sábado, 18 de agosto de 2012

O Obreiro Cristão Normal Watchman Nee 1º parte


O Obreiro Cristão Normal 1º parte

Watchman Nee




Leitura: Mateus 25.14-30; II Timóteo 4.2; II Pedro 1.5-15; João 5.17 e 4.35.

A vida diária do obreiro cristão está relacionada intimamente com o seu trabalho. E, por essa razão, ao considerarmos as qualificações necessárias para o ser­viço cristão, precisamos levar em conta questões como disposição e conduta. A fim de estar preparado para o serviço espiritual, o homem deve ser dono não apenas de determinado lastro de experiência espiritual, mas igualmente de certo tipo de caráter. O caráter do obreiro deve condizer com o caráter da obra, e o desen­volvimento do caráter de uma pessoa não ocorre em um dia. Se um obreiro tiver de possuir aquelas quali­dades necessárias para que seja útil ao Senhor, então é mister serem consideradas muitas questões práticas atinentes à sua vida diária. Terá ele de desfazer-se de hábitos antigos e de formar novos costumes, mediante a disciplina, e sua vida terá de ajustar-se fundamental­mente à obra, para que se harmonize com ela.

Há certos jovens que desde o início de sua vida cristã manifestam qualidades que nos levam a esperar que se tornem úteis servos de Cristo; por outro lado, existem aqueles que, embora não lhes faltem dons, cedo tropeçam pelo caminho e atraem opróbrio para o nome de Cristo. Pergunta-se, pois, como se explica o desenvolvimento tão variado das vidas dos obreiros cristãos? Seja-me permitido responder francamente que há certas características básicas na constituição de cada um que determinam se terão ou não valia para o Se­nhor. Um jovem pode exibir certas inclinações que pare­cem promissoras para o futuro; todavia, se determinadas qualidades fundamentais não estiverem presentes, certa­mente ele será um desapontamento para outros. Pode ter ele autêntico desejo de servir ao Senhor, mas falta-lhe a disposição de ser um verdadeiro servo. Jamais pude­mos encontrar um obreiro cristão que fosse um bom obreiro, se porventura lhe faltasse o domínio-próprio necessário; e jamais conhecemos uma pessoa desobedi­ente que se mostrasse um servo útil para o Senhor.

Há certas características sem as quais ninguém pode ser um obreiro cristão satisfatório, tornando-se necessário, desse modo, um processo de destruição e reedificação, a fim de que o Senhor possa obter obreiros que satisfaçam às Suas exigências. A dificuldade de muitos candidatos à obra do Senhor não consiste de ignorância ou falta de habilidades, mas reside no fato que o errado é o próprio indivíduo; há algo de funda­mental que está ausente em sua constituição. Por conse­guinte, é necessário que nos humilhemos perante Deus, submetendo-nos à disciplina própria, se aquilo que porventura estiver faltando em nosso caráter tiver de ser corrigido. Demoremo-nos um pouco em Sua presença, buscando descobrir algumas daquelas qualidades reque­ridas de todos quantos tiverem de servi-Lo de modo aceitável.

Uma dessas qualidades é a diligência. Parece supérfluo dizê-lo, mas realmente é essencial afirmar de maneira enfática que o obreiro cristão deve ser pessoa dotada da vontade de trabalhar. No evangelho de Mateus lemos acerca da história dos servos aos quais foram entregues cinco talentos, dois talentos e um talento, respectivamente. Quando, após longa ausência, o senhor daqueles servos regressou e exigiu que prestassem contas de sua custódia, o servo que recebera um único talento, disse: "Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez. . E o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes" (25.24-30).

Esse trecho das Escrituras demonstra que o Senhor requer que cada servo Seu seja diligente no serviço que Lhe presta. Ele indicou claramente a falha funda­mental na vida do servo que nos foi retratado acima. Tal falha era dupla: ele era "mau" e "negligente". A sua maldade ficou manifesta no fato que ousou chamar seu senhor de "homem severo". Não frisaremos aqui este aspecto do seu caráter, mas falaremos a res­peito de outro aspecto, isto é, de sua negligência.

A preguiça não é um defeito raro. Os preguiçosos nunca buscam trabalho, e, ainda que cheguem a empregar-se, buscam evitar todo esforço. Infelizmente, muitos crentes, como também descrentes, sofrem dessa fraque­za, e servem de empecilho para com os seus compa­nheiros. Já tiveram a oportunidade de conhecer algum obreiro cristão eficaz que também fosse indolente? Não, mas todos os tais são diligentes e estão sempre alertas, não desejando desperdiçar tempo ou esforços. Não vivem à cata de oportunidade para descansar, mas, pelo contrário, buscam aproveitar cada ocasião opor­tuna para servirem ao Senhor.

Contemplem os apóstolos. Quão diligentes foram eles! Pensem no colossal trabalho realizado por Paulo no decurso de sua vida. Vejam-no a viajar de lugar para lugar, pregando o evangelho onde quer que se encontrasse, arrazoando intensamente com indivíduos; até mesmo quando foi lançado numa prisão, não deixou de aproveitar tal oportunidade — pregava para todos com quem entrava em contacto e escrevia para aqueles de quem fora separado. Leiam o que ele escreveu para Timóteo, quando estava encarcerado: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não" (II Timóteo 4.2). A prisão podia restringir os movimentos externos de Paulo, mas não era capaz de cercear a eficácia do seu ministério. Quantas riquezas espirituais ele ministrou por intermédio de suas epístolas escritas na prisão! Não havia o menor resquício de preguiça em Paulo; ele estava sempre aproveitando o tempo.

Infelizmente, muitos obreiros cristãos declarados não fazem o esforço de buscar oportunidade para servir ao Senhor; e se alguém se aproxima deles sem ter sido convidado, consideram isso uma interrupção, e não uma oportunidade, e tão-somente almejam que tal pessoa logo se vá embora e deixe de aborrecê-los. Que nome vocês emprestariam a isso? Essa atitude se denomina preguiça.

Vocês já tiveram de tratar com trabalhadores que "amarram" o trabalho? Essas pessoas aceitam realizar alguma tarefa, mas elas se demoram e arrastam sobre­maneira o serviço, ao mesmo tempo que, se podem fingem estar trabalhando, pois não levam a sério o seu serviço, já que sua única preocupação é matar o tempo. Qual é a dificuldade que os aflige? É a mais franca preguiça.

Em sua epístola aos filipenses, escreveu Paulo: "A mim não me desgosta, e é segurança para vós outros, que eu vos escreva as mesmas cousas" (3.1). Embora Paulo estivesse encarcerado, não considerava um enfado ter de reiterar as mesmas coisas ao dirigir-se por escrito aos crentes de Filipos, visto que isso tinha em mira o bem deles. Como isso difere de muitos crentes! Se lhes solicitarmos que façam alguma coisa, reagem como se uma carga tremenda lhes houvesse sido imposta. A pessoa que reputa tudo como um fardo não pode ser um fiel servo do Senhor; nem ao menos pode ser um servo fiel dos homens. Alguns dos chamados "obreiros cristãos de tempo integral" são tão profunda­mente espirituais que não vêem necessidade de trabalhar arduamente ou de prestar contas de seu serviço a quem quer que seja. Se estivessem empregados em algum trabalho secular, nenhum patrão terreno os toleraria, face à indolência que caracteriza o seu serviço; e, no entanto, iludem-se, pensando que podem servir a Deus dessa maneira. Oh! nosso caráter precisa ser disciplinado até não mais considerarmos o trabalho como algo maçante, deleitando-nos em despender tempo, energias e recursos materiais, sem nenhuma restrição, a fim de servir aos outros! Paulo não só se derramava em seu ministério espiritual, mas também experimentava quão árduo pode ser o trabalho manual. Ouçamos a sua própria declaração:— "Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo" (Atos 20.34). Ali estava um verda­deiro servo do Senhor.

Alguns supostos obreiros cristãos têm, realmente, aversão ao trabalho, e sempre podem apresentar alguma desculpa para evitá-lo; a outros falta o impulso de buscar trabalho e simplesmente se deixam ficar no ócio, espe­rando que aconteça alguma coisa. Todo servo fiel a Cristo aproveita os momentos; mesmo quando não esteja externamente atarefado está internamente ativo, esperando no Senhor em autêntico exercício do coração. De certa feita, disse nosso Senhor: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5.17); noutra ocasião, fez aos discípulos esta pertinente pergunta: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? " E respondendo Ele mesmo à indagação, adicionou: "Eu, porém, vos digo: Erguei os vossos olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa" (João 4.35). Os discípulos estavam dispostos a esperar durante quatro meses até lançarem mãos à obra, mas nosso Senhor, na realidade, disse que já era chegado o tempo de se lançarem ao trabalho, e não somente em alguma data futura. "Erguei os vossos olhos e vede", disse Ele, indi­cando o tipo de trabalhador de que Ele precisava — alguém que não espera até que o trabalho chegue à sua presença, mas que tem olhos para ver o trabalho a ser feito. Nosso Senhor mantinha-se sempre alerta para cooperar com o Pai em tudo quanto estivesse fazendo; e, visto que o Pai estava sempre ativo, o Filho igual­mente se conservava ativo. Não é a fervente atividade de pessoas cujas inclinações para o desassossego as con­servam sempre agitadas que pode satisfazer à neces­sidade, mas esta necessidade pode ser satisfeita pelo espírito de alerta do servo diligente, o qual vem culti­vando o hábito de olhar para cima e sempre pode ver a obra do Pai, que aguarda sua cooperação. Infeliz­mente, pouquíssimos são os crentes que podem ver o que Deus está fazendo atualmente. É trágico, mas é possível que atravessemos os campos maduros para a colheita sem ao menos percebermos os grãos já ma­duros. É possível que o trabalho esteja bem defronte de nós sem ao menos nos darmos conta disso. Os crentes a quem falta esse senso de urgência na obra, que podem esperar confortavelmente pelo espaço de "quatro meses", antes de se lançarem à tarefa, são "servos inúteis". Cristo precisa de obreiros que apro­veitem zelosamente os momentos que passam, que nunca adiam o trabalho para o dia de amanhã, se puder ser feito hoje. Em alguns lugares não há ceifa pela simples razão que é muito grande o número de crentes que não gostam de trabalhar.

A diligência é essencial se tivermos de servir ao Senhor, mas ela consiste primariamente de uma questão do íntimo que não pode ser medida pelo volume externo de atividades. Não ousamos ceder perante a indolência da nossa própria constituição, razão pela qual também nos devemos esforçar por cultivar uma disposição diligente. Entretanto, de nada adiantará que nos obriguemos a trabalhar um pouco mais se formos preguiçosos por natureza, porquanto, após um período de trabalho duro certamente reverteremos aos antigos hábitos de indolência. O de que precisamos é de uma transformação radical em nossa constituição. Estamos familiarizados com as palavras que ensinam que o Senhor veio "buscar e salvar o perdido" — Ele veio não so­mente para entrar em contacto com os homens; mas veio procurá-los e salvá-los. Com que diligência Ele os bus­cava e salvava! É dessa disposição que precisamos.

No primeiro capítulo de sua segunda epístola escreve Pedro: "...reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o co­nhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseve­rança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor" (versículos 5-7). Essa adição sobre adição caracteriza cada pessoa diligente. Cumpre-nos cultivar a disposição que nunca cessa de adquirir novos territórios no reino espiritual, pois, desse modo, seremos servos úteis para o Senhor. Oh, precisamos ser intensamente positivos em Seu serviço! Alguns obreiros cristãos parecem completamente despidos de qualquer senso de responsabilidade; não percebem a vas­tidão do campo; não sentem quão urgente é que atinjam as extremidades da terra com o evangelho; tão-somente se ocupam de sua pequena área e esperam que coisas melhores sucedam. Se não viram uma única alma ser salva no dia de hoje, aceitam isso como questão consu­mada, e esperam vagamente que os resultados do dia de amanhã serão melhores; entretanto, se nenhuma delas for salva amanhã", simplesmente resignam-se novamente ante o inevitável. Como pode ser atingido o propósito do Senhor com obreiros de tal qualidade?

Pedro era feito de material diferente. Na passagem que acabamos de citar, o apóstolo procura ansiosamente despertar os seus leitores de tudo quanto, porventura, tenha sabor de passividade. Releiam esse trecho e obser­vem a energia divina que pulsa em todo o ser de Pedro, a qual ele busca comunicar a outros por meio de sua epistola. O que ele pretendia dizer é que logo que tenhamos adquirido uma virtude cristã, devemos, ime­diatamente, procurar suplementá-la com outra; e, tendo obtido essa outra, devemos buscar ainda outra qualidade complementar. E assim compete-nos prosseguir, nunca satisfeitos com aquilo que já pudemos conseguir, mas sempre acrescentando e jamais cessando de acrescentar, até que o alvo seja atingido. E qual é o propósito desse esforço incansável? "Porque estas cousas", explica Pedro, "existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo" (versículo 8).

Note-se que a diligência elimina a ociosidade. O estado negativo da ociosidade é combatido pelo estado positivo da diligência. A ociosidade não pode ser tratada de modo negativo; tem suas raízes na preguiça, e a cura para a preguiça é a diligência. Se sempre nos encontrarmos desempregados ou inativos, será neces­sário que nos controlemos firmemente; teremos que suprir aquilo que falta em nossa constituição. Tendo corrigido a primeira deficiência, teremos de corrigir a segunda, e a terceira, e uma por uma de todas as demais deficiências, até que não sejamos mais "nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo". Se, mediante o poder divino, assim fizermos, terá lugar uma grande transformação em nosso caráter. Não mais nos mostraremos vadios, mas antes, nos disporemos para o trabalho árduo e se­remos jubilosos servos do Senhor.

Pedro se mostrou incansavelmente diligente ao buscar levar os seus leitores a essa qualidade. Notemos o que ele afirma no versículo quinze: "De minha parte, esforçar-me-ei diligentemente por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo". O que mais nos impressiona aqui não é uma atividade óbvia, externa. Mas é o senso íntimo de urgência, de urgência de espírito, que gerava aqueles incansáveis esforços da parte de Pedro.

Oxalá acordássemos para o peso de nossa grande responsabilidade, para a urgência da necessidade que nos circunda, e para a natureza transitória do tempo! Se ficássemos impressionados com a seriedade da si­tuação, não teríamos opção senão lançarmo-nos ao tra­balho, ainda que nos tivéssemos que privar do alimento e do sono, a fim de atingir o nosso alvo. Nosso tempo já se esgotou quase por inteiro; a necessidade continua desesperadora; nossa solene obrigação ainda não foi executada. Que, na qualidade de homens que morrem, nos entreguemos com todo o nosso poder ao serviço daqueles que morrem ao nosso derredor. Não permi­tamos que a preguiça natural nos enleie na procrasti­nação, mas hoje mesmo devemo-nos levantar e ordenar que nossos corpos nos sirvam. De que vale dizermos que ansiamos por servir ao Senhor, se não nos despertamos de nossa letargia? E de que nos servirá todo o nosso conhecimento, se isso não nos puder salvar de nossa indolência inata?

Examinemos, uma vez mais, a passagem do capítu­lo vinte e cinco do evangelho de Mateus, que já conside­ramos no início de nossa preleção. Naquela parábola vimos certo servo do Senhor enfrentar duas acusações perante o tribunal de Cristo - a acusação de "maldade" e a acusação de "negligência". O próprio Senhor Jesus proferiu a sentença: "E o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas" (versículo 30). A avaliação que o Senhor faz do servo preguiçoso se resume numa palavra, "inútil". Só o servo diligente Lhe pode ser útil. Não consideremos superficialmente essa questão; mas acei­temos a advertência solene, e de hoje em diante depen­damos do Senhor para que Ele nos capacite a mudar nossos lerdos hábitos. Posto que a indolência é um hábito repetido que se desenvolve com a passagem dos anos, não podemos embalar a esperança de corrigi-la em um dia ou dois, nem podemos esperar remediá-la por meio de tratamentos suaves. Mas compete-nos tratar de nosso caso sem usar de clemência, na presença do Senhor, se nos tivermos de tornar servos que não sejam "inúteis" para o Seu serviço.


Leitura: Mateus 16.13-23; I Pedro 2.5 Mateus 18.18; 26.31-41, 69-75; Marcos 14.54,66-68.

A estabilidade é outra das qualidades que se deve encontrar na vida de todo obreiro cristão. Infelizmente, muitos crentes são extremamente inconstantes. O seu humor se altera com as condições atmosféricas, de tal modo que por muitas vezes se tornam brinquedos das circunstâncias; em conseqüência, não se pode depender deles. Suas intenções são boas, mas, em vista de serem emocionalmente instáveis, freqüentemente perdem a es­tabilidade.

A Bíblia retrata para nós um homem de tempe­ramento irresoluto, que conhecemos pelo nome de Simão Pedro. Certo dia o Senhor perguntou aos Seus discípulos quem o povo pensava que Ele era, ao que eles retrucaram que alguns julgavam-No ser João Ba­tista, outros pensavam que Ele fosse Elias, ao passo que ainda outros viam Nele Jeremias ou algum dos profetas. Então Ele fez a mesma pergunta aos discí­pulos, dizendo: "Mas vós, quem dizeis que eu sou? "

A resposta de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", provocou de imediato a réplica de Jesus: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16.13-18).

Note-se a declaração: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Parece que o Senhor tinha em mente o contraste que estabelecera, no Sermão da Montanha, entre o sábio que edificou a sua casa sobre a rocha, em razão do que ela pôde resistir à tempestade e à inun­dação, e o insensato que edificou a sua casa sobre a areia, e sob o mesmo embate das intempéries esta ruiu completamente. Por mais que a Igreja seja sujeitada a pressões, jamais poderá entrar em colapso, visto estar firmemente estabelecida sobre a Rocha, que é Jesus Cristo.

Em data posterior, Pedro escreveu as seguintes palavras: "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual" (I Pedro 2.5). A estrutura superior da Igreja se compõe da mesma substância de que é formado o seu alicerce; e assim como a estabilidade caracteriza o alicerce, igualmen­te caracteriza o edifício inteiro. A estabilidade, pois, é um distintivo necessário do caráter de todo obreiro cristão, pois cada qual é uma "pedra que vive". Cristo disse a Pedro: "Tu és Pedro" (em grego, petros, uma pedra) "e sobre esta pedra" (em grego, petra, rocha) "edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Uma pedra que faça parte de um edifício não é uma rocha imensa, à semelhança do alicerce; porém, embora o alicerce e a estrutura superior sejam diferentes quanto às suas dimensões, no tocante à substância são do mesmo material. Cada um daqueles que participam do edifício da Igreja poderá ser pequeno em suas medidas, mas no tangente à sua natureza em nada difere do Cabeça da Igreja.

Observemos em seguida como prossegue a pas­sagem que acabamos de citar: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus". Essa promessa, aqui dirigida a Pedro, também foi feita, mais tarde, à Igreja toda (ver Mateus 18.18). É claro que Pedro ouviu essas palavras como um indi­víduo, mas foi em sua capacidade de ministro de Cristo que as chaves do reino dos céus lhe foram confiadas. Foram-lhe entregues aquelas chaves a fim de que pudesse agir como quem abre as portas; e ele atuou claramente nessa capacidade, no dia de Pentecoste e, posterior­mente, na casa de Cornélio. Na primeira instância, ele abriu a porta do reino dos céus para os judeus, e, no segundo caso, para os gentios. Entretanto, quando o Senhor Jesus se dirigiu a Pedro, em Cesaréia de Fi­lipe, o caráter desse apóstolo não correspondia ainda ao seu nome, pois naquela altura dos acontecimentos era incapaz de fazer uso das chaves do reino dos céus. Todavia, quando, pela graça do Senhor, foi libertado da instabilidade que o caracterizava até então, e se tornou um ministro de Cristo, firme como uma rocha, pôde usar as chaves que lhe haviam sido conferidas, e pôde valer-se da autoridade de abrir ou fechar.

Nenhum indivíduo marcado por um tempera­mento irresoluto pode exercer um ministério dessa natu­reza. Deve haver equiparação entre o caráter do ministro e o caráter do ministério. Ambos devem trazer o ca­ráter da Igreja contra a qual as portas do inferno jamais poderão prevalecer. Infelizmente, contudo, as portas do inferno prevalecem contra muitos obreiros cristãos em vista de serem sempre vacilantes; por esse motivo, não se pode depender deles na obra do Senhor. A menos que essas naturezas instáveis sejam transformadas, se­remos incapazes de funcionar no ministério específico do qual tenhamos sido incumbidos; mas, louvado seja o Senhor, Ele conta com recursos plenamente capazes de transformar o nosso caráter, tal como transformou o de Pedro. Ele pode abordar qualquer espécie de fra­queza que porventura esteja maculando as nossas vidas, e pode reconstituir-nos de tal maneira que nos tornemos aptos para o Seu propósito.

A Bíblia esclarece que foi por revelação que Pedro foi capaz de reconhecer que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo. Jamais teria podido fazer sozinho essa maravilhosa descoberta, nem poderia outro homem ter-lhe implantado tal conhecimento; mas Deus é que lhe fizera saber disso. A partir do momento em que Pedro fez sua confissão, Jesus começou a falar aos discí­pulos acerca dos sofrimentos que já esperavam por Ele para breve; e lhes falou abertamente sobre a Sua iminente crucificação e ressurreição, após o que Pedro, "chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda! Satanás" (Mateus 16.22,23).

Podemos observar como o pêndulo inclinou-se subitamente para o lado oposto. Pedro, que tão recen­temente atingira tão sublimes alturas na sua experiência espiritual, agora caía em abismos perigosos. Nem bem acabamos de ouvir o Senhor reconhecendo que Pedro recebera magnífica revelação divina, e imediatamente O ouvimos dizer que o apóstolo servia de instrumento nas mãos de Satanás. Num momento Pedro declarava ao Senhor: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo; mas, no instante seguinte, começou a repreendê-Lo. Esses dois momentos, tão próximos um do outro, esta­vam separados um do outro, espiritualmente falando, como os povos se opõem um ao outro; e o mesmo homem que fora um vaso da revelação divina, naquele brevíssimo espaço de tempo, se transformara em instru­mento de Satanás, mediante o qual este procurava impedir que o Senhor galgasse à cruz.

O Senhor, porém, reagiu de pronto, e, dirigindo-se diretamente a Pedro, a quem tão recentemente declarara "Bem-aventurado és tu", agora lhe dizia: "Arreda! Sa­tanás". Brevíssimo período se escoara desde que Ele declarara "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Mas como poderia um homem, vencido pessoalmente por Satanás, ser usado para edificar a Igreja, acerca da qual o Senhor declarara que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra ela? Se Pedro tivesse de ser alguma vez usado, certamente teria de passar por uma transformação fundamental. E foi exatamente isso que aconteceu. Examinemos o relato segundo se acha registrado no capítulo vinte e seis do evangelho de Mateus.

Quando os discípulos estavam reunidos em torno do Senhor, após a celebração da páscoa, Jesus lhes disse: "Esta noite todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas". Pedro, entretanto, com sua característica impulsividade, protestou imediatamente: "Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim". Pedro estava claramente contradi­zendo ao Senhor, mas ao fazer assim usava de uma bravata: estava convencido de que expressava a verdade. Foi devido ao fato que Pedro confiava tão firmemente em si mesmo que o Senhor reforçou a Sua declaração geral a respeito de todos os discípulos, e, dirigindo-se pessoalmente a Pedro, para que não mais restasse dúvida alguma de que ele também estava incluído no número daqueles que O abandonariam, Jesus acrescentou detalhes que descreviam a profundeza a que Pedro cairia, ao desertar do Senhor. Porém, tão arraigada era a auto-confiança de Pedro que todas as afirmações do Senhor não tiveram o dom de convencê-lo; e ele protestou, mais veementemente do que nunca: "Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei". Pedro não estava tentando enganar a quem quer que fosse: era sincero em cada palavra que dizia. Amava ao Senhor e queria segui-Lo sem reservas. Ao falar como o fez, expressava de todo o coração o seu desejo; mas equivocava-se, por não ser o homem que julgava ser. Pedro desejava pagar o preço supremo para seguir ao Senhor, mas não pertencia à categoria de homem que pensava ser; não era capaz de pagar tal preço.

Pouco depois de Pedro haver feito suas reiteradas declarações de que seguiria ao Senhor a qualquer custo, o Senhor disse a ele e aos outros dois discípulos que levara Consigo em particular, até o jardim do Getsêmani: "A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo". Mas todos os três caíram no sono. Novamente o Senhor se dirigiu especificamente a Pedro, dizendo-lhe: "Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? " Porém, não esperou pela resposta de Pedro; mas Ele mesmo forneceu a resposta: — "O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca". Sim, assim era Pedro. Estava tão pronto, mas era tão fraco.

Em um próximo instante a cena foi alterada nova­mente. E Pedro mudou conforme as circunstâncias. Uma grande multidão viera aprisionar a Jesus, e as emo­ções de Pedro foram despertadas. Estendeu a mão, puxou da espada e decepou a orelha do servo do sumo sacerdote. Não era essa uma prova de sua disposição de morrer em companhia de seu Senhor? Mas, esperem um instante. Jesus foi detido, e agora está sendo levado sozinho. Para onde ter-se-ia ido Pedro? 'Então os discí­pulos todos, deixando-o, fugiram". Pedro havia deser­tado a seu Senhor.

Marcos registra: "Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo" (14.54). Subitamente, uma das criadas do sumo sacerdote o reconheceu e exclamou: "Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes" (versículos 67 e 68). Seria esse o mesmo Pedro, que ainda naquele dia ousara cortar fora a orelha do servo do sumo sacerdote? Sim, era Pedro, realmente, mas agora tão dominado pelo temor, quando uma simples criada do sumo sacerdote o identificava como um dos discípulos, que chegou ao ponto de renegar ao seu Senhor. Há poucos minutos queria segui-Lo a todo custo, ainda que isso significasse perder a própria vida, mas agora queria preservá-la a todo custo. A grande explosão emotiva que se apode­rara dele já havia amainado; e enquanto Jesus sofria opróbrios no salão de julgamento, Pedro procurava evitar qualquer ligação com os Seus sofrimentos. Por conseguinte, mudou de lugar e foi para o pórtico. Ali conseguiu ouvir outro servo, que dizia a alguns dos presentes: "Este é um deles", e imediatamente se viu compelido a fazer nova negação. Escreve Mateus: "E ele negou outra vez, com juramento: Não conheço tal homem" (26.72). Não se passou muito tempo quando outras pessoas, que se achavam de pé, aproximaram-se dele e lhe disseram: "Verdadeiramente és também um deles, porque o teu modo de falar o denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem" (versículos 73 e 74). Porventura tratar-se-ia do mesmo Pedro, este homem que agora negara ao Senhor por três vezes, que negara conhecê-Lo em meio a juramentos e pragas? Sim, era Pedro, verda­deiramente.

O problema de Pedro não era algo meramente superficial. Havia uma falha fundamental em seu caráter. Ele se deixava controlar pelas suas emoções, e a sua conduta era sempre imprevisível, tal como o com­portamento de todos aqueles que são controlados pelos sentimentos. O entusiasmo dessa gente as eleva, ocasio­nalmente, a alturas excelsas; noutras ocasiões, a de­pressão as conduz às maiores profundezas. É possível que tais pessoas recebam a revelação divina, mas também é possível que sirvam de obstáculo no caminho dos propósitos divinos. Inclinam-se por falar e agir com precipitação, sob a pressão de algum impulso súbito, mas esse impulso não tem origem divina. Muitos pro­blemas na obra do Senhor surgem por causa desse defeito radical nas vidas de Seus servos; e visto que a dificuldade é radical, ela requer uma correção radical.

Pedro era possuidor de um caráter franco. Não era dado à diplomacia ou às meias medidas; mas era dotado de emoções fortes, e confiava nessas emoções, até que a prova por que passou certo dia mostrou que ele não era homem de devoção inflexível ao Senhor, conforme os seus sentimentos o tinham levado a acreditar.

Irmãos e irmãs, é tragicamente possível que nosso suposto amor ao Senhor não passe de pouco mais que um apego sentimental. Nossas relações emocionais para com o Seu amor não são necessariamente tão profundas nem tão puras como pensamos. Sentimos que O amamos totalmente; mas vivemos tanto no campo da alma que julgamos ser do tipo de pessoas que sentimos que somos. Sentimos que queremos viver exclusivamente para Ele e que queremos morrer por Ele, se Ele assim o desejar; mas, se o Senhor não destruir a nossa auto-confíança. como destruiu a de Pedro, continuaremos sendo enga­nados pelos nossos sentimentos, e a nossa vida consistirá de intermináveis flutuações.

Pedro não mentiu deliberadamente ao asseverar a sua devoção ao Senhor; mas os seus sentimentos fizeram-no acreditar naquilo que não era verdade. É hor­rível dizer-se uma mentira; mas é digno de compaixão acreditar-se numa mentira. Se continuarmos confiando em nossos sentimentos, o Senhor poderá ter de permitir que descubramos, através de queda séria, quão indigna de confiança é a nossa vida emocional.

A medida de nossa habilidade de seguir ao Senhor não é aquilatada pela medida de nosso desejo de segui-Lo.

Quem nos dera reconhecer o fato que a Igreja é uma estrutura eternamente estável! O alicerce da Igreja é um fundamento rochoso, e cada uma das pedras que formam o edifício é tirada dessa mesma rocha. Se nosso caráter não corresponde ao caráter da verdadeira Igreja, como podemos esperar fazer parte de sua construção? Se procuramos edificar com material inferior, então estamos pondo em perigo a estrutura inteira. Pedra de outra qualidade que não aquela do alicerce não resistirá à tensão imposta sobre ela, e assim nossa tentativa de edificar resultará tão-somente em ruína, e a ruína significará perda para nós mesmos e para outros, e perda de tempo precioso, durante o qual poderia ser completado o trabalho. Verdadeira­mente, precisamos dar ouvidos à palavra que nos exorta, em I Coríntios 15.58: — "Sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor".

Graças a Deus que Pedro foi conduzido à queda a fim de descobrir a sua própria fraqueza, e essa queda foi profunda o bastante para esmagar a sua auto-confiança. Nossos fracassos passados não têm sido suficientemente sérios para nos convencermos de nosso caráter indigno de confiança? Continuamos orando e pedindo luz sobre nossa própria condição, mas o conhecimento de nossos fracassos passados não é bastante iluminador para nos levar a cair de joelhos perante Deus, em pro­funda contrição, permitindo-Lhe que nos refaça, tal como reconstituiu a Pedro? Quando a queda de Pedro lhe mostrou de que naipe era feito, "saindo dali, chorou amargamente". Dali por diante o Senhor começou a reformá-lo, até que o seu caráter pudesse estar à altura de seu novo nome, quando então pôde usar as chaves do reino dos céus com poderosos efeitos.

Não podemos esperar ser transformados em instru­mentos notáveis, à semelhança de Pedro, mas confiamos em que o Senhor se compadecerá de nós e operará uma transformação tal em nossas vidas como operou na vida daquele apóstolo. Nosso caráter precisa passar por uma transformação radical, se tivermos de ser obreiros cristãos dignos desse nome.




leitura: Provérbios 17.5; Marcos 10.45; Lucas 19.10; João 10.10 e Lucas 15.

O amor aos irmãos é um elemento essencial na vida de todo obreiro cristão, mas não menos essencial é o amor por toda a humanidade. Salomão escreveu: "O que escarnece do pobre insulta ao que o criou" (Provérbios 17.5). Deus é o Criador de todos os homens, e ninguém está apto para tornar-se servo Seu se aborrece ou despreza a qualquer deles. É verdade que o homem caiu, mas esse homem caído se tornou objeto do amor remidor; e o Senhor que redimiu o homem, Ele mesmo se tornou homem — um homem semelhante aos outros homens, que gradualmente cresceu da infância à plena maturidade. E quando Deus já contava com o Homem segundo o Seu desejo, na pessoa de Seu Filho, e O exal­tara à Sua mão direita, a Igreja foi trazida à existência, "o novo homem" em Cristo.

Quando chegamos a compreender realmente a Pa­lavra de Deus, então percebemos que a expressão "filhos de Deus" não se reveste de tanta significação quanto o termo "homem", e também percebemos que a escolha divina e a eleição divina tinham como seu objetivo um homem coletivamente glorificado. Quando percebemos o lugar que o homem ocupa nos propósitos de Deus; quando vemos o homem como o foco de todos os Seus pensamentos; quando contemplamos como o Senhor humilhou-se, a fim de tornar-se homem; então aprendemos a apreciar a humanidade inteira.

Estando nosso Senhor neste mundo, declarou : "Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). Ele não ensinou que o Filho de Deus veio a fim de ministrar aos homens; mas disse: "...o Filho do homem... veio..." Nessas palavras entrevemos a atitude do Senhor para com o homem.

Uma séria dificuldade, no caso de muitos dentre aqueles que estão engajados na obra cristã, é a sua falta de amor pelos homens, na sua falta de estima pelos homens, no fato de não perceberem o valor que o homem tem aos olhos de Deus. Sentimos hoje que já chegamos a excelsas alturas se começamos a amar aos filhos de Deus. Mas. será isso o suficiente? Não, por­quanto precisamos expandir-nos; precisamos entender que o nosso amor deve incluir a todos os homens; preci­samos compreender que todos os homens são preciosos para Deus. Sem dúvida vocês estão interessados por algumas poucas pessoas inteligentes, por alguns poucos que, de uma maneira ou de outra, são notáveis; mas o que quero saber não é se vocês estão interessados por homens extraordinários, e, sim, se estão interes­sados no HOMEM. Essa pergunta é importantíssima. A frase que diz "...o Filho do homem... veio..." implica, antes de tudo, no que o Senhor estava intensa­mente interessado no homem: estava tão interessado que Ele mesmo se fez homem. Até que ponto vocês estão interessados? Talvez pensem: "Bem, fulano não tem muita importância". Ou então: "Tal pessoa não representa grande coisa". Mas, como é que o Senhor considerou tais pessoas? Ele veio habitar entre os homens, na qualidade de Filho do homem. Dava um valor tal ao homem que se tornou homem, a fim de que pudesse servir ao homem da maneira mais perfeita possível. Trata-se de algo surpreendente, como também extremamente grave, que muitos dos filhos de Deus se preocupem tão pouco com os homens. Irmãos e irmãs, vocês compreendem o sentido desta frase, "...o Filho do homem ... veio ? " Ela significa que Cristo se importou com toda a humanidade. Que anormal estado de alma, se estamos interessados apenas por alguns poucos indivíduos seletos!

O interesse pela raça humana é um requisito básico em todo obreiro cristão, e não apenas o interesse por certo segmento da mesma. "Deus amou o mundo". Seu amor abarcou a todos os homens, e assim também deve ser o nosso amor. Não devemos limitar os nossos interesses aos Seus filhos, nem a qualquer outra classe particular de homens, mas devemos estender nosso amor a todos.

Anos de instrução nos têm acostumado a falar de certos homens como nossos "irmãos", e de todos os homens como nossos "semelhantes", e talvez tenha­mos começado a apreciar o fato que alguns homens são verdadeiramente nossos irmãos; porém, damos o devido valor a esse outro fato que todos os homens são nossos semelhantes? Infelizmente, muitos dos que se pro­fessam servos do Senhor, jamais abriram os seus corações para com todos os seus semelhantes. Se ao menos ficasse profundamente gravado em nós que Deus é nosso Criador, e que todos somos semelhantes uns dos outros, como tiraríamos proveito dos outros, enganando-os, acerca de qualquer coisa? Se, em nosso trato com os nossos semelhantes, buscamos os nossos próprios in­teresses, o nosso trabalho terá um valor bem limitado aos olhos de Deus, por maior que seja o seu volume externo.

"Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas 19.10). "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10.10). Foi por causa do homem que o Senhor Jesus veio a esta terra, e Ele veio com o propósito específico de servir aos homens. Foi seu avassalador interesse pelos homens que O trouxe do céu à terra, a fim de ministrar aos homens de tal maneira que derramou a Sua própria vida em resgate por eles. O poder motivador de Cristo era o Seu apaixonado amor pelos homens. Seu ministério em favor dos homens resultava de Seu amor por eles; e visto que o Seu amor não conhecia fronteiras, Ele pôde servi-los até chegar ao extremo da morte na cruz.

Se vocês procurarem pregar o evangelho aos per­didos, mas jamais se sentirem tocados pelas palavras "Deus criou o homem", e assim considerá-los seus próprios semelhantes; e se nunca jamais tiveram um interesse mais do que casual pelos homens; então não estão aptos para pregar a Cristo como "resgate por muitos". É mister que raie em nós o fato que Deus criou o homem à Sua semelhança e nele concentrou o Seu amor, visto que o homem é tão enormemente precioso para Ele. A menos que o homem se torne objeto de nossa afeição, é impossível que nos tornemos servos dos homens.

Muitos obreiros cristãos têm uma atitude comple­tamente errada para com os semelhantes. Consideram-nos um entrave, e algumas vezes se ofendem com os seus atos e não conseguem perdoá-los. Mas como podemos nós, em nós mesmos pecadores por natureza, hesitar em perdoar aos pecadores? Como podemos deixar de compreender as suas fraquezas e defeitos? E como podemos deixar de considerá-los queridos, quando reconhecemos o quanto são prezados pelo Senhor? Ele, o Bom Pastor, pode abandonar tudo e sair em busca de uma única ovelha perdida; o Espírito Santo pode procurar uma única moeda perdida; e o Pai pode sair a fim de dar as boas vindas ao Seu filho perdido. Na parábola que há no capítulo quinze de Lucas vemos como o amor divino pode desgastar-se livremente para redimir ao menos uma alma. E ainda podemos não entender a intensidade do amor de Deus pelo homem?

Irmãos e irmãs, à luz da profunda preocupação de Deus pelo homem, podem vocês ainda considerar com indiferença aos seus semelhantes? Seremos inúteis em Seu serviço a menos que os nossos corações sejam expandidos e que o nosso horizonte seja alargado. Precisamos ver o valor que o homem tem para Deus; precisamos perceber o lugar ocupado pelo homem no eterno propósito de Deus; compete-nos ver a signifi­cação da obra remidora de Cristo. Sem isso, é vão imaginar que débeis criaturas como vocês e eu possamos ter alguma participação na grandiosa obra de Deus. Como poderia alguém ser usado para salvar almas, se não tivesse amor pelas almas? Se ao menos esse defeito fundamental de nossa falta de amor aos homens pudesse ser solucionado, nossas muitas outras dificuldades em relação aos homens haveriam de desaparecer. Julgamos que algumas pessoas são por demais ignorantes, e pen­samos que outras são muito duras, mas esses problemas desaparecerão quando nosso problema básico de falta de amor aos homens houver sido resolvido. Quando deixarmos de estar em um pedestal e aprendermos a tomar o nosso lugar como homens entre os seus semelhantes, então nunca mais desdenharemos deles.

Alguns obreiros cristãos, criados em áreas urbanas, às vezes se internam pelo interior e, entre a gente simples do campo, adotam uma atitude de superioridade para com eles. Quão diferente é isso do Filho do Homem, o qual veio para ser servo de todos! Se vocês forem a algum lugar para pregar o evangelho, mas não forem na qualidade de filhos do homem, terão falhado em sua missão. Se vocês trabalham entre os outros reves­tidos de uma atitude de condescendência, não se en­ganem, confundindo a humildade de Cristo com a con­descendência. A condescendência consciente é uma humildade falsa; a humildade genuína não tem consci­ência de si mesma. Quando Cristo veio habitar entre os homens, veio como verdadeiro homem. Viveu como homem em meio aos seus semelhantes. Muitos obreiros cristãos, ao se movimentarem entre os seus semelhantes, deixam a impressão de que lhes estão prestando um favor ao se associarem com eles. Nossa conduta jamais deveria levar os outros a sentirem que somos diferentes deles. A menos que possamos ser filhos do homem entre os homens, não seremos nem verdadeiros servos do homem e nem verdadeiros servos de Deus. Os obreiros de Deus devem ser pessoas tão abnegadas que sejam inconscientemente humildes. Um homem ignorante e perdido não difere de vocês e de mim em qualquer outra coisa além disto, que nós estamos salvos, e que ele não o está. Mas ele tem um lugar no propósito criador de Deus, tal como vocês e eu temos; ele tem um lugar no propósito redentor de Deus, tal como vocês e eu temos; e ele tem a mesma potencialidade para Deus como vocês e eu temos.

Talvez cada um de vocês diga: A ignorância alheia não representa problema algum para mim; minha difi­culdade surge quando entro em contacto com pessoas de baixa moral ou acostumados a enganar aos outros. Qual deve ser a minha atitude para com tais pessoas? Vocês precisam apenas fazer um retrospecto em sua própria vida. Onde estavam vocês quando a graça de Deus os encontrou? E onde se encontrariam hoje, não fosse a graça de Deus? Se, em qualquer aspecto, vocês diferem deles, trata-se inteiramente de uma questão de Sua graça. Meditem no que a graça de Deus tem feito por vocês. Ao contemplarem a Sua graça, terão de prostrar-se perante Ele e reconhecer: "Por natureza sou tão pecaminoso quanto eles, mas sou um pecador salvo pela graça". A contemplação do que a graça de Deus tem feito por nós jamais nos exaltará; pelo contrário, sempre nos forçará a nos humilharmos perante Ele. Se vocês são diferentes dos outros, "pois quem é que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas rece­bido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? " A visão do pecado certa­mente deve levar-nos a retroceder, mas, apesar disso, devemos estender o nosso amor aos pecadores.

Se, por um lado, a nossa atenção se fixa no fato que todo servo de Deus tem a sua própria função especial, não nos devemos olvidar, por outro lado, que, por mais diferentes que possam ser as suas funções, todos os mais autênticos servos de Deus se assemelham em um ponto particular, a saber, que se interessam profundamente pelos homens. Se vocês não se sentem atraídos aos pecadores, mas antes, preferem evitá-los, que esperam poder realizar ao pregar-lhes o evangelho? Afastar-se-ia um médico de seus pacientes enfermos? Se buscamos aos perdidos por havermos compreendido o quanto eles são preciosos no conceito de Deus, ainda que seja uma só alma, então nos aproximaremos dos pecadores, não por compulsão do dever, mas sob o constrangimento de uma atração irresistível. Quando nos chegamos a eles com amor espontâneo, descobrimos que se terá aberto perante nós um ilimitado campo de serviço, e, pela misericórdia divina, nos tornaremos servos que Lhe são de alguma valia.

Oh! se pudéssemos ver cada ser humano como uma alma viva, dotada de imensas potencialidades! Quão diferentemente nos temos sentido para com os salvos, desde que compreendemos que somos "conci­dadãos dos santos"! E sentiremos diferença similar para com os perdidos quando a luz divina raiar sobre nós e, verdadeiramente, virmos cada um como nosso semelhante. Então lhes daremos valor e os amaremos, e entraremos em harmonia com o Senhor, nesse dese­jo de conquistá-los para Si mesmo, a fim de que eles sejam qual material de construção em Suas mãos, visando à edificação de Sua Igreja. Se vocês ou eu des­prezarmos qualquer alma humana, estaremos sendo indignos de permanecer no serviço do Filho do Homem, porquanto os Seus trabalhadores são servos dos homens que têm por motivo de alegria o poderem servi-Lo.

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COMO ATINGIRMOS O CORAÇÃO DE DEUS (IICr 7:14) “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Para Que Uma Pessoa, Uma Igreja, Uma Nação, Possa Receber As Bênçãos Das Mãos Do Deus E Necessário Atingir O Coração De Deus
Neste versículo aprenderemos como atingirmos o coração de Deus.
1º VOCÊ PRECISA SE HUMILHAR DIANTE DE DEUS
Um dos significados da palavra humilhar é: Submeter-se, render-se e prostrar-se

SE HUMILHAR é Submeter, é se por debaixo, é tornar dependente, é se sujeitar.
Então aquele que se humilha ele esta se colocando debaixo das mãos do Soberano,
Ele depende de Cristo para receber o perdão dos seus pecados.

SE HUMILHAR é se Render, mas se render do que:
Aos desejos e propósitos do Senhor Jesus em torna-lo cada vez mais puro e santo.
Aquele que se humilha, ele se torna dependente, ele se entrega a supremacia do Deus.
Ao tornar-se humilde está pessoa está submetendo a receber a graça e o perdão que nos levará a Deus.

SE HUMILHAR é se prostra, é se lançar aos pés daquele que tudo vê, tudo pode, tudo sabe.
É matar, deixar morrer, o desejo de vingança de orgulho, da carne.
Se humilhar, é reconhecer quem éramos no passado , e Deus nos deu uma nova vida.

A humilhação, faz toda a diferença na vida do cristão.
(Tg 4:10) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
(IPe 5:6) Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte
(Mt 23:12) “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. .

Para mexer no coração de Deus, a primeira coisa que você deve fazer é se humilhar. ORA COMIGO
Senhor eu reconheço os meus pecados, eu reconhece as minha falhas, eu reconhece os meus defeito os meus erros, eu quero Senhor, abrir meu coração, a minha alma tem sede de ti, eu desejo receber o seu perdão, eu quero ser perdoado por ti.
Vale a pena se humilhar, não pense duas vezes, pois aquele que se humilhar diante de Deus, alcançarão as bênçãos.

2º VOCÊ PRECISA TER UMA VIDA DE ORAÇÃO, POIS A ORAÇÃO E A CHAVE,
QUE ABRE O CORAÇÃO DE DEUS
(Lc 1:13a)Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida.
Zacarias, se ele não tivesse buscado ao Senhor, se ele não tivesse orado, ele não teria alcançado o coração de Deus, mas devido a sua insistência Deus ouviu a sua oração e respondeu ao seu clamor.

Portanto, você que está precisando de uma, benção urgente, de uma vitória, não perca mais tempo, levante um grande clamor, e começa a orar.
Busque ao Senhor em oração, as tuas orações subirão como cheiro suave e Deus se alegrará e responderá, pois a oração atinge o coração de Deus.
E quando o coração de Deus é atingindo, libera e derrama a benção e a unção da providência sobre a sua vida.
O que é Oração? É Conversar com Deus, é dialogar com o teu criador, a oração é uma busca de contato com Deus, a oração é o segredo para receber poder e autoridade, oração é a alavanca que move o cristão, a superar as dificuldades e renovar as suas força.
A oração é o oxigênio da nossa alma é ter comunhão com Deus, é a chave que abre as janelas do céu, Portanto, se você não gosta de orar,