domingo, 26 de agosto de 2012

Como crescer e se fortalecer na Fé


COMO CRESCER E SE FORTALECER NA FÉ
Mateus -17: 20 – E Jesus lhes disse: Por causa de vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.

Jesus fala de uma fé, de remover montes, operar milagres e curar todas as enfermidades, e realizar grandes maravilhas para Deus.

Não será para nos vangloriarmos diante dos homens.

MAS QUE FÉ É ESTA?

A fé genuína é uma fé eficaz que produz resultado:

Nada vos será impossível.

Esta fé não é uma crença na “fé” como uma força de poder  humano.

É uma “fé em Deus”, assim como uma criança confia em seu pai sem duvidar.

Marcos - 11: 22 - ”E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tendes fé em Deus;”.

Esta fé é uma obra de Deus que tem dado ao coração do cristão.

Felipenses - 2: 13 – Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.

 

Marcos - 9: 23,24 – E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade.

A humildade chama a atenção de Deus.

 QUANDO HÁ  PLENA CERTEZA NO CORAÇÃO EM DEUS, A NOSSA ORAÇÃO É RESPONDIDA.

Marcos - 11: 23 - Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.

Este monte não é no sentido literal uma montanha

Mas é no sentido espiritual no ser humano, são problemas, obstáculos, insegurança.

Duvidas que atrapalham a nossa visão espiritual com Deus.

 Esta fé é criada no interior do ser humano e, é  vinda de Deus.

Fruto do  Espírito Santo.

Não podemos produzir em nós mesmos por meio de nossa mente humana.

AMOR: Alem de ser um fruto que plantamos em nossos corações é o maior sentimento de dedicação absoluta para com o outro, é se doar totalmente ao Pai.

 ALEGRIA: A base desse fruto é o fruto do Amor, Deus nos que alegres, pois ele não nos criou para a tristeza, é o prazer de se viver.

 PAZ: Com a união do Amor e da Alegria se tem o grande sentimento interno e externo da Paz que Deus nos deixou, é a ausência de medo e  da  culpa. 

PACIÊNCIA: Um dos Frutos que nos dá a qualidade de saber esperar, uma virtude que consiste suportar dores, infortúnios com uma tranquilidade que só Deus suportou.

 LONGANIMIDADE: esta interligado com a Paciência e a Paz, significa ser grande em esperar, sem se queixar das amargurar,  É uma certeza de que se cumprira em nossa alma todos os desígnios eternos de Deus e esta certeza eleva a alma e traz uma Paz que nada pode perturbar.

BONDADE: É simplesmente querer o bem para o outro, atos concretos para o bem

BENIGNIDADE: É o Amor mostrando compaixão é procurar nunca magoar ninguém, é o ato de fazer o bem sem precisar recompensa por isso.

MANSIDÃO: a Mansidão nos da à vontade para suportarmos as contrariedade com suavidade e sem irritação, sem dar amostras de impaciência e muito menos fúria.

FIDELIDADE: É a qualidade de sermos fiel, leal, honrado, aquele que não falha, a qualidade de sermos verdadeiro, é a uma qualidade sobrenatural que nos inclina a dar ao próximo tudo o que lhe é devido, sob que forma for, é a justiça  que devemos ao próximo

MODÉSTIA: É um fruto com total ausência de vaidade, total desinteresse de atrair a atenção para si, sobre seus exageros, sobre suas virtudes, é moderação nas ações e na conduta.

CONTINÊNCIA: É se conter, controle de seus instintos, poder sobre sua própria pessoa, é privar-se dos prazeres tendo assim domino sobre si.

 
DISTINÇÃO ENTRE OS DONS E OS FRUTOS
 Os Dons são dados, o fruto é gerado.
Os Dons vem após o Batismo no espírito Santo, o fruto é na conversão.
Os Dons são de fora para dentro, os Frutos vem de dentro para fora.
Os Dons já vem completo temos que aprender a usar, o Fruto requer tempo para crescer.
Os Dons são distintos, os Frutos é indivisível.
Os Dons confere poder, os Frutos confere autoridade.
Os Dons identificam o que fazemos, os Frutos mostra o que somos.
O mais interessante é que os Dons podem ser imitados, porem os Frutos nunca será.

 
Romanos – 12: 3 – Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.

João - 15: 5 . “Sem mim nada podeis fazer.”

João - 3: 27 – Nicodemos respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.

Devemos buscar a Cristo que é o autor e o consumador da nossa fé.

O segredo da fé é a obediência à Palavra do Evangelho do Senhor Jesus.

Mateus - 9: 21 Porque dizia consigo: Se eu tão somente tocar a sua roupa, ficarei sã.

João - 15:7 – Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.

Tiago – 4:3 – Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. (vangloria e  altivez)

sábado, 18 de agosto de 2012

O Obreiro Cristão Normal Watchman Nee 3º parte


O Obreiro Cristão Normal 3º parte
Watchman Nee

Leitura: / Coríntios 9.23-27; II Coríntios 11.27; I Coríntios 4.11-13 e Romanos 8.11.

Escrevendo aos crentes de Corinto, declarou Paulo: "Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pre­gado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (I Coríntios 9.23-27).

No versículo vinte e três, Paulo se apresenta como servo de Deus, como pregador do evangelho. "Tudo faço por causa do evangelho", diz ele; e, tendo-nos desvendado qual a atitude intransigente que ele adotara para consigo mesmo, a fim de atingir o seu objetivo -"esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão" — ele prossegue a fim de esclarecer como punha em efeito essa determinação que tinha de manter domínio sobre o seu próprio corpo.

Desde o início queremos deixar bem claro que o escritor da epístola aos Coríntios não era algum asceta. Ele não se aliava àqueles que ensinam que o corpo é um fardo do qual nos devemos procurar desvencilhar, e muito menos ainda que o corpo seja a fonte do mal. Pelo contrário, nessa mesma epístola Paulo declara que o corpo do crente é santuário do Espírito Santo, e que se aproxima o dia quando a redenção dos nossos corpos tornar-se-á uma realidade, porquanto então teremos corpos glorificados. Nenhum traço de ascetismo deve macular o conceito cristão de "esmurrar o próprio corpo". Repudiamos o pensamento que diz que o corpo nos serve de entrave, ou que seja a fonte originária do pecado; mas reconhecemos, de modo bem definido, que podemos pecar por meio do corpo, e que podemos continuar pecando, sem importar o rigor com que tratemos de nosso corpo.

Nesse nono capítulo da primeira epístola aos crentes de Corinto, Paulo confronta os obreiros cristãos com o desafio que deveriam tornar seus corpos subservientes aos seus próprios interesses, na qualidade de servos de Cristo. Foi na capacidade de obreiro cristão, de pregador do evangelho, que Paulo abordou o problema, e foi no interesse do evangelho que procurou solucioná-lo. E temos aqui a solução por ele apresentada - "Esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão". O vocábulo "esmurro" não é um termo suave; não há nenhuma sugestão de que Paulo usava de meias medidas consigo mesmo.

Paulo deixou perfeitamente esclarecido de que maneira esmurrava seu próprio corpo e o controlava, Porquanto esse tema é de importância vital para todo obreiro cristão, observemos com cuidado o que ele tem a dizer acerca da questão. Em sua aplicação prática da questão às vidas dos servos do Senhor, o apóstolo usa a ilustração de uma pista de corridas. "Não sabeis vós", pergunta ele no versículo vinte-e-quatro, "que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o al­canceis". Nem todos quantos participam de uma corrida se saem vencedores, declara Paulo; e em seguida exorta aos seus leitores para que corram de modo a conquistar o prêmio. E como pode ser isso conseguido é o que ele explica no versículo vinte e cinco, baseando a sua metáfora nos jogos olímpicos. "Todo atleta em tudo se domina". Paulo salientava a necessidade de auto-disciplina por parte de cada competidor. Aqueles que com­petiam pelo prêmio tinham de manter rigoroso controle sobre si mesmos. Durante o período de treinamento, antes das competições, não podiam comer o que bem desejassem, nem quando desejassem; muitas coisas que seriam normalmente permitidas, a eles lhes eram ve­dadas. E quando entravam na corrida propriamente dita, tinham de seguir regras inflexíveis; pois de outro modo seriam desqualificados.

Vocês talvez digam: Preciso disto e tenho de possuir aquilo. Muito bem! Se vocês não são competi­dores nos jogos, poderão obtê-las; mas, caso vocês sejam competidores, serão obrigados a manter sob con­trole absoluto o próprio corpo. Que significam as pa­lavras "em tudo se domina"? Significa que o corpo não tem a permissão de impor exigências excessivas; a liberdade deles tinha de ser restringida. O corpo não era levado à pista de corridas para satisfazer suas exigências quanto a alimentos, bebida, vestuário ou sono; mas era para ali conduzido, a fim de reali­zar uma função -correr, e correr de maneira tal que conquistasse o prêmio. Paulo continuou o seu raciocínio com base nessas mesma ilustração: "Aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível". O vencedor dos esportes olímpicos era coroado com uma coroa de louros que logo murchava, e, no entanto, se sujeitava a rigorosíssima disciplina, e isso durante longo período, a fim de conquistá-la. Que auto-domínio não deveríamos nós exercer, a fim de conquistar uma coroa incorrutível?

"Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar", declara Paulo, dando prosseguimento ao seu tema. Ele não se sujeitava a tão rigorosa disciplina em troca de nada; mas tinha um objetivo claro em vista; corria diretamente para o alvo. Este versículo tem que ser lido juntamente com o próximo. Paulo não corria numa direção e então noutra, nem combatia desvairadamente; todos os seus movimentos eram regulados, já que trazia o seu próprio corpo debaixo de estrito controle, e fora capaz de obter o domínio sobre o mesmo disciplinando-o violenta­mente.

Irmãos e irmãs, se vocês ainda não conseguiram pôr debaixo de controle o próprio corpo, seria melhor que fizessem uma pausa no trabalho e procurassem obter tal domínio, antes de tentarem exercer autoridade sobre qualquer terreno mais vasto. Talvez vocês tenham grande prazer na obra, mas esta será de pouco valor se vocês ainda são dominados por seus anelos físicos. Servir ao Senhor não consiste meramente de pregar sermões em um púlpito. Paulo sabia disso.

Que se entende por reduzir nossos corpos à escra­vidão? Para compreender isso, precisamos, primeira­mente, entender quais são as exigências do corpo. Menci­onaremos apenas algumas delas — alimentação e ves­tuário; descanso e recreação; e, em períodos de enfermidade, cuidados especiais. Todas essas exigências são legítimas. Mas o Senhor também apresenta as Suas exigências e, se eu tiver de corresponder a estas últimas, terei de impor determinadas restrições ao meu corpo. Quando o trabalho impõe esforços especiais ao arca­bouço físico, este será capaz de suportar a tensão se houver sido constantemente disciplinado; mas, se seus anelos tiverem recebido normalmente a permissão de governar, estará fora de forma quando um serviço árduo lhe for exigido. Se os nossos corpos não tiverem aprendido a nos servir habitualmente, quando concla­marmos nossos membros para que desenvolvam um esforço conjunto na pista de corrida, os pés recusar-se-ão a funcionar, e os demais membros mostrar-se-ão lentos em obedecer às nossas ordens. Se a corrida houver de ser ganha, o atleta não ousará relaxar a sua disciplina sobre o corpo quando não estiver na pista. Se na vida diária e ordinária do obreiro cristão o seu corpo nunca houver sido ensinado a reconhecer o seu senhor, como se poderá esperar que corresponda às exigências extra­ordinárias que às vezes lhe serão impostas, por causa da obra do Senhor? É somente quando impomos per­sistentemente a nossa autoridade que os nossos corpos finalmente tomar-se-ão obedientes. Se, na vida diária, nossos corpos tiverem adquirido o hábito da obedi­ência, então poderemos contar com eles, pois nos servirão fielmente sob circunstâncias de pressão ex­cepcional.

Permitam-me perguntar: Vocês são os senhores de seus corpos, ou são antes seus escravos? Eles se submetem às suas ordens, ou vocês cedem perante os seus desejos?

Nossos corpos exigem regularmente o repouso do sono, e essa exigência é legítima. Deus dividiu o tempo em dia e noite, a fim de prover ao homem a oportunidade de descansar; e se o homem descon­siderar essa provisão divina, não poderá fazê-lo impu­nemente. Por outro lado, se o indivíduo permitir que o seu corpo assuma o controle, deixando-o dormir sempre que se sinta inclinado a isso, dentro em pouco tornar-se-á um homem preguiçoso e lerdo para o tra­balho. Normalmente, é razoável permitir que o corpo descanse durante oito horas por dia. Entretanto, quando os interesses do Senhor assim o exigirem, talvez te­nhamos de reduzir as horas de descanso, ou mesmo adiar inteiramente o sono por uma noite ou duas. Naquela noite em que se dirigiu ao jardim do Getsêmani, o Senhor Jesus levou Consigo a três discípulos selecionados, e lhes disse: "A minha alma está profun­damente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo". Todavia, ao retornar da oração, encontrou-os dormindo, e disse a Pedro: "Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? " Não, não puderam vigiar em companhia de nosso Senhor nem ao menos por uma hora; o sono os havia dominado inteiramente. Que há de errado em se querer dormir à noite? Nada. Entretanto, se o Senhor requerer de nós que vigiemos com Ele, mas preferirmos obedecer aos impulsos do corpo, ao invés de Lhe sermos obedientes, então teremos falhado como servos Seus. Isso não quer dizer que possamos passar indefinida­mente sem o repouso do sono, porquanto somos seres humanos e não espíritos; mas significa que se tivermos de satisfazer à necessidade do Senhor devemos manter nosso corpo constantemente debaixo de controle, a fim de que se torne acostumado com a fadiga.

Que significa "correr"? Significa fazer algo de ex­cepcional. Normalmente andamos passo a passo, mas numa corrida o corpo é conclamado a despender um esforço extra. Como regra geral, podemos permiir-nos oito horas de sono, mas, sempre que o serviço do Senhor assim o exigir, devemos estar preparados para abreviar o nosso período de descanso; e é então que nos convém esmurrar o próprio corpo. Quando nosso Senhor en­controu Seus discípulos a dormir, após ter-lhes feito o pedido especial que vigiassem, Ele desnudou o pro­blema, dizendo: "O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca". De que nos adianta ter um espírito voluntário se a carne for incapaz de realizar aquilo que o espírito quer? Se a carne for fraca, nem mesmo um espírito disposto poderá mantê-la desperta. Se vocês tiverem de vigiar em companhia do Senhor, quando Ele assim o exigir, precisarão tanto de um espírito bem disposto como de um corpo bem disposto. O corpo não é um obstáculo, mas é um servo que precisa ser treinado a fim de que nos sirva bem; e esse treinamento precisa ter lugar sob circunstâncias ordinárias, a fim de que esteja sempre preparado para satisfazer às exigências das circunstâncias excepcionais.

Nicodemos veio falar com o Senhor à noite, e o Senhor pôde falar com ele descansadamente, apesar da hora adiantada da noite; e os evangelhos registram que, ocasionalmente, o Senhor passava noites inteiras em oração. Ele estava preparado para permitir que o Seu ministério interferisse em Suas horas de sono, e nós devemos estar dispostos a fazer outro tanto. Não es­tamos advogando que os obreiros cristãos criem o há­bito de passar noites em oração. Substituiro dia pela noite e gastar continuamente as horas noturnas em oração só pode desgastar o corpo e a mente, pois é algo anormal; entretanto, é normal que os servos do Senhor nunca sacrifiquem o seu sono devido o serviço a Ele prestado? Se, na questão do repouso do sono, dei­xarmos o corpo fazer o que quiser, não resistiremos quando lhe tentarmos impor alguma restrição e enfren­tarmos alguma exigência especial em nosso trabalho.

O mesmo princípio se aplica à questão da comida e da bebida. Devido a circunstâncias especiais, nosso Senhor podia abster-se de alimentos, mas sabia comer bem quando não havia necessidade de abstinência. Seu corpo tinha de ser-Lhe obediente. Algumas pessoas dependem de tal modo da comida que não podem tra­balhar se tiverem de ficar com fome. Sem dúvida, preci­samos de alimentos e não ousamos ignorar as nossas necessidades físicas; mas o corpo tem que ser treinado para passar sem alimentos, quando as circunstâncias assim o exigirem. Vocês devem estar lembrados da ocasião quando o Senhor se assentou ao lado do poço de Jacó a fim de descansar um pouco, quando então entrou em contacto com uma mulher em grande neces­sidade espiritual. Era hora de certa refeição, mas o Senhor ignorou a Sua própria necessidade física, e com grande paciência explicou-lhe como a necessidade espi­ritual dela poderia ser satisfeita. Se chegarmos com fome em algum lugar, e nada pudermos fazer ali enquan­to não nos alimentarmos, é que os nossos corpos não nos estarão servindo como convém. Sem sermos extre­mistas, certamente devemos controlá-los ao menos nesse ponto, pois, se por causa do trabalho tivermos de dis­pensar alguma refeição, doutra maneira os nossos corpos nos dominarão com seu insistente clamor da fome.

No terceiro capítulo do evangelho de Marcos lemos que o Senhor se viu cercado de uma tão numerosa multidão de pessoas necessitadas que não Lhe sobrava tempo para comer. Seus amigos reagiram, procurando retirá-Lo do meio da multidão, porquanto diziam haver Ele perdido o juízo; mas Ele não podia fazer outra coisa senão adiar a satisfação de suas próprias necessidades físicas por algum tempo, até que a premente necessidade das multidões houvesse sido atendida. Se vocês e eu jamais pudermos suspender uma refeição quando a obra exigir nossa atenção imediata, então faremos bem pouco trabalho eficaz. Nessas oportunidades devemos refrear nossos próprios corpos, a fim de que não assumam o controle, e assim os interesses do Senhor venham a sofrer detrimento. A Bíblia afirma claramente que os crentes devem jejuar quando a ocasião assim o requerer. Algumas vezes uma necessidade especial requer um período prolongado de oração, que não dá margem para que o crente se alimente, e, quando nos defrontamos com alguma circunstância em que não devemos parar de orar e jejuar, então devemos recusar, temporaria­mente, a satisfazer às exigências racionais do corpo.

Outra exigência do corpo é o conforto. Não de­vemos acusar o obreiro que gosta de certa medida de comodidade quando as circunstâncias o permitirem; entretanto, deveríamos deplorar a incapacidade que certas pessoas têm de corresponder à convocação para o trabalho, se este não for acompanhado pelas como­didades a que elas estão acostumadas. Os servos do Senhor deveriam ser capazes de desfrutar do repouso que consiste de condições mais fáceis, quando o Senhor assim o determinar; e aqueles que, a despeito do fato que estão confortavelmente situados na vida, esmurram habitualmente o corpo, serão mais capazes de se adap­tarem a circunstâncias de grande desconforto do que aqueles cuja situação é inferior à deles, mas que, no entanto, não se esforçaram por manter seus corpos em sujeição.

Quanto ao vestuário, este não deve merecer dema­siada atenção. O Senhor Jesus disse a respeito de João Batista que se alguém quisesse ver uma pessoa elegante­mente vestida, não poderia buscar nele o seu exemplo; que buscassem tal pessoa nos palácios. Alguns crentes, todavia, infelizmente estabeleceram para si mesmos um padrão elevadíssimo nessa questão do vestuário e insistem em se conformarem a todo o tempo ao mesmo. Afirmamos que não estaremos honrando ao Senhor se usarmos vestes sem decoro, e que, na medida do pos­sível, devemos estar limpos, arrumados e corretamente vestidos; não obstante, não nos deveríamos esquecer do exemplo dado por Paulo, o qual podia dispensar qualquer coisa por amor ao Senhor. Aludindo às suas próprias experiências, escreveu ele: "...em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez" (II Coríntios 11.27).

Em períodos de enfermidade ou fraqueza, o corpo faz maiores exigências do que comumente, e, sob tais circunstâncias, muitos obreiros cristãos não trabalham e se sentem justificados. Como é que Paulo poderia ter cumprido o trabalho que lhe foi confiado se estacasse sempre que não se sentisse com boa disposição? E que teria acontecido ao ministério de Timóteo se ele tivesse acomodado o seu corpo quando sofria de suas "freqüentes enfermidades"? É necessário que cuidemos razoavelmente de nós mesmos, tanto na enfermidade quanto na saúde; mas isso não elimina a necessidade de esmurrar o corpo e de mantê-lo em escravidão. Até mesmo em períodos de enfermidade e dor intensas, se O Senhor assim ordenar, poderemos recusar ouvir a todos os clamores físicos e ser-Lhe obedientes. Se quisermos ser úteis nas mãos do Senhor, é imperativo que obte­nhamos completo domínio sobre estes nossos corpos.

Esse princípio deve ser aplicado aos desejos sexuais, como também a todos os demais impulsos físicos. Se somos servos de Cristo, então o Seu serviço deve receber prioridade acima de tudo o mais. Em 1Coríntios 4.11-13, diz Paulo: "Até á presente hora sofremos fome, e sede, e nudez: e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, traba­lhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos". É óbvio que os múltiplos sofrimentos de Paulo na carne não se confinaram a um período isolado de sua vida, e que coisa alguma jamais teve per­missão de impedir seu serviço ao Senhor. No sexto capítulo dessa mesma epístola, desde o versículo doze até o fim, ele faz alusão a duas questões - a questão dos alimentos e a questão do sexo — e deixa perfeita­mente claro que somos servos do Senhor, e não servos do corpo. Então, no sétimo capítulo, ele aborda o as­sunto do sexo com alguns detalhes, enquanto que no oitavo capítulo o seu tema gira em torno dos alimentos, acentuando que, de modo algum, estamos na obrigação de atender â vontade da carne, pois pertencemos a Cristo e temos o dever de servi-Lo. Por amor a Ele cumpre-nos aprender a dizer "Não" aos nossos desejos físicos, e teremos de reforçar essa negativa com medidas suficientemente drásticas para estabelecer o fato que as rédeas estão em nossas mãos. O Senhor é o Criador do corpo, e Ele o criou dotado de determinados im­pulsos que são perfeitamente legítimos; mas Ele criou o corpo para ser nosso servo, e não nosso senhor, e enquanto essa verdade não for bem estabelecida não poderemos servi-Lo como convém.

Até mesmo um apóstolo Paulo temia ser desquali­ficado na corrida, e assim vir a perder o prêmio; por conseguinte, tomava a precaução de subjugar o próprio corpo mediante uma dura e constante disciplina. E que diríamos acerca de nosso Senhor, o qual negou a Si mesmo a mais exaltada glória e se humilhou até às profundezas do sofrimento e do opróbrio perante os homens? Por amor a Ele, não ordenaríamos a estes nossos corpos que nos sirvam, para que possamos servir ao Senhor sem obstáculos? Não lhes comandaríamos que sejam fortes no poder de Sua vida ressurrecta? Não foi Ele mesmo quem disse: "Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que em vós habita"?


Leitura: / Pedro 4.1; II Samuel 23.14-17; Apo­calipse 2.10.



Todo obreiro cristão deveria estar mentalmente preparado para o sofrimento. Em I Pedro 4.1, lemos as seguintes palavras: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento". Uma atitude mental correta, em relação aos sofrimentos, faz parte do equipamento essencial de todo obreiro cristão.

Há certa escola de pensamento, mui generalizada, que mantém que toda forma de prazer milita contra o desenvolvimento espiritual. Rejeitamos enfaticamente essa filosofia, porquanto a própria Palavra de Deus declara que a porção do povo de Deus é uma porção abençoada. No Salmo oitenta e quatro, podemos ler: "O Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente". E o conhecidíssimo Salmo vinte e três, diz: "O Senhor é o meu pastor: nada me faltará". Por todas as páginas da Bíblia o amoroso cuidado do Senhor, que nos trata qual pastor, é clara­mente retratado, e por todas as Escrituras vemo-Loa cuidar fielmente dos que Lhe pertencem, livrando-os das suas aflições e sempre estabelecendo distinção entre o Seu povo e as nações pagãs. Mesmo durante o tempo em que Seu povo escolhido peregrinava no Egito, Ele destacou aquela região da terra onde eles habitavam, para derramar bênçãos peculiares sobre a mesma.

De outra parte, Deus não isenta os Seus filhos das provações ou castigos; em realidade, as provações e os castigos são necessários para garantir-lhes o cresci­mento até à maturidade. Mas aquilo para o que dese­jamos chamar a atenção, nesta altura, é um determinado aspecto do sofrimento, com freqüência ventilado na Palavra de Deus, e que consiste da escolha deliberada de Seus filhos, cujo consumidor desejo é o de prestar-Lhe serviço. Não se trata de algo que lhes haja sido imposto, de algo que tenham aceitado com relutância, e, sim, de algo que eles preferem voluntariamente. Os três heróis de Davi não tinham necessidade de arriscar a própria vida, a fim de trazer-lhe um pouco de água para beber; todavia, quando o ouviram expressar o seu anelo por um gole de água, tirada do poço de Belém, puseram em risco a própria vida e irromperam pelas fileiras do exército filisteu, a fim de satisfazerem ao seu desejo. (Ver II Samuel 23.14-17).

Muito sofrimento existe que poderíamos evitar, se assim o desejássemos; contudo, se tivermos que ser úteis para o Senhor, será fundamentalmente necessário que tomemos a deliberada decisão de palmilhar pela senda do sofrimento por amor a Ele. A menos que assumamos a disposição de sofrer por Ele, o trabalho que realizaremos será de qualidade extremamente su­perficial.

Que queremos dar a entender quando falamos em estar-se mentalmente preparado para o sofrimento? Em primeiro lugar, estabeleçamos claramente a diferença que há entre sofrer e estar mentalmente preparado para sofrer. Estar mentalmente preparado para sofrer implica em termos escolhido espontaneamente a vereda do sofrimento por amor a Cristo; significa que o nosso coração se dispõe a suportar as aflições por causa Dele. A questão não consiste da intensidade do sofrimento a que porventura sejamos chamados a experimentar, mas consiste de nossa atitude para com o sofrimento que nos cerca. Por exemplo, o Senhor talvez tenha posto vocês em circunstâncias onde contam com boa alimen­tação e boas vestes, e com uma casa bem mobiliada. Disso não se segue que se vocês tiverem escolhido sofrer por Sua causa, que não poderão continuar desfrutando de todas as dádivas que Ele lhes tiver conferido. A questão não é: Sua situação externa é boa ou má? e, sim: A atitude de seu coração se dispõe a suportar privações por amor a Ele? Talvez que os sofrimentos não sejam a porção diária de nossa vida, mas que este­jamos preparados para sofrer a cada dia.

Infelizmente, a massa comum dos crentes, junta­mente com muitos obreiros cristãos, parece poder pros­seguir esplendidamente enquanto as circunstâncias lhes são favoráveis; mas, no momento em que alguma aflição lhes sobrevêm, estacam de súbito. A dificuldade é que não estão intimamente preparados para sofrer. Se já nos tivermos decidido a aceitar voluntariamente o caminho do sofrimento por causa de nosso Senhor, então os testes nunca nos apanharão desprevenidos. Se Ele achar por bem dar-nos alívio do sofrimento, isso é questão que só a Ele diz respeito; de nossa parte, entretanto, devemos estar sempre prontos para experimentá-lo. Sempre que nos sobrevier o sofrimento nós o aceitaremos como fenômeno normal; e, visto que não o reputamos coisa estranha, não somos tentados a nos desviarmos do ca­minho, mas prosseguimos diretamente em direção ao alvo. Observem cuidadosamente as palavras de Pedro: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento". Puderam perceber como a disposição mental para sofrer faz parte de uma arma­dura? Trata-se de um item de nosso equipamento para a luta espiritual, e que reduz Satanás à impotência quando ele nos ataca em qualquer ponto vulnerável. Se nos faltar essa peça da armadura, não estaremos aptos para o conflito.

Existem crentes que suportam os sofrimentos, não tendo, porém, qualquer conceito da preciosidade dos sofrimentos que lhes cabe na vida. Gemem sob o sofrimento sem qualquer senso de gratidão para com o Senhor, e só esperam pelo dia quando puderem ver-se livres do mesmo. Não aceitam a aflição de todo o coração, mas reputam-na como algo deplorável, que tem de ser tolerado. A atitude dos tais demonstra o fato que lhes falta a disposição mental para sofrer.

Irmãos e irmãs, se em períodos de prosperidade vocês não se armarem com o pensamento que se dispõe a sofrer, então, quando forem apanhados pela adversi­dade, serão incapazes de continuar servindo ao Senhor; entretanto, se estiverem armados com a determinação de sofrer por causa Dele, prosseguirão constantemente, sem importar o que lhes sobrevenha. Não pensem que, quando estiverem passando por aflições, que de fato estão sofrendo por causa do Senhor. A indagação que é mister que seja feita, não é: Por quanto sofrimento eu já passei? Mas é antes: Até que ponto me tenho regozijado ante o sofrimento? É possível para o crente sofrer de intensa perturbação e dificuldades, sem ter a disposição para o sofrimento. A disposição para o so­frimento é algo profundamente íntimo. Queremos que fique perfeitamente claro, neste ponto, que é perfeita­mente possível para o crente estar mentalmente preparado para o sofrimento, ao mesmo tempo em que não experimenta nenhuma provação material; como também é perfeitamente possível atravessar muitas aflições ma­teriais sem estar armado da disposição de sofrer. Se aos crentes fosse oferecida a opção entre sofrer e não sofrer, muitos, por certo, prefeririam a isenção de todo sofrimento, e isso pelo motivo simples que lhes falta o desejo de sofrer pelo seu Senhor. Qualquer obreiro cristão em cuja vida se faça ausente essa disposição no íntimo, sempre estará orando para que lhe sejam propor­cionadas circunstâncias favoráveis, a fim de que haja progresso na obra.

No caso de alguns dentre os filhos de Deus, há poucos sinais de adversidade nas suas circunstâncias, ao passo que outros se acham claramente em grande aperto. Mui naturalmente, concluiríamos que estes últi­mos conhecem a graça do Senhor em maior medida do que os primeiros, e que desenvolveriam um mais rico ministério espiritual. Na realidade, porém, é justamente o contrário que se verifica; e quando nos pomos a exa­minar de perto a situação, descobrimos que embora alguns sofram tanto, falta-lhes a disposição mental para acolherem o sofrimento, e só desejam escapar de suas provações na primeira oportunidade que se lhes deparar. Os sofrimentos dos tais não têm proveito; eles nada ' aprendem disso.

Uma das dificuldades que com grande freqüência nos confronta no trabalho é a exigüidade dos recursos financeiros. Há ocasiões em que parece que o Senhor nos deixou provisões inadequadas, e decidimos que não podemos continuar. Como será que o Senhor se sente a respeito da nossa reação? Já ouviram-No perguntar: Por qual motivo me estás servindo? Oh, essa inda­gação nos acha com muita freqüência! Qual é o servo de Cristo que poderia estipular que irá ao trabalho se o sol brilhar, mas que permanecerá em casa se vier a chover? Se vocês forem dotados da atitude mental correta a respeito do sofrimento, nesse caso nada poderá intimidá-los. Serão capazes de desafiar as circunstâncias; desafiarão as enfermidades físicas; desafiarão a morte; desafiarão até as próprias hostes das trevas. Todavia, se vocês não houverem cultivado essa disposição, serão assaltados pelo temor, em face das dificuldades; e, se abrigarem o temor, cairão como presas fáceis perante o inimigo. Ele lançará contra vocês exatamente aquilo que mais temem, e assim vocês tornar-se-ão vulneráveis ante os seus assédios, visto que a mente de vocês não estará sendo salvaguardada pela determinação de sofrer na carne, tal como Cristo também sofreu. Estamos pre­parados para dizer-Lhe: "Compelido pelo Teu amor e pela Tua graça que me confere poder, entrego-me ao Teu serviço, quaisquer que forem as conseqüências?" O crente não deve convidar as tribulações, nem sair em busca delas; porém, se elas se atravessarem em seu caminho, ele deve enfrentá-las com a mente já resol­vida a suportá-las galhardamente, por amor ao Senhor. Por exemplo, se vocês forem pessoas fisicamente débeis, naturalmente necessitarão de um leito mais confortável do que o precisaria uma pessoa vigorosa; mas, se ao se lançarem na obra do Senhor, fixarem a mente no ponto que precisam de uma cama mais confortável, tornar-se-ão mais vulneráveis ao inimigo nesse particular. Por outro lado, se vocês estiverem mentalmente preparados para sofrer por causa de Cristo, e então o Senhor lhes prover um leito confortável, não haverá mérito algum em evitar o leito para tornarem mais áspera a sua exis­tência, dormindo no chão. Não imaginem que os crentes que vivem em circunstâncias mais desfavoráveis sejam, automaticamente, capazes de suportar com mais facilidade as dificuldades do que aqueles que vivem em condições mais favoráveis. Somente aqueles que, não importando as suas circunstâncias externas — favo­ráveis ou desfavoráveis — se têm entregue ao Senhor e se têm armado da disposição mental de sofrer, é que serão capazes de se manter firmes no dia da pro­vação. Um irmão acostumado ao conforto, mas que tenha tido uma transação definida com o Senhor e se tenha disposto ao sofrimento por causa Dele, terá muito maior poder para suportar o sofrimento do que qualquer outro irmão, acostumado às privações, mas que não se tenha armado de tal disposição.

Se essa questão não for deliberadamente resolvida, a fraqueza de vocês será fatalmente descoberta um dia, e nesse dia vocês sentirão pena de si mesmos. De certa feita, uma irmã, que vinha servindo ao Senhor durante anos, veio falar com uma outra irmã, a qual derramava copiosas lágrimas de auto-compaixão, e lhe perguntou: "Por qual razão você está derramando essas lágrimas? " Muitos crentes que parecem dotados de certa medida de tolerância, fracassam quando se confrontam com um teste crucial, visto não terem usado da precaução de se armarem, conforme Deus recomenda em Sua Palavra, e assim, na hora em que são achados em falta, seu orgulho fica ferido e as lágrimas de auto-compaixão começam a correr.

Levanta-se, mui naturalmente, a pergunta: Até que ponto deveríamos estar preparados para sofrer? "Sê fiel até à morte", responde-nos a Palavra de Deus (ver Apocalipse 2.10). Alguns dizem que há o perigo de nos tornarmos extremistas. E assim é, realmente; mas, se vocês se têm armado da disposição mental para o sofri­mento, não estarão sempre tentando conservar o meio termo feliz. Poderão, com toda a segurança, deixar a questão de preservar o equilíbrio, se estiverem no perigo de perdê-lo, nas mãos do Senhor e de Sua Igreja.

O que lhes cabe é entregar a vida a Ele, chegando a pa­decer até à morte, se Ele assim o exigir; e Ele, por Sua vez, haverá de resguardá-los de caírem em extremismos. Se vocês vivem sempre pensando sobre até onde devem prosseguir nessa questão do sofrimento, nunca irão muito longe; serão apanhados no ardil de permitir que a obra sofra, a fim de preservarem a própria vida. A dis­posição mental para o sofrimento não é uma idéia diluída; mas é uma determinação viril que nos capacita a dizer ao Senhor: "Sim, Senhor, até à morte. Minha vida está à Tua disposição, para que faças dela o que melhor Te parecer". Deus precisa de servos que queiram tratar a sério com Ele, que não hesitem em desistir de tudo, até da própria vida, por Sua causa. Abando­nemos todos os nossos cálculos cautelosos e aquele temor deformante de cair em extremismos, e transacionemos com o Senhor com a disposição de servi-Lo a qualquer preço, mesmo que isso signifique a própria morte.

Está registrado, em Apocalipse 12.11, a respeito dos vencedores: "Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do teste­munho que deram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida". Se vocês cumprirem essas condições, os assaltos desfechados por Satanás contra vocês serão fúteis. Ele se tornará incapaz de vencer a qualquer crente que não busque preservar a própria vida. Satanás zombou da idéia que Jó poderia servir a Deus sem ser impulsionado por qualquer desejo de auto-preservação, e por essa razão, disse ao Senhor: "Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Es­tende, porém, a tua mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!" (Jó 2.4,5). Satanás sabia que poderia vencer a Jó se este estivesse dominado pelo mais leve interesse próprio, e, por esse motivo, pleiteou pela permissão de sujeitá-lo a um teste. O registro do livro de Jó, seme­lhante àquele que se encontra no livro de Apocalipse, demonstra a impotência de Satanás para vencer àqueles que não dão a menor importância às suas próprias vidas. Há um limite para os nossos sofrimentos, mas não pode haver limite para a nossa disposição de sofrer. Se, nesse particular, impusermos qualquer limite, Satanás, mais cedo ou mais tarde, nos conseguirá derrotar.

Gostaria de perguntar: O que importa é a preser­vação das nossas vidas ou é a preservação da obra do Senhor? O que tem importância é a salvação de almas ou é a preservação das nossas vidas? O que é de maior importância, salvaguardar os nossos interesses pessoais, ou salvaguardar o testemunho do Senhor na terra?

Oxalá pudéssemos, todos juntos e cada qual em separado, sacudir de nós mesmos o amor próprio, cor­respondendo afirmativamente ao Senhor segundo Ele nos fosse desafiando, a fim de servi-Lo com exclusivi­dade, visando unicamente os Seus interesses! Se nosso abandono em Suas mãos for completo, então também poderemos experimentar as Suas bênçãos de modo com­pleto.


Leitura: Números 22.1-21; Mateus 6.24; II Pedro 2.15; Judas 11;

Apocalipse 2.14; II Pedro 2.1-3; I Ti­móteo 6.3-10 e II Coríntios 8.1-24.



Qual deveria ser a atitude do obreiro cristão para com as questões de dinheiro? Trata-se de uma pergunta importantíssima, porquanto aborda facetas tão impor­tantes que, a menos que o crente tenha recebido luzes claras a respeito, não poderá sair-se bem, pois nenhum obreiro cristão pode evitar de tocar nas "riquezas".

Desde o próprio início precisamos perceber clara­mente que as "riquezas" fazem oposição a Deus. Seus servos, por conseguinte, devem manter-se perfeitamente alertas, a fim de que não caiam debaixo de seu poder, porque, se elas chegarem a exercer qualquer domínio sobre as suas vidas, tornar-se-ão incapazes de ajudar o povo de Deus a resistir aos seus ataques insidiosos. Por causa dos problemas universais que se levantam em conexão com o dinheiro, passaremos alguns momentos juntos, falando acerca deles.

Em primeiro lugar, observemos a relação existente entre o dinheiro e a conduta e o ensino ministrado pelo obreiro. No Antigo Testamento, a história de Balaão e as suas relações com o povo de Deus, pode ser referida como ilustração desse ponto, enquanto que no Novo Testamento encontramo-lo como ilustração do mesmo problema. No livro de Apocalipse, lemos acerca da "doutrina de Balaão". Balaão era um profeta que trabalhava em troca de recompensas; comercializava o seu ministério profético. Balaque, rei de Moabe, inclinava-se por destruir o povo terreno de Deus, e alugou os serviços desse profeta, a fim de que os amaldiçoasse. Balaão, entretanto, não ignorava a mente de Deus, e tinha perfeita consciência de que o povo do Senhor era um povo bendito; e, além disso, Deus lhe dissera claramente que não poderia atender à solicitação de Balaque. Todavia, a recompensa oferecida o atraía. Como lhe seria possível obtê-la? Ele procuraria persuadir a Deus a reverter a Sua decisão declarada. Deus de fato, chegou a dar-lhe a permissão de fazer exatamente aquilo que anteriormente lhe proibira.

Algumas pessoas imaginam erroneamente que esse episódio serve de ilustração sobre como se deve esperar em Deus. Na realidade, Balaão jamais teria consultado a Deus se não fosse a esperança do ganho; e quando o resultado de sua primeira consulta foi uma recusa patente, obviamente não havia necessidade de uma segunda consulta. Quando Deus, finalmente, permitiu que Balaão acompanhasse os príncipes enviados por Balaque, isso não significava que Ele tivesse aprovado a missão de Balaão, mas simplesmente serviu isso de demonstração que permitia que Balaão seguisse o ca­minho que ele mesmo escolhera. Não pode haver dú­vidas que Balaão foi um profeta, mas ele permitiu que a sutil influência do dinheiro afetasse o seu minis­tério e o desviasse para tão longe.

Todo obreiro cristão que ainda não resolveu em sua vida a questão financeira, corre o perigo de se desviar em busca das riquezas. Nesse caso, quando tiver de resolver onde deverá trabalhar, certamente se deixará influenciar pelas considerações de dinheiro. Se não contar com o apoio financeiro em seu lugar, certamente se dirigirá para outro. Sendo obreiro cristão, natural­mente buscará orientação divina acerca de para onde se deverá dirigir, mas a sua inclinação por certo penderá para o lugar onde o sustento for garantido. Quando ora­mos ao Senhor, pedindo orientação, nossa vida natural pode guiar-nos para que aceitemos lugares onde não haja falta de fundos, dando escassa atenção aos distritos pobres ou às pessoas sem recursos. Certa vez observou um idoso crente: "Quantos dos servos do Senhor se regem pelas considerações financeiras! Vejam quantos distritos pobres não contam sequer com um obreiro residente, ao passo que as áreas mais privilegiadas não se ressentem da falta deles". Essas observações são rudes, mas são tragicamente verdadeiras. Infelizmente, muitos obreiros cristãos andam no "caminho de Balaão". Seus passos se dirigem na direção do lucro, ao invés de se orientarem pela vontade de Deus, e, por isso mesmo, quando passam pela forma usual de buscar a Sua confir­mação para o caminho que eles mesmos escolheram, o Senhor lhes diz: "Vão".

Todo autêntico servo de Deus deve ser homem completamente livre da servidão ao dinheiro. "Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6.24). Isso de buscar a orien­tação de Deus quando, de fato, nos deixamos guiar pelas vantagens materiais, é uma indignidade. Se o Deus a quem servimos é o Deus vivo, não podemos seguir com confiança para onde Ele nos determinar? E se Ele não é o Deus vivo, por que não desistimos de todas as tentativas de servi-Lo? Oh, que vergonhosa é a situação de qualquer crente que, sob a capa de estar servindo a Cristo, na realidade serve aos seus próprios interesses!

Pedro, referindo-se, em sua segunda epístola, a certos indivíduos que palmilham pelo "caminho de Balaão", escreveu: "...tendo coração exercitado na avareza... abandonando o reto caminho, se extra­viaram, seguindo pelo caminho de Balaão... que amou o prêmio da injustiça" (2.15). Irmãos e irmãs. Deus descortinou à nossa frente o "reto caminho", e devemos ter o cuidado de não nos desviarmos dele, a fim de não tomarmos o "caminho de Balaão". Pedro descreve as pessoas que andam por esse caminho como aqueles que têm o "coração exercitado na avareza". O problema basilar está arraigado no coração. Quando se desenvolveu secretamente no coração o hábito da avareza, então a mão se estende após a recompensa, e os pés começam a desviar-se do caminho do Senhor. No caso de Balaão, não aconteceu tudo num único momento, e não havia, no princípio, qualquer indicação acerca da sua dificul­dade. Mesmo depois de seu coração haver-se "exercitado na avareza", o desvio no íntimo, para longe do Senhor, se disfarçou sob a forma exterior da consulta a Ele. A Palavra de Deus informa-nos que Balaão "amou o prêmio da injustiça". Ele se apegou aos presentes que lhe foram oferecidos, e o seu coração já estava apegado a eles quando disse aos príncipes que não po­deria aceitá-los sem primeiro saber qual era a vontade divina; não obstante, prometeu: "E vos trarei a res­posta, como o Senhor me falar" (Números 22.8). Quão espirituais soavam aquelas palavras! Porém, o coração de Balaão estava "exercitado na avareza", pelo que quando Deus lhe recusou a permissão de fazer aquilo que o levaria a receber o cobiçado prêmio, ele encobriu a sua avareza com uma fraseologia pia, ao falar com os emissários de Balaque, e então tornou a fingir espiri­tualidade, ao consultar novamente a Deus. Balaão adquiriu o que desejava, mas com que horrendo sucesso! O hábito mau que ele vinha cultivando cresceu e se tornou num caminho aberto — o "caminho de Balaão".

Irmãos e irmãs, podem vocês acompanhar a senda da cobiça? A menos que a graça de Deus nos capacite a corrigir essa perigosa condição no íntimo, cada vez mais nos aproximaremos da sutil escravidão às riquezas, até sermos, finalmente, engolfados em seu poder.

Judas, escrevendo a respeito de certos indivíduos que se tinham desviado, diz sobre eles que, "movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão". Essa qualidade de gente em nossos dias não somente anda por esse caminho, mas, na realidade, precipita-se pelo mesmo, e esse é o caminho do "erro".

No livro de Apocalipse, João escreve a uma das sete igrejas nos termos seguintes: "Tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição" (2.14). Por essa passagem compreen­demos que existe não só um "caminho de Balaão", mas que também existe a "doutrina de Balaão".O coração que abriga pensamentos cobiçosos não aceita a correção, e assim o desejo de lucro se transforma num hábito fixo; e o hábito oculto dentro em pouco ter­mina por expressar-se externamente; e assim o caminho se vai tornando cada vez mais definido, até que se desenvolve na forma de uma doutrina formulada.

A Palavra de Deus não se cansa de falar sobre a espantosa destruição desfechada pela cobiça. Quando Pedro falava sobre o "caminho de Balaão', referia-se, principalmente, aos falsos mestres; e então advertiu os seus leitores com estas palavras: "Assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras... movidos por avareza, farão comércio de vós" (II Pedro 2.1-3). Note-se que quando os pensamentos gananciosos são abrigados em nossos corações, eles pervertem nosso próprio ensina­mento. Então, se a nossa audiência se compuser de pessoas menos privilegiadas, nosso ensino assumirá um certo aspecto, mas se a nossa audiência for de pessoas mais bem situadas na vida, adaptaremos nosso estilo e nossos temas e as aliciaremos. Portanto, se desco­brirmos que pensamentos interesseiros têm qualquer poder para influenciar os nossos movimentos ou as nossas palavras, devemos humilhar-nos contritos perante o Senhor, buscando a Sua misericórdia, porquanto trata-se de uma questão solene.

Escrevendo a Timóteo, Paulo também tece co­mentários sobre os perigos da cobiça. Em sua primeira epístola, ele observa: "Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é enfa­tuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras... supondo que a piedade é fonte de lucro" (6.3-5). Como aqueles falsos mestres eram totalmente diferentes de Paulo! Quão intensa­mente ele se desgastava a si mesmo e aos seus recursos, por amor ao evangelho! Poderia haver coisa mais vil do que alguém lançar-se à obra cristã tendo em mira o lucro? Mas nós, à semelhança dos demais, fatalmente seremos vitimados por essa tentação, a não ser que enfrentemos corajosamente a questão e a resolvamos de uma vez para sempre, tomando a resolução de que nunca olharemos para nosso trabalho como um meio de vida. Rejeitemos o pensamento que julga que "a pie­dade é fonte de lucro"; mas consolemo-nos com a cer­teza de que "grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento" (versículo 6). E entesouremos no coração as palavras que Paulo escreveu em seguida, na sua epístola a Timóteo — "Porque nada temos tra­zido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insen­satas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (versículos 7-10).

Voltando-nos agora da Palavra do Senhor profe­rida por meio de Seus servos para as palavras ditas diretamente pelo Senhor, lemos no nono capítulo do evangelho de Lucas que Ele enviou os doze, ao passo que o capítulo seguinte registra o envio dos setenta dis­cípulos. Em ambos os casos foram baixadas instruções específicas aos discípulos, a respeito do equipamento deles, e, em ambas as ocasiões, essas instruções foram vasadas em termos negativos. Dirigindo-se aos doze, disse Ele: "Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem deveis ter duas túnicas" (9.3). Menores detalhes foram dados quando da comissão dos setenta, mas o princípio orientador foi idêntico: "Não leveis bolsa, nem alforje, nem san­dálias" (10.4). Em ambos os casos, a ênfase foi a mesma, isto é, que quando o Senhor comissiona aos Seus servos eles não deveriam deixar qualquer coisa material entrar em seus cálculos.

Posteriormente, o Senhor interrogou os Seus dis­cípulos a respeito da experiência que tinham tido quando saíram por ordem Sua —"Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos por­ventura alguma cousa? Nada, disseram eles" (Lucas 22.35). No entanto, observemos agora a seqüência imediata.

"Então lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma". As circuns­tâncias se haviam alterado naquele intervalo de tempo. Chegara a noite em que o Senhor seria traído. En­quanto o caminho permanecia aberto para que os discí­pulos se movessem livremente de lugar para lugar, as instruções foram peremptórias: "Nada leveis para o ca­minho"; não obstante, o Senhor legisla de conformi­dade com as circunstâncias, e, segundo estas, os discí­pulos agora necessitavam de um mais completo equi­pamento.

Para que alguém seja um eficiente pregador do evangelho, cumpre que seja compelido por uma paixão que elimine todos os demais interesses. O verdadeiro pregador das boas novas não sente ansiedade acerca da jornada, nem teme pela recepção de que será alvo no fim da jornada, porquanto, juntamente com a sua comissão, recebeu instruções claras a respeito de ambas as coisas. Quanto à jornada, as ordens que recebeu foram — "Nada leveis para o caminho"; e quando chegar ao seu destino, ele já conta com ordens igualmente explícitas — "Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja nesta casa!" (Lucas 10.5). Que beleza! Todo obreiro cristão deveria ser um mensageiro da paz; todo obreiro cristão deveria exaltar o seu ofício. Talvez sejamos pobres, mas jamais deveremos perder a digni­dade de nosso chamamento. Mas, e se as pessoas a quem nos dirigimos se recusarem a receber-nos? O Senhor antecipou essa questão e lhe deu resposta em Lucas 9.5 -"E onde quer que não vos receberem, ao sair daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles". Estão percebendo nessas palavras a digni­dade dos servos do Senhor? Não há qualquer vislumbre de auto-compaixão devido à má acolhida de que forem vítimas; não há introspecção, não há perguntas em tom de dúvida quanto à orientação recebida; nada há de negativo ou de fraco. Pelo contrário, os servos do Senhor são fortes e cheios de dignidade, porquanto nada neles é excuso.

Vamos aproveitar algo mais a esse respeito, en­quanto notamos as instruções dadas pelo Senhor aos discípulos, quando multiplicou pães para a multidão. Numa das multiplicações de pães Ele estivera ensinando uma audiência de cinco mil homens, sem incluir mu­lheres e crianças. Quase no fim do dia os discípulos sugeriram que, visto estarem num local desértico, seria conveniente despedir as multidões para que pudessem comprar alimentos pelas aldeias. "Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se, dai-lhes vós mesmos de comer" (Mateus 14.16). Um dos discípulos ficou bas­tante alarmado ante a possibilidade de ter de arranjar alimentos para tanta gente, e protestou que seria mister uma considerável soma de dinheiro para comprar o sufi­ciente para que cada pessoa recebesse ao menos uma migalha; e. em face disso, o Senhor perguntou quanto alimento tinham realmente à mão. Foram capazes de localizar cinco pães e dois peixinhos, que Lhe foram trazidos, e, devido à Sua bênção sobre tão escasso supri­mento, houve tanta abundância que todos se fartaram e ainda sobrou muito.

Por intermédio desse milagre, Cristo demonstrou para os Seus discípulos que a sabedoria do mundo não deve vigorar quando se trata de Seu serviço. Por mais escassos que sejam os recursos que tivermos à mão, devemos estar preparados para dar, dar e dar. As pessoas que sempre se deixam influenciar pelas considerações financeiras são escravas das riquezas, e não servas de Deus. Porém, leva tempo aprender essa lição. Os dis­cípulos não a aprenderam imediatamente, razão por que, apôs a miraculosa multiplicação dos pães para os cinco mil homens, o Senhor os pôs novamente em circuns­tâncias similares. Nessa outra oportunidade, uma mul­tidão de cerca de quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças, haviam-No seguido pelo espaço de três dias, quando então Ele disse: "Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanecem co­migo e não têm o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleçam pelo caminho" (Mateus 15.32). Era óbvio que os doze ainda não haviam aprendido essa lição, porquanto dessa vez a sua reação foi idêntica à da ocasião anterior - "Onde haverá neste deserto tantos pães para fartar tão grande multidão?" Agora, como na vez anterior, eles racioci­navam à base das circunstâncias prevalentes e da falta de suprimentos para satisfazer à demanda. Novamente, entretanto, o Senhor simplesmente indagou de quanto dispunham; e quando Lhe apresentaram sete pães, por causa de Sua bênção teve lugar outro milagre, e outra multidão comeu até fartar-se, e ainda sobrou muita coisa.

Por ocasião do Pentecostes, os discípulos viram-se a braços com multidões de almas em necessidade espi­ritual; mas já haviam aprendido a sua lição e, contando com os recursos divinos, se tornaram ministros da vida eterna, certa ocasião, para nada menos de três mil almas, e, posteriormente, para nada menos de cinco mil pessoas. (Ver Atos 2.41 e 4.4). Foi mediante a disciplina que os discípulos se transformaram em homens capazes de estar à altura da necessidade do Senhor, e não será sem disciplina que nós, igualmente, ficaremos equipados para servi-Lo. Poderemos ser tão frugais quanto qui­sermos, quando os nossos negócios particulares esti­verem em pauta, mas não devemos tentar ser mesquinhos no serviço do Senhor, pois isso Lhe tirará a oportunidade de operar prodígios em favor das multidões. Nosso intuito de frugalidade tão só impedirá Seus pro­pósitos e empobrecerá nossas vidas. Precisamos nos submeter ao treinamento Daquele que treinou aos doze, como igualmente aos setenta discípulos; embora mesmo debaixo de Suas instruções um dos doze não tivesse sido qualificado para o serviço e tivesse de ser rejeitado como um ladrão. Judas chegou ao extremo de observar Maria, que ungia ao Senhor com um perfume preciosíssimo, para então calcular friamente quanto dinheiro poderia ter sido dado aos pobres, se o ungüento houvesse sido vendido e o apurado fosse entregue aos seus cuidados. Judas só podia ver um desperdício sem propósito naquela liberal expressão de amor de Maria pelo Senhor; mas Jesus valorizou a ação, reputando-a de grande valor para Ele mesmo. "Ela praticou boa ação para comigo", disse Ele; e ajuntou a decla­ração que por onde quer que o evangelho fosse anun­ciado, essa pura expressão do poder do evangelho também seria propalada. (Ver João 12.1-8 e Mateus 26.10-13). Quanto a Judas, que tinha um senso de valores tão pervertido, acabou vendendo o Senhor por trinta moedas de prata.

Não, não precisamos ter receio de extravagâncias, se é no Senhor que estamos vertendo o nosso amor e os nossos recursos. Algumas pessoas temem de tal modo ir a extremos que desde o começo de sua vida cristã podem calcular exatamente com quanto devem contribuir regularmente. Se, no primeiro arroubo de nosso amor pelo Salvador podemos mostrar-nos tão calculistas, como não o seremos quando o ardor de nossa afeição se tiver arrefecido?

Que imenso contraste entre Pedro e Judas Iscariotes! Judas era o tesoureiro dos apóstolos e, ao mesmo tempo que administrava os fundos comuns, se apropriava de uma parte do dinheiro para o seu uso pessoal. Pedro bem poderia ter melhorado a sua condição finan­ceira numa época em que um grande número de pessoas estava sendo salvo e vendia as suas possessões para con­tribuir para o tesouro comum dos crentes. No entanto, notemos o que ele disse ao aleijado que esmolava à porta do templo — "Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" (Atos 3.5,6). Dediquemo-nos hones­tamente em algum empreendimento secular se qui­sermos examinar o nosso aprimoramento financeiro; porém, se quisermos servir ao Senhor, deixemos resol­vido para sempre que a nossa preocupação consiste da promoção do evangelho, e que não gira em torno de nosso proveito próprio.

Examinemos de passagem a vida de Paulo e obser­vemos a sua atitude para com o dinheiro. Escutem a sua defesa, enquanto falava aos anciãos de Éfeso: "De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo" (Atos 20.33,34). Ao escrever aos crentes de Corinto, fez-lhes esta pergunta: "Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fosseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evan­gelho de Deus? " (II Coríntios 11.7). E perante estes, tal como fizera perante os crentes efésios, ele apre­sentou a sua defesa: "E, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me fal­tava; e em tudo me guardei, e me guardarei, de vos ser pesado. A verdade de Cristo está em mim; por isso não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia. Por que razão? É por que não vos amo? Deus o sabe. Mas o que faço, e farei, é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam" (versículos 9-12). Paulo não adotara uma atitude independente; estava disposto a aceitar ajuda financeira, conforme essa própria pas­sagem o demonstra; mas, mesmo em um período em que passava necessidades, nada quis receber dos crentes de Corinto, porquanto, se o fizesse, não poderia fazê-lo visando aos interesses do evangelho naquela localidade. Pois na região inteira da Acaia havia pessoas que procu­ravam desacreditar o seu ministério, e ele estava resol­vido a não dar lugar a qualquer dúvida atinente ao seu caráter. Será que ele não aceitava qualquer sustento da parte deles porque pouco os amava? Ele responde à sua própria indagação — "Deus o sabe". Paulo estava cônscio da dignidade de seu ofício, e a resguardava ciosamente. Dele aprendemos a atitude de rejeitar quaisquer dádivas que possam lançar na dúvida o ca­ráter de nosso ministério.

Quão constrangido se sentia Paulo a pregar o evan­gelho! Ele não podia fazer outra coisa, mesmo que para isso tivesse de trabalhar horas extras, em algum negócio, a fim de que não se transformasse numa carga para outros; e não somente provia para as suas necessidades pessoais, como também para as de seus companheiros. Seu agudo senso de responsabilidade jamais o deixou satisfeito por possuir o suficiente para si mesmo. Fi­camos muito aquém do que deveríamos ser, como obreiros cristãos, se só podemos exercer fé no tocante à satisfação das nossas próprias necessidades, mas a nossa fé não abarcar igualmente as necessidades alheias. Geral­mente pensamos que, à semelhança dos levitas, temos o direito de esperar que o povo de Deus nos ofereça os seus dízimos; entretanto, inclinamo-nos por olvidar que os levitas, por sua vez, estavam na obrigação de oferecer os seus dízimos. Os obreiros cristãos de tempo integral correm o perigo de se tornarem tão obcecados, pelo muito do que têm deixado, que sempre esperam apenas receber, perdendo de vista, por completo, sua responsabilidade e seu privilégio de contribuir, essa atitude é fatal para o progresso espiritual do obreiro, pois todo crente, sem importar quão exígua seja a sua renda, sempre deve ser um contribuinte. Se sempre receberem, sem jamais contribuírem, serão conduzidos à estagnação. E se não desempenharmos qualquer res­ponsabilidade financeira para com os outros, Deus nos confiará pouco. Em sua segunda epístola aos Coríntios, Paulo se utiliza da seguinte expressão: "...pobres, mas enriquecendo a muitos" (6.10). Sim, aquele homem conhecia o seu Deus! Não importava quão profunda fosse a sua própria necessidade, ele estava sempre preocupado com o enriquecimento de outras vidas, e o que é mais admirável é que sempre se mantinha em posição de enriquecê-las.

Irmãos e irmãs, se em qualquer lugar o caráter do ministério que lhes foi confiado for posto em dúvida, então, visando à honra do ministério, não ousem aceitar sustento. Cumpre-lhes deixar a sua posição perfeita­mente clara; mas, mesmo depois de rejeitar sustento, não se devem esquecer de sua obrigação para com o próximo. Se tiverem a esperança de aumentar os seus rendimentos, então aumentem as suas contribuições. A experiência de muitos dos filhos do Senhor confirma as Suas próprias palavras -"Dai, e dar-se-vos-á" (Lucas 6.38). Essa é uma lei divina, e só podemos violá-la com prejuízo próprio. O crente gere os seus negócios sobre bases diametralmente opostas do que o faz o in­crédulo. Este último poupa a fim de enriquecer; mas o crente se enriquece quando dá. Quiçá o crente não possa aumentar a sua conta bancária com contribuições, mas desse modo é capaz de ir aumentando cada vez mais a sua participação na experiência de Paulo "pobres, mas enriquecendo a muitos".

Quase ao encerrar a sua segunda epístola aos coríntios, ao escrever-lhes sobre a sua esperança de visitá-los dentro em breve, Paulo declara: "Eis que pela terceira vez estou pronto a ir ter convosco, e não vos serei pesado; pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos" (12.14). Obser­vem com quanta freqüência Paulo se refere à sua atitude para com as questões financeiras em suas epístolas aos crentes de Corinto, mas sempre que fala sobre a sua própria atitude, aproveita a oportunidade para instruí-los; doutro modo, bem poderiam ter imaginado que ele adotava uma atitude independente, por haver ficado ofendido com as críticas assacadas contra ele e contra o seu ministério. Embora as circunstâncias especiais em que Paulo fora colocado fizesse necessário que se absti­vesse de receber ajuda financeira da parte dos coríntios, era ele tão franco e tão liberto que pôde encorajá-los a enviarem ajuda para os santos necessitados de Jeru­salém, e, igualmente, pôde jactar-se da liberalidade dos coríntios perante as igrejas da Macedônia. Pessoal­mente, Paulo não precisava do dinheiro deles, mas esse dinheiro era necessário em outros lugares, e Paulo desejava que contribuíssem abundantemente para o próprio enriquecimento deles, e também para o enrique­cimento de outros crentes.

Gostaria de perguntar se, enquanto vocês se loco­movem entre os filhos do Senhor, à semelhança de Paulo, sempre podem estabelecer a diferença entre "vós" e o que "é vosso". Em todas as suas relações com eles, vocês estão visando a "eles" ou ao que "é deles"? Se eles olham para vocês com desconfiança e negam-lhes o que "é deles", podem vocês ainda dar, sem reservas, daquilo que lhes pertence, ou, pelo contrário, o desejo que vocês têm em ministrar a eles desaparece quando, da parte deles, não há qualquer estímulo em forma de vantagem financeira? De conformidade com o ponto de vista natural, Paulo teria sobejas razões para abandonar aos coríntios, mas não podia deixá-los sozinhos, e agora, pela terceira vez, planejava visitá-los. Ele rejeitava o que "era deles", mas continuava dese­jando a "eles" mesmos, E quão autêntica era essa sua atitude transparece crescentemente enquanto ele abria o seu coração para eles, em suas cartas. A seqüência da passagem que citamos dá prosseguimento aos mes­mos sentimentos: "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas. Se mais vos amo, serei menos amado? Pois seja assim, eu não vos fui pesado; porém, sendo astuto, vos prendi com dolo. Porventura vos explorei por intermédio de alguns daqueles que vos enviei? Roguei a Tito, e enviei com ele o irmão; porventura Tito vos explorou? Acaso não temos andado no mesmo espírito? não seguimos nas mesmas pisadas? (II Coríntios 12.15-18). Vejam a atitude do coração de Paulo nessas palavras! Como ele se derramou em favor dos crentes de Corinto! E como derramou de seus recursos, por semelhante modo! Se­remos indignos de nosso alto chamamento como prega­dores do evangelho se não pudermos investir tudo quanto somos e tudo quanto temos nessa atividade.

Por outra parte, notemos que Paulo aceitou o au­xílio financeiro enviado da Macedônia, pois, sob cir­cunstâncias normais é correto que o obreiro cristão receba contribuições da parte de seus irmãos na fé. Paulo não aceitava doações de modo indiscriminado, e também não as rejeitava indiscriminadamente. Ele era dotado de percepção espiritual e, caso as condições espirituais do doador fossem corretas, então Paulo se tornava um grato recebedor. Nós, igualmente, deverí­amos discernir entre aquilo que nos compete aceitar e aquilo que nos convém rejeitar, livrando-nos da atitude por demais generalizada de aceitar todas as dádivas que nos são oferecidas.

Passemos agora a considerar a epístola de Paulo aos Filipenses, a fim de determinarmos sua atitude ao receber ofertas daqueles santos. Eis como ele lhes escreve: "E sabeis também vós, ó filipenses, que no início do evangelho, quando parti da Macedônia, ne­nhuma igreja se associou comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito" (4.15-17). Paulo referiu-se com gratidão à oferenda da igreja de Filipos; porém, ao fazê-lo, declarou que a sua principal alegria por haver recebido o donativo consistia, não do enriquecimento que isso lhe trouxera, mas do enri­quecimento dos próprios doadores; e ato contínuo adicionou esta observação: "Recebi tudo, e tenho abun­dância". Que contraste faz isso com as usuais cartas de agradecimento pelas dádivas recebidas! Mui geral­mente tais cartas salientam quão grande é a necessidade que ainda resta satisfazer, com a intenção, consciente ou inconsciente, de estimular novo ato de generosidade. Leiamos uma vez mais as palavras de Paulo e as tor­nemos nossas: "Recebi tudo, e tenho abundância". Aqui não há a mais leve indicação de necessidade. Pelo contrário, há tudo para deixar a impressão de total satisfação. Que puro espírito aprimorado era o de Paulo! Quão livre era ele da servidão às riquezas!

Entretanto, vamos prosseguir na leitura: "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades". Paulo exprime agradecimento por toda a ajuda material que lhe chegara às mãos através dos santos de Filipos, mas jamais perde de vista a dignidade do seu ofício. No tocante à dignidade espiritual ele nada sacrifica, nem mesmo quando reconhece a sua dívida de gra­tidão para com eles. Paulo não se deixava prender às doações que lhe eram oferecidas. Expressava volun­tariamente a sua gratidão, mas deixava patente que reconhecia que tais dádivas eram feitas a Deus - "como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus". Não obstante, visto ser participante da oferta que faziam a Deus, agora proferia uma bênção que ultrapassa a todos os donativos dos filipenses, dizendo - "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas neces­sidades". Quão rico era Paulo! E quanta abundância ele extravasava sobre os outros! Que nos possamos aliar à singeleza de coração desse homem, dizendo então, conforme ele acrescentou: "Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém".

Finalmente, verifiquemos qual a atitude de Paulo em relação aos fundos da congregação. Em 11 Coríntios 8.1-4, escreve ele: "Também, irmãos, vos fazemos co­nhecer a graça de Deus, concedida às igrejas da Mace­dônia; porque no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda po­breza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos".

Tendo sabido da fome em Jerusalém, Paulo infor­mara aos irmãos da Macedônia acerca da necessidade que havia ali. Embora os próprios macedônios estivessem em apertura financeira, ficaram tão comovidos com essa notícia que se negaram a satisfazer às suas próprias necessidades, a fim de enviarem alívio para os seus irmãos, e, movidos de júbilo, enviaram doações acima do que as suas posses lhes permitiam. Tais dádivas por certo não foram feitas sob a obrigação do dever, pois lemos que rogaram fervorosamente ao apóstolo que se lhes fosse permitido ministrar para as necessidades dos santos de Jerusalém. Estavam tão autenticamente vinculados pela mesma vida aos seus irmãos na fé que a sua consciência predominante não dizia respeito à sua própria necessidade imediata, e, sim, à necessidade de membros distantes do Corpo de Cristo. O fato que haviam implorado esse favor, mostra-nos que o apóstolo hesitara em encorajá-los em sua auto-negação, visto que a necessidade deles era tão aguda; mas a importunação deles venceu toda relutância de Paulo. A atitude dos macedônios foi digna de encômios, como também o foi a atitude de Paulo. Achando-se em posição de respon­sabilidade, Paulo não ousava ignorar a necessidade dos irmãos locais, em sua ânsia de aliviar irmãos de outras paragens; mas os macedônios se sentiam tão libertos do senso de sua própria necessidade e tão autentica­mente preocupados pela necessidade dos irmãos que Paulo não pôde deixar de reconhecer a ação de uma vida coletiva, e assim lhes concedeu o pedido. Que belo quadro sobre a relação entre um servo de Deus e aqueles a quem ele busca servir! Nós, que nos chamamos de obreiros cristãos, não devemos saltar de alegria à pri­meira visão de dinheiro oferecido pelos santos para as nossas próprias necessidades ou para as necessidades de outros, mas antes devemos considerar bem as circuns­tâncias dos doadores, a fim de que, em seus cuidados pelos seus irmãos na fé, não cheguem ao ponto extremo de se privarem daquilo de que precisam.

Tendo dado sua aprovação à contribuição dos santos de Corinto aos santos que se achavam em Jeru­salém, agora Paulo os orientava na coleta dos donativos e no envio dos mesmos até seus destinatários. Nova­mente, podemos aproveitar da mesma epístola aos Coríntios: "Mas, graças a Deus", escreve ele, "que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de vós... e, mostrando-se mais cuidadoso, partiu volun­tariamente para vós outros. E com ele enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas. E não só isto, mas foi também eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça, ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor...evitando assim que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens. Com eles enviamos nosso irmão, cujo zelo em muitas ocasiões e de muitos modos temos experimentado" (8.16-22). Notem quão cauteloso foi Paulo em todo esse negócio. Já perceberam como ele não manuseou pessoalmente o dinheiro? Tito é quem recebeu a res­ponsabilidade de fazer a coleta. E dois outros irmãos altamente reputados foram nomeados para acompa­nhá-lo - "o irmão cujo louvor no evangelho está espa­lhado por todas as igrejas" e o irmão "cujo zelo em muitas ocasiões e de muitos modos temos experimen­tado". A administração das finanças da igreja nunca deve ser deixada ao encargo de uma única pessoa; sempre deveria ser manuseada conjuntamente, ao menos por duas ou três pessoas.

Devido à necessidade de se exercer cuidado ex­tremo no tocante às questões de dinheiro, Paulo, escre­vendo tanto a Timóteo quanto a Tito, declarou que nenhum indivíduo cobiçoso deveria ser investido da posição de ancião em uma congregação local (ver I Timóteo 33 e Tito 1.7). E, em I Timóteo 3.8, a mesma estipulação é apresentada quando o apóstolo aborda o ofício dos diáconos. Ninguém está qualificado a ocupar uma posição de responsabilidade na igreja se não sabe manusear fielmente o dinheiro. Pedro frisa o mesmo ponto que Paulo: "Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade" (I Pedro 5.2).

A cobiça é um problema que exige tratamento drástico, porquanto, a menos que o solucionemos de maneira radical, cairemos em dificuldades mais cedo ou mais tarde. Que pela graça de Deus possamos andar corretamente em todas as nossas questões financeiras; e que possamos ser capacitados a assumir responsabi­lidade perante Ele, não somente para satisfação de todas as nossas próprias necessidades materiais, mas também para satisfação, na medida de nossa capacidade, das necessidades de nossos companheiros na fé.


Leitura: João 8.44; Mateus 12.19 e II Timóteo 2.24.

A absoluta lealdade à verdade é uma questão que deve receber prioridade na vida de todo obreiro cristão. E possível, e de fato não acontece raramente, que um obreiro modifica a verdade por estar sendo influen­ciado pelos homens, pelas circunstâncias, ou pelos seus próprios desejos. A verdade é absoluta, e exige lealdade inabalável da parte de todos os homens e em quaisquer circunstâncias. Se necessário for, podemos sacrificar tudo quanto possuímos, mas não ousemos sacrificar a verdade. Jamais devemos tentar incliná-la segundo os nossos propósitos, mas nós mesmos nos devemos encurvar a ela.

Todos temos o pendor de ignorar a verdade, quando ela entra em conflito com os nossos interesses pessoais. Se nos encontramos em um dilema, ou se a calamidade atinge o círculo de nossa família, ou se um amigo íntimo sofre alguma aflição, quão pronta­mente nos dispomos a alterar as nossas convicções a fim de nos livrarmos de alguma situação embaraçosa, ou a fim de salvar os nossos entes queridos de qualquer tribulação que possa ser desviada se acomodarmos a ver­dade às circunstâncias do momento!

Por exemplo, o filho de um obreiro cristão ex­pressa o seu desejo de ser batizado. Se seu pai estiver determinado a sustentar a verdade, entregará o seu filho ao escrutínio dos principais irmãos da igreja, conforme faria com o filho de qualquer outra pessoa, deixando nas mãos deles a decisão se o jovem está apto ou não para ser batizado; porém, visto que esse candi­dato particular é o seu próprio filho, ele procura fazer certas modificações em seu caso. Sua idéia fixa é que o seu filho seja batizado; pois não está resolvido a sus­tentar a veracidade da Palavra de Deus. Se a sua preocu­pação primária fosse exaltar a Palavra de Deus, livrar-se-ia de todo juízo antecipado no tocante a seu filho, e sentir-se-ia perfeitamente receptivo para com a opinião dos outros.

Consideremos uma outra ilustração. Em certo lugar levanta-se uma controvérsia sobre pontos de dou­trina. Certo número de santos se dispõe favoravelmente em defesa de um obreiro particular e alia-se a ele, ao mesmo tempo que outra porção dos membros demons­tra preferência por um outro obreiro, e lhe empresta o seu apoio. Nesse caso, infelizmente, nenhuma das partes se entregou totalmente à verdade, porquanto ambas transigiram alicerçados na afeição pessoal. Oh, quão insidiosamente as nossas afeições influenciam as nossas decisões, de tal maneira que chegamos a per­verter a Palavra de Deus, em lugar de capitularmos diante dela.

O rigor da Palavra divina não deve ser rebaixado para que se harmonize com os nossos padrões. Não podemos contemporizar com ela, nem mesmo quando ela mostrar as nossas deficiências; compete-nos procla­má-la tal e qual ela é - eternamente inalterável e inva­riavelmente transcendental em relação à nossa com­preensão e às nossas realizações. Cumpre-nos sustentá-la permanentemente, até mesmo quando ela contradisser a nossa experiência ou deixar estupefato o nosso intelecto. E, acima de tudo, devemos cuidar para que não a exponhamos de uma maneira, quando ela afeta outras pessoas, para em seguida suavizá-la, quando tiver de ser aplicada a nós mesmos, ou às nossas respectivas famílias, ou aos nossos amigos. Aceitemos essa adver­tência, pois existe aqui uma armadilha sutil.

Muitas dificuldades se multiplicam nas igrejas porque os crentes sacrificam a verdade, não querendo sacrificar os seus interesses pessoais. Um dos membros de certa igreja local deixou entendido que não conti­nuaria freqüentando os cultos porque algo sucedera na igreja a respeito do que ele não fora notificado. Que percebera aquele irmão sobre a natureza absoluta da verdade? Se fosse correto para ele descontinuar a sua conexão com os outros irmãos, então mesmo que o ti­vessem notificado ele estaria na obrigação de fazê-lo; e se não fosse legítimo para ele separar-se deles, então não tinha qualquer direito de interromper a sua co­munhão baseando-se no fato que não fora informado sobre alguma questão da comunidade. Se nos encon­tramos em uma associação que não está em harmonia com o propósito revelado de Deus, nesse caso devemos abandonar tal posição; mas se, por outro lado, a nossa posição está de conformidade com o Seu propósito mas nos envolve em alguma dificuldade, não devemos reputar a verdade como uma bagatela, para em seguida nos justificarmos de haver saído por causa de dificuldades. Quem somos nós para insistir em que os nossos irmãos na fé mostrem deferência para conosco? E quem somos nós para ousar pôr de lado a Palavra de Deus, somente porque ela nos envolve em situações embaraçosas? Oh! somos por demais presunçosos e ousados. Enquanto a nossa vida própria não for abafada, nunca seremos autênticos servos de Deus. Devemos aprender a consi­derar a Sua Palavra sem paixões, quer nos seja vantajosa quer não a sua aceitação. Se ao menos pudéssemos perceber a verdadeira natureza da Palavra de Deus, não viveríamos a obscurecer a sua glória, colocando-nos em primeiro plano. Salvemo-nos de nossa presunção!

Utilizemo-nos de uma outra ilustração. Um irmão ouviu certa congregação local ser acerbamente criticada por determinadas pessoas; porém, mais tarde se uniu à mesma, e, em seus contactos com os crentes dali sempre se expressava de modo favorável, embora nunca tivesse examinado honestamente a situação, mas sim­plesmente sondava o seu caminho entre os irmãos e se mostrava polido de modo geral. Passado algum tempo, um dos irmãos dali, percebendo a sua condição espiritual e desejando ajudá-lo, tratou do caso honestamente com ele, "falando a verdade em amor". Imediata­mente ele se ressentiu do que lhe foi dito e separou-se do grupo, espalhando toda sorte de maledicências sobre o mesmo. A esse irmão faltava uma atitude fixa em referência à verdade e, por essa razão, podia torcê-la sempre que ela afetava o seu bem estar pessoal. Se hou­vesse inquirido honestamente a verdade e também se se tivesse dobrado perante suas implicações, teria to­mado uma atitude firme em relação ao grupo desde o início, se a verdade assim o tivesse exigido; mas, se a verdade requeresse que ele se identificasse com aqueles irmãos, nem mesmo a mais severa correção pessoal poderia levá-lo a romper sua ligação com eles.

Apelando novamente para uma ilustração. Certo obreiro cristão tinha o talento da liderança e se sentiu inclinado a seguir determinado curso de ação; sendo ele um líder, inevitavelmente outros crentes passaram a segui-lo pelo mesmo caminho. Se a senda que aquele líder resolveu tomar era correta, não foi o fato de se ter enveredado por ela que a tornava correta; e se era errada, o fato de tê-la escolhido não a corrigia, não importando quão zeloso fosse ele como crente. Se, em data posterior, aquele homem viesse a cair em um pecado, seu pecado não tornaria errado o curso de ação que tomara. Tenham tolerância comigo se agora repito que a verdade de Deus é absoluta, e que não é o fato que este ou aquele a apóia que a torna assim: porquanto ela o é inerentemente. Entretanto, existe certa tendência em nós que nos leva a fixar a vista nos homens e a concluir que se alguém que julgamos ser pessoa espiritual segue por um determinado caminho, que esse deve ser o caminho certo; e que se alguém que está em más condições espirituais toma um curso de ação qualquer, que esse curso necessariamente está errado. Vocês deixariam de ser crentes só porque certos crentes que conhecem são tão deficientes? Repudiariam o cristianismo somente porque alguns crentes caem em pecado? Não confiariam mais no Senhor, por causa do fracasso de alguém que professa confiar Nele? Por certo que não. Se o Senhor é digno de confiança, de­vemos continuar confiando Nele. A questão não gira em torno da reação dos homens para com a verdade, mas gira em torno da própria verdade.

Alguns irmãos nos têm dito: "Como agradeço a Deus por haver-me conduzido a estas reuniões locais! Tenho recebido aqui uma grande ajuda espiritual". Não ficamos demasiadamente jubilosos com tais obser­vações. Pois elas não indicam que a natureza absoluta da verdade tenha sido reconhecida por eles. Sempre haverá a possibilidade de que as pessoas que nos fazem tais observações freqüentem os nossos cultos simplesmente por se sentirem atraídas por eles. Mas, esperemos até que alguma coisa transpire e que isso não seja aprovado por elas, e então veremos se elas não julgam a congregação de modo inteiramente errôneo. Se um lugar está errado, está errado; se está certo, está certo. Não é o fato que sou bem ou mal tratado ali que o torna certo ou errado. A verdade deve ser o único fator determinante de todas as nossas associações; mas, se assim tiver de ser, então este nosso ego que deforma os nossos juízos deve ser abafado.

As numerosas divisões existentes na Igreja e as muitas dissensões na obra seriam eliminadas se ao menos nossas preferências pessoais pudessem ser eliminadas. Se simplesmente capitulássemos perante a verdade, sem importar os seus efeitos sobre nós, não só seriam resol­vidos os problemas das igrejas e da obra em geral, mas até os nossos próprios problemas chegariam ao fim. Naturalmente, nós, os crentes, jamais toleramos o pen­samento de abandonar a verdade; mas permitimos um leve desvio aqui e um pequeno desvio acolá, e gradual­mente a verdade deixa de produzir o seu impacto sobre nós. O resultado disso é que acabamos perdendo o nosso senso de direção e ficamos a vagar para um lado e para o outro. Se as pessoas nos tratam bem, então andamos pelo caminho que Deus nos tiver mostrado, mas, se nos tratam mal, então buscamos outro ca­minho. Quão importantes somos aos nossos próprios olhos! Ocupamos o lugar que deveria ser ocupado pela verdade. Fazemos de nós mesmos o eixo de todo o universo, e tudo o mais é posto a girar em relação a nós.

Oh, irmãos e irmãs, o que importa é a verdade, e não o seu efeito sobre minúsculas criaturas como vocês e eu. A verdade pode exigir de nós que interrompamos a mais feliz das relações pessoais em troca de uma constante associação com pessoas incompatíveis conosco. Pois não é a felicidade dominante em nosso ambiente que prova que a nossa associação seja correta, nem é a incompatibilidade natural com os nossos associados que mostra que essa ligação é errada. Vamos estabelecer, de uma vez por todas, que a verdade é final e que deve governar todas as nossas associações e todos os nossos pareceres. Nem mesmo nos tribunais terrenos é permitido que as preferências pessoais de um juiz influenciem os seus vereditos. Ele não pode obedecer aos ditames de seu coração recusando-se a proferir a palavra "culpado" ao seu próprio filho, se a lei tiver demonstrado a culpa deste; e não pode deixar de pronunciar o seu inimigo "inocente", se a lei assim o exigir. A lei é absoluta, e um juiz está na obrigação de submeter-se a ela.

Se, na qualidade de um corpo de cooperadores na obra cristã, nos subordinássemos incondicionalmente à verdade, quão rápida e suavemente seriam tomadas as nossas deliberações, e como a obra seria próspera! Quando a nossa única consideração for a vontade do Senhor, seremos poupados de muitas discussões infrutíferas, e com prontidão chegaremos a conclusões claras; até chegarmos a esse ponto, entretanto, gastare­mos longo e precioso tempo a discutir as nossas opiniões individuais, e teremos que medir as nossas palavras, apelando para a diplomacia, a fim de agradar a todos. Estaremos sempre a pensar se o irmão fulano se ofen­deria caso fizéssemos isto ou aquilo, se o irmão sicrano se recusaria a cooperar se assumíssemos uma atitude diferente, e quais concessões seriam necessárias para conciliar o irmão beltrano. E ainda que as nossas caute­losas considerações sobre as opiniões uns dos outros, e mesmo que os nossos constantes ajustamentos às convicções alheias, nos salvassem de impasses, que tería­mos ganho com isso, já que transigimos com a verdade?

Se, em lugar de lisonjear uns aos outros e de traçar planos e normas políticas capazes de preservar a paz entre nosso grupo de cooperadores na obra cristã, cada qual aceitasse a verdade como algo final e se sujeitasse humildemente a ela, então as bênçãos do Senhor seriam derramadas sobre a associação inteira. Oxalá a nossa única preocupação fosse descobrir a vontade de Deus para, simplesmente, fazermos aquilo que Ele nos diz!

Que seja essa a nossa mais séria atividade. Não nos devemos esquecer, porém, que na obra do Senhor não há lugar para nossas atividades egoísticas. Talvez se­jamos compelidos por um autêntico desejo de que a obra prospere, ao procurarmos exercer influência sobre outras vidas; e é mesmo possível levá-las a acei­tarem a verdade, mas o fim não justifica os meios. A verdade é por demais grandiosa para exigir as nossas manipulações. Bem podemos confiar em sua inerente autoridade para que produza o seu devido impacto. A nós compete submeter-nos a ela, com humildade de coração.

***FIM***