irmãos na fé, não cheguem
ao ponto extremo de se privarem daquilo de que precisam.
Tendo dado sua aprovação à contribuição dos santos de Corinto
aos santos que se achavam em Jerusalém, agora Paulo os orientava na coleta dos
donativos e no envio dos mesmos até seus destinatários. Novamente, podemos
aproveitar da mesma epístola aos Coríntios: "Mas, graças a Deus",
escreve ele, "que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de
vós... e, mostrando-se mais cuidadoso, partiu voluntariamente para vós outros.
E com ele enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as
igrejas. E não só isto, mas foi também eleito pelas igrejas para ser nosso
companheiro no desempenho desta graça, ministrada por nós, para a glória do
próprio Senhor...evitando assim que alguém nos acuse em face desta generosa
dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é procedermos
honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens. Com eles
enviamos nosso irmão, cujo zelo em muitas ocasiões e de muitos modos temos
experimentado" (8.16-22). Notem quão cauteloso foi Paulo em todo esse
negócio. Já perceberam como ele não manuseou pessoalmente o dinheiro? Tito é
quem recebeu a responsabilidade de fazer a coleta. E dois outros irmãos
altamente reputados foram nomeados para acompanhá-lo - "o irmão cujo
louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas" e o irmão
"cujo zelo em muitas ocasiões e de muitos modos temos experimentado".
A administração das finanças da igreja nunca deve ser deixada ao encargo de uma
única pessoa; sempre deveria ser manuseada conjuntamente, ao menos por duas ou
três pessoas.
Devido à necessidade de se exercer
cuidado extremo no tocante às questões de dinheiro, Paulo, escrevendo tanto a
Timóteo quanto a Tito, declarou que nenhum indivíduo cobiçoso deveria ser
investido da posição de ancião em uma congregação local (ver I Timóteo 33 e
Tito 1.7). E, em I Timóteo 3.8, a mesma estipulação é apresentada quando o
apóstolo aborda o ofício dos diáconos. Ninguém está qualificado a ocupar uma
posição de responsabilidade na igreja se não sabe manusear fielmente o
dinheiro. Pedro frisa o mesmo ponto que Paulo: "Pastoreai o rebanho de
Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus
quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade" (I Pedro 5.2).
A cobiça é um problema que exige tratamento drástico,
porquanto, a menos que o solucionemos de maneira radical, cairemos em
dificuldades mais cedo ou mais tarde. Que pela graça de Deus possamos andar
corretamente em todas as nossas questões financeiras; e que possamos ser
capacitados a assumir responsabilidade perante Ele, não somente para
satisfação de todas as nossas próprias necessidades materiais, mas também para
satisfação, na medida de nossa capacidade, das necessidades de nossos
companheiros na fé.
Leitura: João 8.44; Mateus
12.19 e II Timóteo 2.24.
A absoluta lealdade à verdade é uma questão que deve receber prioridade na
vida de todo obreiro cristão. E possível, e de fato não acontece raramente, que
um obreiro modifica a verdade por estar sendo influenciado pelos homens, pelas
circunstâncias, ou pelos seus próprios desejos. A verdade é absoluta, e exige
lealdade inabalável da parte de todos os homens e em quaisquer circunstâncias.
Se necessário for, podemos sacrificar tudo quanto possuímos, mas não ousemos
sacrificar a verdade. Jamais devemos tentar incliná-la segundo os nossos
propósitos, mas nós mesmos nos devemos encurvar a ela.
Todos temos o pendor de ignorar a
verdade, quando ela entra em conflito com os nossos interesses pessoais. Se nos
encontramos em um dilema, ou se a calamidade atinge o círculo de nossa família,
ou se um amigo íntimo sofre alguma aflição, quão prontamente nos dispomos a
alterar as nossas convicções a fim de nos livrarmos de alguma situação
embaraçosa, ou a fim de salvar os nossos entes queridos de qualquer tribulação
que possa ser desviada se acomodarmos a verdade às circunstâncias do momento!
Por exemplo, o filho de um obreiro cristão expressa o seu
desejo de ser batizado. Se seu pai estiver determinado a sustentar a verdade,
entregará o seu filho ao escrutínio dos principais irmãos da igreja, conforme
faria com o filho de qualquer outra pessoa, deixando nas mãos deles a decisão
se o jovem está apto ou não para ser batizado; porém, visto que esse candidato
particular é o seu próprio filho, ele procura fazer certas modificações em seu
caso. Sua idéia fixa é que o seu filho seja batizado; pois não está resolvido a
sustentar a veracidade da Palavra de Deus. Se a sua preocupação primária
fosse exaltar a Palavra de Deus, livrar-se-ia de todo juízo antecipado no
tocante a seu filho, e sentir-se-ia perfeitamente receptivo para com a opinião
dos outros.
Consideremos uma outra ilustração.
Em certo lugar levanta-se uma controvérsia sobre pontos de doutrina. Certo
número de santos se dispõe favoravelmente em defesa de um obreiro particular e
alia-se a ele, ao mesmo tempo que outra porção dos membros demonstra
preferência por um outro obreiro, e lhe empresta o seu apoio. Nesse caso,
infelizmente, nenhuma das partes se entregou totalmente à verdade, porquanto
ambas transigiram alicerçados na afeição pessoal. Oh, quão insidiosamente as
nossas afeições influenciam as nossas decisões, de tal maneira que chegamos a
perverter a Palavra de Deus, em lugar de capitularmos diante dela.
O rigor da Palavra divina não deve ser rebaixado para que se
harmonize com os nossos padrões. Não podemos contemporizar com ela, nem mesmo
quando ela mostrar as nossas deficiências; compete-nos proclamá-la tal e qual
ela é - eternamente inalterável e invariavelmente transcendental em relação à
nossa compreensão e às nossas realizações. Cumpre-nos sustentá-la
permanentemente, até mesmo quando ela contradisser a nossa experiência ou
deixar estupefato o nosso intelecto. E, acima de tudo, devemos cuidar para que
não a exponhamos de uma maneira, quando ela afeta outras pessoas, para em
seguida suavizá-la, quando tiver de ser aplicada a nós mesmos, ou às nossas
respectivas famílias, ou aos nossos amigos. Aceitemos essa advertência, pois
existe aqui uma armadilha sutil.
Muitas dificuldades se multiplicam
nas igrejas porque os crentes sacrificam a verdade, não querendo sacrificar os
seus interesses pessoais. Um dos membros de certa igreja local deixou entendido
que não continuaria freqüentando os cultos porque algo sucedera na igreja a
respeito do que ele não fora notificado. Que percebera aquele irmão sobre a
natureza absoluta da verdade? Se fosse correto para ele descontinuar a sua
conexão com os outros irmãos, então mesmo que o tivessem notificado ele
estaria na obrigação de fazê-lo; e se não fosse legítimo para ele separar-se
deles, então não tinha qualquer direito de interromper a sua comunhão
baseando-se no fato que não fora informado sobre alguma questão da comunidade.
Se nos encontramos em uma associação que não está em harmonia com o propósito
revelado de Deus, nesse caso devemos abandonar tal posição; mas se, por outro
lado, a nossa posição está de conformidade com o Seu propósito mas nos envolve
em alguma dificuldade, não devemos reputar a verdade como uma bagatela, para em
seguida nos justificarmos de haver saído por causa de dificuldades. Quem somos
nós para insistir em que os nossos irmãos na fé mostrem deferência para
conosco? E quem somos nós para ousar pôr de lado a Palavra de Deus, somente
porque ela nos envolve em situações embaraçosas? Oh! somos por demais
presunçosos e ousados. Enquanto a nossa vida própria não for abafada, nunca
seremos autênticos servos de Deus. Devemos aprender a considerar a Sua Palavra
sem paixões, quer nos seja vantajosa quer não a sua aceitação. Se ao menos
pudéssemos perceber a verdadeira natureza da Palavra de Deus, não viveríamos a
obscurecer a sua glória, colocando-nos em primeiro plano. Salvemo-nos de nossa
presunção!
Utilizemo-nos de uma outra ilustração. Um irmão ouviu certa
congregação local ser acerbamente criticada por determinadas pessoas; porém,
mais tarde se uniu à mesma, e, em seus contactos com os crentes dali sempre se
expressava de modo favorável, embora nunca tivesse examinado honestamente a
situação, mas simplesmente sondava o seu caminho entre os irmãos e se mostrava
polido de modo geral. Passado algum tempo, um dos irmãos dali, percebendo a sua
condição espiritual e desejando ajudá-lo, tratou do caso honestamente com ele,
"falando a verdade em amor". Imediatamente ele se ressentiu do que
lhe foi dito e separou-se do grupo, espalhando toda sorte de maledicências
sobre o mesmo. A esse irmão faltava uma atitude fixa em referência à verdade e,
por essa razão, podia torcê-la sempre que ela afetava o seu bem estar pessoal.
Se houvesse inquirido honestamente a verdade e também se se tivesse dobrado
perante suas implicações, teria tomado uma atitude firme em relação ao grupo
desde o início, se a verdade assim o tivesse exigido; mas, se a verdade
requeresse que ele se identificasse com aqueles irmãos, nem mesmo a mais severa
correção pessoal poderia levá-lo a romper sua ligação com eles.
Apelando novamente para uma
ilustração. Certo obreiro cristão tinha o talento da liderança e se sentiu
inclinado a seguir determinado curso de ação; sendo ele um líder,
inevitavelmente outros crentes passaram a segui-lo pelo mesmo caminho. Se a
senda que aquele líder resolveu tomar era correta, não foi o fato de se ter
enveredado por ela que a tornava correta; e se era errada, o fato de tê-la
escolhido não a corrigia, não importando quão zeloso fosse ele como crente. Se,
em data posterior, aquele homem viesse a cair em um pecado, seu pecado não
tornaria errado o curso de ação que tomara. Tenham tolerância comigo se agora
repito que a verdade de Deus é absoluta, e que não é o fato que este ou aquele
a apóia que a torna assim: porquanto ela o é inerentemente. Entretanto, existe
certa tendência em nós que nos leva a fixar a vista nos homens e a concluir que
se alguém que julgamos ser pessoa espiritual segue por um determinado caminho,
que esse deve ser o caminho certo; e que se alguém que está em más condições
espirituais toma um curso de ação qualquer, que esse curso necessariamente está
errado. Vocês deixariam de ser crentes só porque certos crentes que conhecem
são tão deficientes? Repudiariam o cristianismo somente porque alguns crentes
caem em pecado? Não confiariam mais no Senhor, por causa do fracasso de alguém
que professa confiar Nele? Por certo que não. Se o Senhor é digno de confiança,
devemos continuar confiando Nele. A questão não gira em torno da reação dos
homens para com a verdade, mas gira em torno da própria verdade.
Alguns irmãos nos têm dito: "Como agradeço a Deus por
haver-me conduzido a estas reuniões locais! Tenho recebido aqui uma grande
ajuda espiritual". Não ficamos demasiadamente jubilosos com tais observações.
Pois elas não indicam que a natureza absoluta da verdade tenha sido reconhecida
por eles. Sempre haverá a possibilidade de que as pessoas que nos fazem tais
observações freqüentem os nossos cultos simplesmente por se sentirem atraídas
por eles. Mas, esperemos até que alguma coisa transpire e que isso não seja
aprovado por elas, e então veremos se elas não julgam a congregação de modo
inteiramente errôneo. Se um lugar está errado, está errado; se está certo, está
certo. Não é o fato que sou bem ou mal tratado ali que o torna certo ou errado.
A verdade deve ser o único fator determinante de todas as nossas associações;
mas, se assim tiver de ser, então este nosso ego que deforma os nossos juízos
deve ser abafado.
As numerosas divisões existentes
na Igreja e as muitas dissensões na obra seriam eliminadas se ao menos nossas
preferências pessoais pudessem ser eliminadas. Se simplesmente capitulássemos
perante a verdade, sem importar os seus efeitos sobre nós, não só seriam resolvidos
os problemas das igrejas e da obra em geral, mas até os nossos próprios
problemas chegariam ao fim. Naturalmente, nós, os crentes, jamais toleramos o
pensamento de abandonar a verdade; mas permitimos um leve desvio aqui e um
pequeno desvio acolá, e gradualmente a verdade deixa de produzir o seu impacto
sobre nós. O resultado disso é que acabamos perdendo o nosso senso de direção e
ficamos a vagar para um lado e para o outro. Se as pessoas nos tratam bem,
então andamos pelo caminho que Deus nos tiver mostrado, mas, se nos tratam mal,
então buscamos outro caminho. Quão importantes somos aos nossos próprios
olhos! Ocupamos o lugar que deveria ser ocupado pela verdade. Fazemos de nós
mesmos o eixo de todo o universo, e tudo o mais é posto a girar em relação a
nós.
Oh, irmãos e irmãs, o que importa é a verdade, e não o seu
efeito sobre minúsculas criaturas como vocês e eu. A verdade pode exigir de nós
que interrompamos a mais feliz das relações pessoais em troca de uma constante
associação com pessoas incompatíveis conosco. Pois não é a felicidade dominante
em nosso ambiente que prova que a nossa associação seja correta, nem é a
incompatibilidade natural com os nossos associados que mostra que essa ligação
é errada. Vamos estabelecer, de uma vez por todas, que a verdade é final e que
deve governar todas as nossas associações e todos os nossos pareceres. Nem
mesmo nos tribunais terrenos é permitido que as preferências pessoais de um
juiz influenciem os seus vereditos. Ele não pode obedecer aos ditames de seu
coração recusando-se a proferir a palavra "culpado" ao seu próprio
filho, se a lei tiver demonstrado a culpa deste; e não pode deixar de
pronunciar o seu inimigo "inocente", se a lei assim o exigir. A lei é
absoluta, e um juiz está na obrigação de submeter-se a ela.
Se, na qualidade de um corpo de
cooperadores na obra cristã, nos subordinássemos incondicionalmente à verdade,
quão rápida e suavemente seriam tomadas as nossas deliberações, e como a obra
seria próspera! Quando a nossa única consideração for a vontade do Senhor,
seremos poupados de muitas discussões infrutíferas, e com prontidão chegaremos
a conclusões claras; até chegarmos a esse ponto, entretanto, gastaremos longo
e precioso tempo a discutir as nossas opiniões individuais, e teremos que medir
as nossas palavras, apelando para a diplomacia, a fim de agradar a todos.
Estaremos sempre a pensar se o irmão fulano se ofenderia caso fizéssemos isto
ou aquilo, se o irmão sicrano se recusaria a cooperar se assumíssemos uma
atitude diferente, e quais concessões seriam necessárias para conciliar o irmão
beltrano. E ainda que as nossas cautelosas considerações sobre as opiniões uns
dos outros, e mesmo que os nossos constantes ajustamentos às convicções
alheias, nos salvassem de impasses, que teríamos ganho com isso, já que
transigimos com a verdade?
Se, em lugar de lisonjear uns aos outros e de traçar planos e
normas políticas capazes de preservar a paz entre nosso grupo de cooperadores
na obra cristã, cada qual aceitasse a verdade como algo final e se sujeitasse
humildemente a ela, então as bênçãos do Senhor seriam derramadas sobre a
associação inteira. Oxalá a nossa única preocupação fosse descobrir a vontade
de Deus para, simplesmente, fazermos aquilo que Ele nos diz!
Que seja essa a nossa mais séria
atividade. Não nos devemos esquecer, porém, que na obra do Senhor não há lugar
para nossas atividades egoísticas. Talvez sejamos compelidos por um autêntico
desejo de que a obra prospere, ao procurarmos exercer influência sobre outras
vidas; e é mesmo possível levá-las a aceitarem a verdade, mas o fim não
justifica os meios. A verdade é por demais grandiosa para exigir as nossas
manipulações. Bem podemos confiar em sua inerente autoridade para que produza o
seu devido impacto. A nós compete submeter-nos a ela, com humildade de coração.
***FIM***
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Pregação, tabernáculo, tabernáculo da adoração, mensagem, Jesus, apóstolos, livros, igreja, culto, jundiaí, pesquisa, Mésias, Cristo, tabernaculodaadoracaojundiai
COMO ATINGIRMOS O CORAÇÃO DE DEUS (IICr 7:14) “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Para Que Uma Pessoa, Uma Igreja, Uma Nação, Possa Receber As Bênçãos Das Mãos Do Deus E Necessário Atingir O Coração De Deus
Neste versículo aprenderemos como atingirmos o coração de Deus.
1º VOCÊ PRECISA SE HUMILHAR DIANTE DE DEUS
Um dos significados da palavra humilhar é: Submeter-se, render-se e prostrar-se
SE HUMILHAR é Submeter, é se por debaixo, é tornar dependente, é se sujeitar.
Então aquele que se humilha ele esta se colocando debaixo das mãos do Soberano,
Ele depende de Cristo para receber o perdão dos seus pecados.
SE HUMILHAR é se Render, mas se render do que:
Aos desejos e propósitos do Senhor Jesus em torna-lo cada vez mais puro e santo.
Aquele que se humilha, ele se torna dependente, ele se entrega a supremacia do Deus.
Ao tornar-se humilde está pessoa está submetendo a receber a graça e o perdão que nos levará a Deus.
SE HUMILHAR é se prostra, é se lançar aos pés daquele que tudo vê, tudo pode, tudo sabe.
É matar, deixar morrer, o desejo de vingança de orgulho, da carne.
Se humilhar, é reconhecer quem éramos no passado , e Deus nos deu uma nova vida.
A humilhação, faz toda a diferença na vida do cristão.
(Tg 4:10) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
(IPe 5:6) Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte
(Mt 23:12) “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. .
Para mexer no coração de Deus, a primeira coisa que você deve fazer é se humilhar. ORA COMIGO
Senhor eu reconheço os meus pecados, eu reconhece as minha falhas, eu reconhece os meus defeito os meus erros, eu quero Senhor, abrir meu coração, a minha alma tem sede de ti, eu desejo receber o seu perdão, eu quero ser perdoado por ti.
Vale a pena se humilhar, não pense duas vezes, pois aquele que se humilhar diante de Deus, alcançarão as bênçãos.
2º VOCÊ PRECISA TER UMA VIDA DE ORAÇÃO, POIS A ORAÇÃO E A CHAVE,
QUE ABRE O CORAÇÃO DE DEUS
(Lc 1:13a)Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida.
Zacarias, se ele não tivesse buscado ao Senhor, se ele não tivesse orado, ele não teria alcançado o coração de Deus, mas devido a sua insistência Deus ouviu a sua oração e respondeu ao seu clamor.
Portanto, você que está precisando de uma, benção urgente, de uma vitória, não perca mais tempo, levante um grande clamor, e começa a orar.
Busque ao Senhor em oração, as tuas orações subirão como cheiro suave e Deus se alegrará e responderá, pois a oração atinge o coração de Deus.
E quando o coração de Deus é atingindo, libera e derrama a benção e a unção da providência sobre a sua vida.
O que é Oração? É Conversar com Deus, é dialogar com o teu criador, a oração é uma busca de contato com Deus, a oração é o segredo para receber poder e autoridade, oração é a alavanca que move o cristão, a superar as dificuldades e renovar as suas força.
A oração é o oxigênio da nossa alma é ter comunhão com Deus, é a chave que abre as janelas do céu, Portanto, se você não gosta de orar,