O Obreiro Cristão Normal 1º parte
Watchman Nee
Leitura: Mateus 25.14-30; II Timóteo
4.2; II Pedro 1.5-15; João 5.17 e 4.35.
A vida diária do obreiro cristão
está relacionada intimamente com o seu trabalho. E, por essa razão, ao
considerarmos as qualificações necessárias para o serviço cristão, precisamos
levar em conta questões como disposição e conduta. A fim de estar preparado
para o serviço espiritual, o homem deve ser dono não apenas de determinado
lastro de experiência espiritual, mas igualmente de certo tipo de caráter. O
caráter do obreiro deve condizer com o caráter da obra, e o desenvolvimento do
caráter de uma pessoa não ocorre em um dia. Se um obreiro tiver de possuir
aquelas qualidades necessárias para que seja útil ao Senhor, então é mister
serem consideradas muitas questões práticas atinentes à sua vida diária. Terá
ele de desfazer-se de hábitos antigos e de formar novos costumes, mediante a
disciplina, e sua vida terá de ajustar-se fundamentalmente à obra, para que se
harmonize com ela.
Há certos jovens que desde o
início de sua vida cristã manifestam qualidades que nos levam a esperar que se
tornem úteis servos de Cristo; por outro lado, existem aqueles que, embora não
lhes faltem dons, cedo tropeçam pelo caminho e atraem opróbrio para o nome de
Cristo. Pergunta-se, pois, como se explica o desenvolvimento tão variado das
vidas dos obreiros cristãos? Seja-me permitido responder francamente que há
certas características básicas na constituição de cada um que determinam se
terão ou não valia para o Senhor. Um jovem pode exibir certas inclinações que
parecem promissoras para o futuro; todavia, se determinadas qualidades
fundamentais não estiverem presentes, certamente ele será um desapontamento
para outros. Pode ter ele autêntico desejo de servir ao Senhor, mas falta-lhe a
disposição de ser um verdadeiro servo. Jamais pudemos encontrar um obreiro
cristão que fosse um bom obreiro, se porventura lhe faltasse o domínio-próprio
necessário; e jamais conhecemos uma pessoa desobediente que se mostrasse um
servo útil para o Senhor.
Há certas características sem as
quais ninguém pode ser um obreiro cristão satisfatório, tornando-se necessário,
desse modo, um processo de destruição e reedificação, a fim de que o Senhor
possa obter obreiros que satisfaçam às Suas exigências. A dificuldade de muitos
candidatos à obra do Senhor não consiste de ignorância ou falta de habilidades,
mas reside no fato que o errado é o próprio indivíduo; há algo de fundamental
que está ausente em sua constituição. Por conseguinte, é necessário que nos
humilhemos perante Deus, submetendo-nos à disciplina própria, se aquilo que
porventura estiver faltando em nosso caráter tiver de ser corrigido.
Demoremo-nos um pouco em Sua presença, buscando descobrir algumas daquelas
qualidades requeridas de todos quantos tiverem de servi-Lo de modo aceitável.
Uma dessas qualidades é a
diligência. Parece supérfluo dizê-lo, mas realmente é essencial afirmar de
maneira enfática que o obreiro cristão deve ser pessoa dotada da vontade de
trabalhar. No evangelho de Mateus lemos acerca da história dos servos aos quais
foram entregues cinco talentos, dois talentos e um talento, respectivamente.
Quando, após longa ausência, o senhor daqueles servos regressou e exigiu que
prestassem contas de sua custódia, o servo que recebera um único talento,
disse: "Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste,
e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui
tens o que é teu. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente,
sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto,
que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com
juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez. . E o
servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de
dentes" (25.24-30).
Esse trecho das Escrituras
demonstra que o Senhor requer que cada servo Seu seja diligente no serviço que
Lhe presta. Ele indicou claramente a falha fundamental na vida do servo que
nos foi retratado acima. Tal falha era dupla: ele era "mau" e
"negligente". A sua maldade ficou manifesta no fato que ousou chamar
seu senhor de "homem severo". Não frisaremos aqui este aspecto do seu
caráter, mas falaremos a respeito de outro aspecto, isto é, de sua
negligência.
A preguiça não é um defeito raro.
Os preguiçosos nunca buscam trabalho, e, ainda que cheguem a empregar-se,
buscam evitar todo esforço. Infelizmente, muitos crentes, como também
descrentes, sofrem dessa fraqueza, e servem de empecilho para com os seus
companheiros. Já tiveram a oportunidade de conhecer algum obreiro cristão
eficaz que também fosse indolente? Não, mas todos os tais são diligentes e
estão sempre alertas, não desejando desperdiçar tempo ou esforços. Não vivem à
cata de oportunidade para descansar, mas, pelo contrário, buscam aproveitar
cada ocasião oportuna para servirem ao Senhor.
Contemplem os apóstolos. Quão
diligentes foram eles! Pensem no colossal trabalho realizado por Paulo no
decurso de sua vida. Vejam-no a viajar de lugar para lugar, pregando o
evangelho onde quer que se encontrasse, arrazoando intensamente com indivíduos;
até mesmo quando foi lançado numa prisão, não deixou de aproveitar tal
oportunidade — pregava para todos com quem entrava em contacto e escrevia para
aqueles de quem fora separado. Leiam o que ele escreveu para Timóteo, quando
estava encarcerado: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer
não" (II Timóteo 4.2). A prisão podia restringir os movimentos externos de
Paulo, mas não era capaz de cercear a eficácia do seu ministério. Quantas
riquezas espirituais ele ministrou por intermédio de suas epístolas escritas na
prisão! Não havia o menor resquício de preguiça em Paulo; ele estava sempre
aproveitando o tempo.
Infelizmente, muitos obreiros
cristãos declarados não fazem o esforço de buscar oportunidade para servir ao
Senhor; e se alguém se aproxima deles sem ter sido convidado, consideram isso
uma interrupção, e não uma oportunidade, e tão-somente almejam que tal pessoa
logo se vá embora e deixe de aborrecê-los. Que nome vocês emprestariam a isso?
Essa atitude se denomina preguiça.
Vocês já tiveram de tratar com
trabalhadores que "amarram" o trabalho? Essas pessoas aceitam
realizar alguma tarefa, mas elas se demoram e arrastam sobremaneira o serviço,
ao mesmo tempo que, se podem fingem estar trabalhando, pois não levam a sério o
seu serviço, já que sua única preocupação é matar o tempo. Qual é a dificuldade
que os aflige? É a mais franca preguiça.
Em sua epístola aos filipenses,
escreveu Paulo: "A mim não me desgosta, e é segurança para vós outros, que
eu vos escreva as mesmas cousas" (3.1). Embora Paulo estivesse
encarcerado, não considerava um enfado ter de reiterar as mesmas coisas ao
dirigir-se por escrito aos crentes de Filipos, visto que isso tinha em mira o
bem deles. Como isso difere de muitos crentes! Se lhes solicitarmos que façam
alguma coisa, reagem como se uma carga tremenda lhes houvesse sido imposta. A
pessoa que reputa tudo como um fardo não pode ser um fiel servo do Senhor; nem
ao menos pode ser um servo fiel dos homens. Alguns dos chamados "obreiros
cristãos de tempo integral" são tão profundamente espirituais que não
vêem necessidade de trabalhar arduamente ou de prestar contas de seu serviço a
quem quer que seja. Se estivessem empregados em algum trabalho secular, nenhum
patrão terreno os toleraria, face à indolência que caracteriza o seu serviço;
e, no entanto, iludem-se, pensando que podem servir a Deus dessa maneira. Oh!
nosso caráter precisa ser disciplinado até não mais considerarmos o trabalho
como algo maçante, deleitando-nos em despender tempo, energias e recursos
materiais, sem nenhuma restrição, a fim de servir aos outros! Paulo não só se
derramava em seu ministério espiritual, mas também experimentava quão árduo
pode ser o trabalho manual. Ouçamos a sua própria declaração:— "Vós mesmos
sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que
estavam comigo" (Atos 20.34). Ali estava um verdadeiro servo do Senhor.
Alguns supostos obreiros cristãos
têm, realmente, aversão ao trabalho, e sempre podem apresentar alguma desculpa
para evitá-lo; a outros falta o impulso de buscar trabalho e simplesmente se
deixam ficar no ócio, esperando que aconteça alguma coisa. Todo servo fiel a
Cristo aproveita os momentos; mesmo quando não esteja externamente atarefado
está internamente ativo, esperando no Senhor em autêntico exercício do coração.
De certa feita, disse nosso Senhor: "Meu Pai trabalha até agora, e eu
trabalho também" (João 5.17); noutra ocasião, fez aos discípulos esta
pertinente pergunta: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa?
" E respondendo Ele mesmo à indagação, adicionou: "Eu, porém, vos
digo: Erguei os vossos olhos e vede os campos, pois já branquejam para a
ceifa" (João 4.35). Os discípulos estavam dispostos a esperar durante
quatro meses até lançarem mãos à obra, mas nosso Senhor, na realidade, disse
que já era chegado o tempo de se lançarem ao trabalho, e não somente em alguma
data futura. "Erguei os vossos olhos e vede", disse Ele, indicando o
tipo de trabalhador de que Ele precisava — alguém que não espera até que o
trabalho chegue à sua presença, mas que tem olhos para ver o trabalho a ser
feito. Nosso Senhor mantinha-se sempre alerta para cooperar com o Pai em tudo
quanto estivesse fazendo; e, visto que o Pai estava sempre ativo, o Filho igualmente
se conservava ativo. Não é a fervente atividade de pessoas cujas inclinações
para o desassossego as conservam sempre agitadas que pode satisfazer à necessidade,
mas esta necessidade pode ser satisfeita pelo espírito de alerta do servo
diligente, o qual vem cultivando o hábito de olhar para cima e sempre pode ver
a obra do Pai, que aguarda sua cooperação. Infelizmente, pouquíssimos são os
crentes que podem ver o que Deus está fazendo atualmente. É trágico, mas é
possível que atravessemos os campos maduros para a colheita sem ao menos percebermos
os grãos já maduros. É possível que o trabalho esteja bem defronte de nós sem
ao menos nos darmos conta disso. Os crentes a quem falta esse senso de urgência
na obra, que podem esperar confortavelmente pelo espaço de "quatro
meses", antes de se lançarem à tarefa, são "servos inúteis".
Cristo precisa de obreiros que aproveitem zelosamente os momentos que passam,
que nunca adiam o trabalho para o dia de amanhã, se puder ser feito hoje. Em
alguns lugares não há ceifa pela simples razão que é muito grande o número de
crentes que não gostam de trabalhar.
A diligência é essencial se
tivermos de servir ao Senhor, mas ela consiste primariamente de uma questão do
íntimo que não pode ser medida pelo volume externo de atividades. Não ousamos
ceder perante a indolência da nossa própria constituição, razão pela qual
também nos devemos esforçar por cultivar uma disposição diligente. Entretanto, de nada adiantará que nos obriguemos a trabalhar um
pouco mais se formos preguiçosos por natureza, porquanto, após um período de
trabalho duro certamente reverteremos aos antigos hábitos de indolência. O de
que precisamos é de uma transformação
radical em nossa constituição. Estamos familiarizados com as palavras que
ensinam que o Senhor veio "buscar e salvar o perdido" — Ele veio não
somente para entrar em contacto com os homens; mas veio procurá-los e
salvá-los. Com que diligência Ele os buscava e salvava! É dessa disposição que
precisamos.
No primeiro capítulo de sua
segunda epístola escreve Pedro: "...reunindo toda vossa diligência,
associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o
conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a
perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o
amor" (versículos 5-7). Essa adição sobre adição caracteriza cada pessoa
diligente. Cumpre-nos cultivar a disposição que nunca cessa de adquirir novos
territórios no reino espiritual, pois, desse modo, seremos servos úteis para o
Senhor. Oh, precisamos ser intensamente positivos em Seu serviço! Alguns
obreiros cristãos parecem completamente despidos de qualquer senso de
responsabilidade; não percebem a vastidão do campo; não sentem quão urgente é
que atinjam as extremidades da terra com o evangelho; tão-somente se ocupam de
sua pequena área e esperam que coisas melhores sucedam. Se não viram uma única
alma ser salva no dia de hoje, aceitam isso como questão consumada, e esperam
vagamente que os resultados do dia de amanhã serão melhores; entretanto, se
nenhuma delas for salva amanhã", simplesmente resignam-se novamente ante o
inevitável. Como pode ser atingido o propósito do Senhor com obreiros de tal
qualidade?
Pedro era feito de material
diferente. Na passagem que acabamos de citar, o apóstolo procura ansiosamente
despertar os seus leitores de tudo quanto, porventura, tenha sabor de
passividade. Releiam esse trecho e observem a energia divina que pulsa em todo
o ser de Pedro, a qual ele busca comunicar a outros por meio de sua epistola. O
que ele pretendia dizer é que logo que tenhamos adquirido uma virtude cristã,
devemos, imediatamente, procurar suplementá-la com outra; e, tendo obtido essa
outra, devemos buscar ainda outra qualidade complementar. E assim compete-nos
prosseguir, nunca satisfeitos com aquilo que já pudemos conseguir, mas sempre
acrescentando e jamais cessando de acrescentar, até que o alvo seja atingido. E
qual é o propósito desse esforço incansável? "Porque estas cousas",
explica Pedro, "existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais
nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo" (versículo 8).
Note-se que a diligência elimina a
ociosidade. O estado negativo da ociosidade é combatido pelo estado positivo da
diligência. A ociosidade não pode ser tratada de modo negativo; tem suas raízes
na preguiça, e a cura para a preguiça é a diligência. Se sempre nos
encontrarmos desempregados ou inativos, será necessário que nos controlemos
firmemente; teremos que suprir aquilo que falta em nossa constituição. Tendo
corrigido a primeira deficiência, teremos de corrigir a segunda, e a terceira,
e uma por uma de todas as demais deficiências, até que não sejamos mais
"nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo". Se, mediante o poder divino, assim fizermos, terá lugar uma
grande transformação em nosso caráter. Não mais nos mostraremos vadios, mas
antes, nos disporemos para o trabalho árduo e seremos jubilosos servos do
Senhor.
Pedro se mostrou incansavelmente
diligente ao buscar levar os seus leitores a essa qualidade. Notemos o que ele
afirma no versículo quinze: "De minha parte, esforçar-me-ei diligentemente
por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis
lembrança de tudo". O que mais nos impressiona aqui não é uma atividade
óbvia, externa. Mas é o senso íntimo de urgência, de urgência de espírito, que
gerava aqueles incansáveis esforços da parte de Pedro.
Oxalá acordássemos para o peso de
nossa grande responsabilidade, para a urgência da necessidade que nos circunda,
e para a natureza transitória do tempo! Se ficássemos impressionados com a
seriedade da situação, não teríamos opção senão lançarmo-nos ao trabalho,
ainda que nos tivéssemos que privar do alimento e do sono, a fim de atingir o
nosso alvo. Nosso tempo já se esgotou quase por inteiro; a necessidade continua
desesperadora; nossa solene obrigação ainda não foi executada. Que, na
qualidade de homens que morrem, nos entreguemos com todo o nosso poder ao
serviço daqueles que morrem ao nosso derredor. Não permitamos que a preguiça
natural nos enleie na procrastinação, mas hoje mesmo devemo-nos levantar e
ordenar que nossos corpos nos sirvam. De que vale dizermos que ansiamos por
servir ao Senhor, se não nos despertamos de nossa letargia? E de que nos
servirá todo o nosso conhecimento, se isso não nos puder salvar de nossa
indolência inata?
Examinemos, uma vez mais, a
passagem do capítulo vinte e cinco do evangelho de Mateus, que já consideramos
no início de nossa preleção. Naquela parábola vimos certo servo do Senhor
enfrentar duas acusações perante o tribunal de Cristo - a acusação de
"maldade" e a acusação de "negligência". O próprio Senhor
Jesus proferiu a sentença: "E o servo inútil lançai-o para fora, nas
trevas" (versículo 30). A avaliação que o Senhor faz do servo preguiçoso
se resume numa palavra, "inútil". Só o servo diligente Lhe pode ser
útil. Não consideremos superficialmente essa questão; mas aceitemos a
advertência solene, e de hoje em diante dependamos do Senhor para que Ele nos
capacite a mudar nossos lerdos hábitos. Posto que a indolência é um hábito
repetido que se desenvolve com a passagem dos anos, não podemos embalar a
esperança de corrigi-la em um dia ou dois, nem podemos esperar remediá-la por
meio de tratamentos suaves. Mas compete-nos tratar de nosso caso sem usar de
clemência, na presença do Senhor, se nos tivermos de tornar servos que não
sejam "inúteis" para o Seu serviço.
Leitura: Mateus 16.13-23; I
Pedro 2.5 Mateus 18.18; 26.31-41, 69-75; Marcos 14.54,66-68.
A estabilidade é outra das
qualidades que se deve encontrar na vida de todo obreiro cristão. Infelizmente,
muitos crentes são extremamente inconstantes. O seu humor se altera com as
condições atmosféricas, de tal modo que por muitas vezes se tornam brinquedos
das circunstâncias; em conseqüência, não se pode depender deles. Suas intenções
são boas, mas, em vista de serem emocionalmente instáveis, freqüentemente
perdem a estabilidade.
A Bíblia retrata para nós um homem de temperamento
irresoluto, que conhecemos pelo nome de Simão Pedro. Certo dia o Senhor
perguntou aos Seus discípulos quem o povo pensava que Ele era, ao que eles
retrucaram que alguns julgavam-No ser João Batista, outros pensavam que Ele
fosse Elias, ao passo que ainda outros viam Nele Jeremias ou algum dos
profetas. Então Ele fez a mesma pergunta aos discípulos, dizendo: "Mas
vós, quem dizeis que eu sou? "
A resposta de Pedro: "Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo", provocou de imediato a réplica de Jesus:
"Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to
revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16.13-18).
Note-se a declaração: "Sobre esta pedra edificarei a
minha igreja". Parece que o Senhor tinha em mente o contraste que
estabelecera, no Sermão da Montanha, entre o sábio que edificou a sua casa
sobre a rocha, em razão do que ela pôde resistir à tempestade e à inundação, e
o insensato que edificou a sua casa sobre a areia, e sob o mesmo embate das
intempéries esta ruiu completamente. Por mais que a Igreja seja sujeitada a
pressões, jamais poderá entrar em colapso, visto estar firmemente estabelecida
sobre a Rocha, que é Jesus Cristo.
Em data posterior, Pedro escreveu
as seguintes palavras: "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual" (I Pedro 2.5). A estrutura superior da Igreja
se compõe da mesma substância de que é formado o seu alicerce; e assim como a
estabilidade caracteriza o alicerce, igualmente caracteriza o edifício
inteiro. A estabilidade, pois, é um distintivo necessário do caráter de todo
obreiro cristão, pois cada qual é uma "pedra que vive". Cristo disse
a Pedro: "Tu és Pedro" (em grego, petros, uma pedra) "e sobre
esta pedra" (em grego, petra, rocha) "edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela". Uma pedra que faça parte
de um edifício não é uma rocha imensa, à semelhança do alicerce; porém, embora
o alicerce e a estrutura superior sejam diferentes quanto às suas dimensões, no
tocante à substância são do mesmo material. Cada um daqueles que participam do
edifício da Igreja poderá ser pequeno em suas medidas, mas no tangente à sua natureza em nada difere do Cabeça
da Igreja.
Observemos em seguida como prossegue a passagem que acabamos
de citar: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra,
terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos
céus". Essa promessa, aqui dirigida a Pedro, também foi feita, mais tarde,
à Igreja toda (ver Mateus 18.18). É claro que Pedro ouviu essas palavras como
um indivíduo, mas foi em sua capacidade de ministro de Cristo que as chaves do
reino dos céus lhe foram confiadas. Foram-lhe entregues aquelas chaves a fim de
que pudesse agir como quem abre as portas; e ele atuou claramente nessa
capacidade, no dia de Pentecoste e, posteriormente, na casa de Cornélio. Na
primeira instância, ele abriu a porta do reino dos céus para os judeus, e, no
segundo caso, para os gentios. Entretanto, quando o Senhor Jesus se dirigiu a
Pedro, em Cesaréia de Filipe, o caráter desse apóstolo não correspondia ainda
ao seu nome, pois naquela altura dos acontecimentos era incapaz de fazer uso
das chaves do reino dos céus. Todavia, quando, pela graça do Senhor, foi
libertado da instabilidade que o caracterizava até então, e se tornou um
ministro de Cristo, firme como uma rocha, pôde usar as chaves que lhe haviam
sido conferidas, e pôde valer-se da autoridade de abrir ou fechar.
Nenhum indivíduo marcado por um
temperamento irresoluto pode exercer um ministério dessa natureza. Deve haver
equiparação entre o caráter do ministro e o caráter do ministério. Ambos devem
trazer o caráter da Igreja contra a qual as portas do inferno jamais poderão
prevalecer. Infelizmente, contudo, as portas do inferno prevalecem contra
muitos obreiros cristãos em vista de serem sempre vacilantes; por esse motivo,
não se pode depender deles na obra do Senhor. A menos que essas naturezas instáveis
sejam transformadas, seremos incapazes de funcionar no ministério específico
do qual tenhamos sido incumbidos; mas, louvado seja o Senhor, Ele conta com
recursos plenamente capazes de transformar o nosso caráter, tal como
transformou o de Pedro. Ele pode abordar qualquer espécie de fraqueza que
porventura esteja maculando as nossas vidas, e pode reconstituir-nos de tal
maneira que nos tornemos aptos para o Seu propósito.
A Bíblia esclarece que foi por
revelação que Pedro foi capaz de reconhecer que Jesus era o Cristo, o Filho do
Deus vivo. Jamais teria podido fazer sozinho essa maravilhosa descoberta, nem
poderia outro homem ter-lhe implantado tal conhecimento; mas Deus é que lhe
fizera saber disso. A partir do momento em que Pedro fez sua confissão, Jesus
começou a falar aos discípulos acerca dos sofrimentos que já esperavam por Ele
para breve; e lhes falou abertamente sobre a Sua iminente crucificação e
ressurreição, após o que Pedro, "chamando-o à parte, começou a reprová-lo,
dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas
Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda! Satanás" (Mateus 16.22,23).
Podemos observar como o pêndulo inclinou-se subitamente para
o lado oposto. Pedro, que tão recentemente atingira tão sublimes alturas na
sua experiência espiritual, agora caía em abismos perigosos. Nem bem acabamos
de ouvir o Senhor reconhecendo que Pedro recebera magnífica revelação divina, e
imediatamente O ouvimos dizer que o apóstolo servia de instrumento nas mãos de
Satanás. Num momento Pedro declarava ao Senhor: "Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo; mas, no instante seguinte, começou a repreendê-Lo. Esses dois
momentos, tão próximos um do outro, estavam separados um do outro,
espiritualmente falando, como os povos se opõem um ao outro; e o mesmo homem
que fora um vaso da revelação divina, naquele brevíssimo espaço de tempo, se
transformara em instrumento de Satanás, mediante o qual este procurava impedir
que o Senhor galgasse à cruz.
O Senhor, porém, reagiu de pronto,
e, dirigindo-se diretamente a Pedro, a quem tão recentemente declarara
"Bem-aventurado és tu", agora lhe dizia: "Arreda! Satanás".
Brevíssimo período se escoara desde que Ele declarara "Tu és Pedro, e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Mas como poderia um homem,
vencido pessoalmente por Satanás, ser usado para edificar a Igreja, acerca da
qual o Senhor declarara que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra
ela? Se Pedro tivesse de ser alguma vez usado, certamente teria de passar por
uma transformação fundamental. E foi exatamente isso que aconteceu. Examinemos
o relato segundo se acha registrado no capítulo vinte e seis do evangelho de
Mateus.
Quando os discípulos estavam reunidos em torno do Senhor,
após a celebração da páscoa, Jesus lhes disse: "Esta noite todos vós vos
escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do
rebanho ficarão dispersas". Pedro, entretanto, com sua característica
impulsividade, protestou imediatamente: "Ainda que venhas a ser um tropeço
para todos, nunca o serás para mim". Pedro estava claramente contradizendo
ao Senhor, mas ao fazer assim usava de uma bravata: estava convencido de que
expressava a verdade. Foi devido ao fato que Pedro confiava tão firmemente em
si mesmo que o Senhor reforçou a Sua declaração geral a respeito de todos os
discípulos, e, dirigindo-se pessoalmente a Pedro, para que não mais restasse
dúvida alguma de que ele também estava incluído no número daqueles que O
abandonariam, Jesus acrescentou detalhes que descreviam a profundeza a que
Pedro cairia, ao desertar do Senhor. Porém, tão arraigada era a auto-confiança
de Pedro que todas as afirmações do Senhor não tiveram o dom de convencê-lo; e
ele protestou, mais veementemente do que nunca: "Ainda que me seja necessário
morrer contigo, de modo nenhum te negarei". Pedro não estava tentando
enganar a quem quer que fosse: era sincero em cada palavra que dizia. Amava ao
Senhor e queria segui-Lo sem reservas. Ao falar como o fez, expressava de todo
o coração o seu desejo; mas equivocava-se, por não ser o homem que julgava ser.
Pedro desejava pagar o preço supremo para seguir ao Senhor, mas não pertencia à
categoria de homem que pensava ser; não era capaz de pagar tal preço.
Pouco depois de Pedro haver feito
suas reiteradas declarações de que seguiria ao Senhor a qualquer custo, o
Senhor disse a ele e aos outros dois discípulos que levara Consigo em
particular, até o jardim do Getsêmani: "A minha alma está profundamente
triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo". Mas todos os três caíram
no sono. Novamente o Senhor se dirigiu especificamente a Pedro, dizendo-lhe:
"Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? " Porém, não esperou
pela resposta de Pedro; mas Ele mesmo forneceu a resposta: — "O espírito,
na verdade, está pronto, mas a carne é fraca". Sim, assim era Pedro.
Estava tão pronto, mas era tão fraco.
Em um próximo instante a cena foi alterada novamente. E
Pedro mudou conforme as circunstâncias. Uma grande multidão viera aprisionar a
Jesus, e as emoções de Pedro foram despertadas. Estendeu a mão, puxou da
espada e decepou a orelha do servo do sumo sacerdote. Não era essa uma prova de
sua disposição de morrer em companhia de seu Senhor? Mas, esperem um instante.
Jesus foi detido, e agora está sendo levado sozinho. Para onde ter-se-ia ido
Pedro? 'Então os discípulos todos, deixando-o, fugiram". Pedro havia
desertado a seu Senhor.
Marcos registra: "Pedro
seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava
assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo" (14.54).
Subitamente, uma das criadas do sumo sacerdote o reconheceu e exclamou:
"Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o
conheço, nem compreendo o que dizes" (versículos 67 e 68). Seria esse o mesmo
Pedro, que ainda naquele dia ousara cortar fora a orelha do servo do sumo
sacerdote? Sim, era Pedro, realmente, mas agora tão dominado pelo temor, quando
uma simples criada do sumo sacerdote o identificava como um dos discípulos, que
chegou ao ponto de renegar ao seu Senhor. Há poucos minutos queria segui-Lo a
todo custo, ainda que isso significasse perder
a própria vida, mas agora queria preservá-la a todo custo. A grande explosão
emotiva que se apoderara dele já havia amainado; e enquanto Jesus sofria opróbrios
no salão de julgamento, Pedro procurava evitar qualquer ligação com os Seus
sofrimentos. Por conseguinte, mudou de lugar e foi para o pórtico. Ali
conseguiu ouvir outro servo, que dizia a alguns dos presentes: "Este é um
deles", e imediatamente se viu compelido a fazer nova negação. Escreve
Mateus: "E ele negou outra vez, com juramento: Não conheço tal homem"
(26.72). Não se passou muito tempo quando outras pessoas, que se achavam de pé,
aproximaram-se dele e lhe disseram: "Verdadeiramente és também um deles, porque
o teu modo de falar o denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar: Não
conheço esse homem" (versículos 73 e 74). Porventura tratar-se-ia do mesmo
Pedro, este homem que agora negara ao Senhor por três vezes, que negara
conhecê-Lo em meio a juramentos e pragas? Sim, era Pedro, verdadeiramente.
O problema de Pedro não era algo meramente superficial. Havia
uma falha fundamental em seu caráter. Ele se deixava controlar pelas suas
emoções, e a sua conduta era sempre imprevisível, tal como o comportamento de
todos aqueles que são controlados pelos sentimentos. O entusiasmo dessa gente
as eleva, ocasionalmente, a alturas excelsas; noutras ocasiões, a depressão
as conduz às maiores profundezas. É possível que tais pessoas recebam a
revelação divina, mas também é possível que sirvam de obstáculo no caminho dos
propósitos divinos. Inclinam-se por falar e agir com precipitação, sob a
pressão de algum impulso súbito, mas esse impulso não tem origem divina. Muitos
problemas na obra do Senhor surgem por causa desse defeito radical nas vidas
de Seus servos; e visto que a dificuldade é radical, ela requer uma correção
radical.
Pedro era possuidor de um caráter
franco. Não era dado à diplomacia ou às meias medidas; mas era dotado de
emoções fortes, e confiava nessas emoções, até que a prova por que passou certo
dia mostrou que ele não era homem de devoção inflexível ao Senhor, conforme os
seus sentimentos o tinham levado a acreditar.
Irmãos e irmãs, é tragicamente possível que nosso suposto
amor ao Senhor não passe de pouco mais que um apego sentimental. Nossas
relações emocionais para com o Seu amor não são necessariamente tão profundas
nem tão puras como pensamos. Sentimos que O amamos totalmente; mas vivemos
tanto no campo da alma que julgamos ser do tipo de pessoas que sentimos que
somos. Sentimos que queremos viver exclusivamente para Ele e que queremos
morrer por Ele, se Ele assim o desejar; mas, se o Senhor não destruir a nossa
auto-confíança. como destruiu a de Pedro, continuaremos sendo enganados pelos
nossos sentimentos, e a nossa vida consistirá de intermináveis flutuações.
Pedro não mentiu deliberadamente
ao asseverar a sua devoção ao Senhor; mas os seus sentimentos fizeram-no
acreditar naquilo que não era verdade. É horrível dizer-se uma mentira; mas é
digno de compaixão acreditar-se numa mentira. Se continuarmos confiando em
nossos sentimentos, o Senhor poderá ter de permitir que descubramos, através de
queda séria, quão indigna de confiança é a nossa vida emocional.
A medida de nossa habilidade de seguir ao Senhor não é
aquilatada pela medida de nosso desejo de segui-Lo.
Quem nos dera reconhecer o fato que a Igreja é uma estrutura
eternamente estável! O alicerce da Igreja é um fundamento rochoso, e cada uma
das pedras que formam o edifício é tirada dessa mesma rocha. Se nosso caráter
não corresponde ao caráter da verdadeira Igreja, como podemos esperar fazer
parte de sua construção? Se procuramos edificar com material inferior, então
estamos pondo em perigo a estrutura inteira. Pedra de outra qualidade que não
aquela do alicerce não resistirá à tensão imposta sobre ela, e assim nossa
tentativa de edificar resultará tão-somente em ruína, e a ruína significará
perda para nós mesmos e para outros, e perda de tempo precioso, durante o qual
poderia ser completado o trabalho. Verdadeiramente, precisamos dar ouvidos à
palavra que nos exorta, em I Coríntios 15.58: — "Sede firmes, inabaláveis,
e sempre abundantes na obra do Senhor".
Graças a Deus que Pedro foi
conduzido à queda a fim de descobrir a sua própria fraqueza, e essa queda foi
profunda o bastante para esmagar a sua auto-confiança. Nossos fracassos
passados não têm sido suficientemente sérios para nos convencermos de nosso
caráter indigno de confiança? Continuamos orando e pedindo luz sobre nossa própria
condição, mas o conhecimento de nossos fracassos passados não é bastante
iluminador para nos levar a cair de joelhos perante Deus, em profunda
contrição, permitindo-Lhe que nos refaça, tal como reconstituiu a Pedro? Quando
a queda de Pedro lhe mostrou de que naipe era feito, "saindo dali, chorou
amargamente". Dali por diante o Senhor começou a reformá-lo, até que o seu
caráter pudesse estar à altura de seu novo nome, quando então pôde usar as
chaves do reino dos céus com poderosos efeitos.
Não podemos esperar ser transformados em instrumentos
notáveis, à semelhança de Pedro, mas confiamos em que o Senhor se compadecerá
de nós e operará uma transformação tal em nossas vidas como operou na vida
daquele apóstolo. Nosso caráter precisa passar por uma transformação radical,
se tivermos de ser obreiros cristãos dignos desse nome.
leitura: Provérbios 17.5; Marcos 10.45; Lucas 19.10; João
10.10 e Lucas 15.
O amor aos irmãos é um elemento essencial na vida de todo
obreiro cristão, mas não menos essencial é o amor por toda a humanidade.
Salomão escreveu: "O que escarnece do pobre insulta ao que o criou"
(Provérbios 17.5). Deus é o Criador de todos os homens, e ninguém está apto
para tornar-se servo Seu se aborrece ou despreza a qualquer deles. É verdade
que o homem caiu, mas esse homem caído se tornou objeto do amor remidor; e o
Senhor que redimiu o homem, Ele mesmo se tornou homem — um homem semelhante aos
outros homens, que gradualmente cresceu da infância à plena maturidade. E quando
Deus já contava com o Homem segundo o Seu desejo, na pessoa de Seu Filho, e O
exaltara à Sua mão direita, a Igreja foi trazida à existência, "o novo
homem" em Cristo.
Quando chegamos a compreender
realmente a Palavra de Deus, então percebemos que a expressão "filhos de
Deus" não se reveste de tanta significação quanto o termo
"homem", e também percebemos que a escolha divina e a eleição divina
tinham como seu objetivo um homem coletivamente glorificado. Quando percebemos
o lugar que o homem ocupa nos propósitos de Deus; quando vemos o homem como o
foco de todos os Seus pensamentos; quando contemplamos como o Senhor
humilhou-se, a fim de tornar-se homem; então aprendemos a apreciar a humanidade
inteira.
Estando nosso Senhor neste mundo, declarou : "Pois o
próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). Ele não ensinou que o Filho de
Deus veio a fim de ministrar aos homens; mas disse: "...o Filho do
homem... veio..." Nessas palavras entrevemos a atitude do Senhor para com
o homem.
Uma séria dificuldade, no caso de
muitos dentre aqueles que estão engajados na obra cristã, é a sua falta de amor
pelos homens, na sua falta de estima pelos homens, no fato de não perceberem o
valor que o homem tem aos olhos de Deus. Sentimos hoje que já chegamos a
excelsas alturas se começamos a amar aos filhos de Deus. Mas. será isso o
suficiente? Não, porquanto precisamos expandir-nos; precisamos entender que o
nosso amor deve incluir a todos os homens; precisamos compreender que todos os
homens são preciosos para Deus. Sem dúvida vocês estão interessados por algumas
poucas pessoas inteligentes, por alguns poucos que, de uma maneira ou de outra,
são notáveis; mas o que quero saber não é se vocês estão interessados por
homens extraordinários, e, sim, se estão interessados no HOMEM. Essa pergunta
é importantíssima. A frase que diz "...o Filho do homem... veio..."
implica, antes de tudo, no que o Senhor estava intensamente interessado no
homem: estava tão interessado que Ele mesmo se fez homem. Até que ponto vocês
estão interessados? Talvez pensem: "Bem, fulano não tem muita
importância". Ou então: "Tal pessoa não representa grande
coisa". Mas, como é que o Senhor considerou tais pessoas? Ele veio habitar
entre os homens, na qualidade de Filho do homem. Dava um valor tal ao homem que
se tornou homem, a fim de que pudesse servir ao homem da maneira mais perfeita
possível. Trata-se de algo surpreendente, como também extremamente grave, que
muitos dos filhos de Deus se preocupem tão pouco com os homens. Irmãos e irmãs,
vocês compreendem o sentido desta frase, "...o Filho do homem ... veio ?
" Ela significa que Cristo se importou com toda a humanidade. Que anormal
estado de alma, se estamos interessados apenas por alguns poucos indivíduos
seletos!
O interesse pela raça humana é um requisito básico em todo
obreiro cristão, e não apenas o interesse por certo segmento da mesma.
"Deus amou o mundo". Seu amor abarcou a todos os homens, e assim
também deve ser o nosso amor. Não devemos limitar os nossos interesses aos Seus
filhos, nem a qualquer outra classe particular de homens, mas devemos estender
nosso amor a todos.
Anos de instrução nos têm
acostumado a falar de certos homens como nossos "irmãos", e de todos
os homens como nossos "semelhantes", e talvez tenhamos começado a
apreciar o fato que alguns homens são verdadeiramente nossos irmãos; porém,
damos o devido valor a esse outro fato que todos os homens são nossos
semelhantes? Infelizmente, muitos dos que se professam servos do Senhor,
jamais abriram os seus corações para com todos os seus semelhantes. Se ao menos
ficasse profundamente gravado em nós que Deus é nosso Criador, e que todos
somos semelhantes uns dos outros, como tiraríamos proveito dos outros, enganando-os,
acerca de qualquer coisa? Se, em nosso trato com os nossos semelhantes,
buscamos os nossos próprios interesses, o nosso trabalho terá um valor bem
limitado aos olhos de Deus, por maior que seja o seu volume externo.
"Pois o próprio Filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos
10.45). "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido"
(Lucas 19.10). "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância"
(João 10.10). Foi por causa do homem que o Senhor Jesus veio a esta terra, e
Ele veio com o propósito específico de servir aos homens. Foi seu avassalador
interesse pelos homens que O trouxe do céu à terra, a fim de ministrar aos
homens de tal maneira que derramou a Sua própria vida em resgate por eles. O
poder motivador de Cristo era o Seu apaixonado amor pelos homens. Seu
ministério em favor dos homens resultava de Seu amor por eles; e visto que o
Seu amor não conhecia fronteiras, Ele pôde servi-los até chegar ao extremo da
morte na cruz.
Se vocês procurarem pregar o
evangelho aos perdidos, mas jamais se sentirem tocados pelas palavras
"Deus criou o homem", e assim considerá-los seus próprios
semelhantes; e se nunca jamais tiveram um interesse mais do que casual pelos
homens; então não estão aptos para pregar a Cristo como "resgate por
muitos". É mister que raie em nós o fato que Deus criou o homem à Sua
semelhança e nele concentrou o Seu amor, visto que o homem é tão enormemente
precioso para Ele. A menos que o homem se torne objeto de nossa afeição, é
impossível que nos tornemos servos dos homens.
Muitos obreiros cristãos têm uma atitude completamente
errada para com os semelhantes. Consideram-nos um entrave, e algumas vezes se
ofendem com os seus atos e não conseguem perdoá-los. Mas como podemos nós, em
nós mesmos pecadores por natureza, hesitar em perdoar aos pecadores? Como
podemos deixar de compreender as suas fraquezas e defeitos? E como podemos
deixar de considerá-los queridos, quando reconhecemos o quanto são prezados
pelo Senhor? Ele, o Bom Pastor, pode abandonar tudo e sair em busca de uma única
ovelha perdida; o Espírito Santo pode procurar uma única moeda perdida; e o Pai
pode sair a fim de dar as boas vindas ao Seu filho perdido. Na parábola que há
no capítulo quinze de Lucas vemos como o amor divino pode desgastar-se
livremente para redimir ao menos uma alma. E ainda podemos não entender a
intensidade do amor de Deus pelo homem?
Irmãos e irmãs, à luz da profunda
preocupação de Deus pelo homem, podem vocês ainda considerar com indiferença
aos seus semelhantes? Seremos inúteis em Seu serviço a menos que os nossos
corações sejam expandidos e que o nosso horizonte seja alargado. Precisamos ver
o valor que o homem tem para Deus; precisamos perceber o lugar ocupado pelo
homem no eterno propósito de Deus; compete-nos ver a significação da obra remidora
de Cristo. Sem isso, é vão imaginar que débeis criaturas como vocês e eu
possamos ter alguma participação na grandiosa obra de Deus. Como poderia alguém
ser usado para salvar almas, se não tivesse amor pelas almas? Se ao menos esse
defeito fundamental de nossa falta de amor aos homens pudesse ser solucionado,
nossas muitas outras dificuldades em relação aos homens haveriam de
desaparecer. Julgamos que algumas pessoas são por demais ignorantes, e pensamos
que outras são muito duras, mas esses problemas desaparecerão quando nosso
problema básico de falta de amor aos homens houver sido resolvido. Quando
deixarmos de estar em um pedestal e aprendermos a tomar o nosso lugar como
homens entre os seus semelhantes, então nunca mais desdenharemos deles.
Alguns obreiros cristãos, criados em áreas urbanas, às vezes
se internam pelo interior e, entre a gente simples do campo, adotam uma atitude
de superioridade para com eles. Quão diferente é isso do Filho do Homem, o qual
veio para ser servo de todos! Se vocês forem a algum lugar para pregar o
evangelho, mas não forem na qualidade de filhos do homem, terão falhado em sua
missão. Se vocês trabalham entre os outros revestidos de uma atitude de
condescendência, não se enganem, confundindo a humildade de Cristo com a condescendência.
A condescendência consciente é uma humildade falsa; a humildade genuína não tem
consciência de si mesma. Quando Cristo veio habitar entre os homens, veio como
verdadeiro homem. Viveu como homem em meio aos seus semelhantes. Muitos obreiros
cristãos, ao se movimentarem entre os seus semelhantes, deixam a impressão de
que lhes estão prestando um favor ao se associarem com eles. Nossa conduta
jamais deveria levar os outros a sentirem que somos diferentes deles. A menos
que possamos ser filhos do homem entre os homens, não seremos nem verdadeiros
servos do homem e nem verdadeiros servos de Deus. Os obreiros de Deus devem ser
pessoas tão abnegadas que sejam inconscientemente humildes. Um homem ignorante
e perdido não difere de vocês e de mim em qualquer outra coisa além disto, que
nós estamos salvos, e que ele não o está. Mas ele tem um lugar no propósito
criador de Deus, tal como vocês e eu temos; ele tem um lugar no propósito
redentor de Deus, tal como vocês e eu temos; e ele tem a mesma potencialidade
para Deus como vocês e eu temos.
Talvez cada um de vocês diga: A
ignorância alheia não representa problema algum para mim; minha dificuldade
surge quando entro em contacto com pessoas de baixa moral ou acostumados a
enganar aos outros. Qual deve ser a minha atitude para com tais pessoas? Vocês
precisam apenas fazer um retrospecto em sua própria vida. Onde estavam vocês
quando a graça de Deus os encontrou? E onde se encontrariam hoje, não fosse a
graça de Deus? Se, em qualquer aspecto, vocês diferem deles, trata-se
inteiramente de uma questão de Sua graça. Meditem no que a graça de Deus tem
feito por vocês. Ao contemplarem a Sua graça, terão de prostrar-se perante Ele
e reconhecer: "Por natureza sou tão pecaminoso quanto eles, mas sou um
pecador salvo pela graça". A contemplação do que a graça de Deus tem feito
por nós jamais nos exaltará; pelo contrário, sempre nos forçará a nos
humilharmos perante Ele. Se vocês são diferentes dos outros, "pois quem é
que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas recebido? e, se o
recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? " A
visão do pecado certamente deve levar-nos a retroceder, mas, apesar disso,
devemos estender o nosso amor aos pecadores.
Se, por um lado, a nossa atenção se fixa no fato que todo
servo de Deus tem a sua própria função especial, não nos devemos olvidar, por
outro lado, que, por mais diferentes que possam ser as suas funções, todos os
mais autênticos servos de Deus se assemelham em um ponto particular, a saber, que
se interessam profundamente pelos homens. Se vocês não se sentem atraídos aos
pecadores, mas antes, preferem evitá-los, que esperam poder realizar ao
pregar-lhes o evangelho? Afastar-se-ia um médico de seus pacientes enfermos? Se
buscamos aos perdidos por havermos compreendido o quanto eles são preciosos no
conceito de Deus, ainda que seja uma só alma, então nos aproximaremos dos
pecadores, não por compulsão do dever, mas sob o constrangimento de uma atração
irresistível. Quando nos chegamos a eles com amor espontâneo, descobrimos que
se terá aberto perante nós um ilimitado campo de serviço, e, pela misericórdia
divina, nos tornaremos servos que Lhe são de alguma valia.
Oh! se pudéssemos ver cada ser
humano como uma alma viva, dotada de imensas potencialidades! Quão
diferentemente nos temos sentido para com os salvos, desde que compreendemos
que somos "concidadãos dos santos"! E sentiremos diferença similar
para com os perdidos quando a luz divina raiar sobre nós e, verdadeiramente,
virmos cada um como nosso semelhante. Então lhes daremos valor e os amaremos, e
entraremos em harmonia com o Senhor, nesse desejo de conquistá-los para Si
mesmo, a fim de que eles sejam qual material de construção em Suas mãos,
visando à edificação de Sua Igreja. Se vocês ou eu desprezarmos qualquer alma
humana, estaremos sendo indignos de permanecer no serviço do Filho do Homem,
porquanto os Seus trabalhadores são servos dos homens que têm por motivo de
alegria o poderem servi-Lo.
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COMO ATINGIRMOS O CORAÇÃO DE DEUS (IICr 7:14) “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Para Que Uma Pessoa, Uma Igreja, Uma Nação, Possa Receber As Bênçãos Das Mãos Do Deus E Necessário Atingir O Coração De Deus
Neste versículo aprenderemos como atingirmos o coração de Deus.
1º VOCÊ PRECISA SE HUMILHAR DIANTE DE DEUS
Um dos significados da palavra humilhar é: Submeter-se, render-se e prostrar-se
SE HUMILHAR é Submeter, é se por debaixo, é tornar dependente, é se sujeitar.
Então aquele que se humilha ele esta se colocando debaixo das mãos do Soberano,
Ele depende de Cristo para receber o perdão dos seus pecados.
SE HUMILHAR é se Render, mas se render do que:
Aos desejos e propósitos do Senhor Jesus em torna-lo cada vez mais puro e santo.
Aquele que se humilha, ele se torna dependente, ele se entrega a supremacia do Deus.
Ao tornar-se humilde está pessoa está submetendo a receber a graça e o perdão que nos levará a Deus.
SE HUMILHAR é se prostra, é se lançar aos pés daquele que tudo vê, tudo pode, tudo sabe.
É matar, deixar morrer, o desejo de vingança de orgulho, da carne.
Se humilhar, é reconhecer quem éramos no passado , e Deus nos deu uma nova vida.
A humilhação, faz toda a diferença na vida do cristão.
(Tg 4:10) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
(IPe 5:6) Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte
(Mt 23:12) “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. .
Para mexer no coração de Deus, a primeira coisa que você deve fazer é se humilhar. ORA COMIGO
Senhor eu reconheço os meus pecados, eu reconhece as minha falhas, eu reconhece os meus defeito os meus erros, eu quero Senhor, abrir meu coração, a minha alma tem sede de ti, eu desejo receber o seu perdão, eu quero ser perdoado por ti.
Vale a pena se humilhar, não pense duas vezes, pois aquele que se humilhar diante de Deus, alcançarão as bênçãos.
2º VOCÊ PRECISA TER UMA VIDA DE ORAÇÃO, POIS A ORAÇÃO E A CHAVE,
QUE ABRE O CORAÇÃO DE DEUS
(Lc 1:13a)Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida.
Zacarias, se ele não tivesse buscado ao Senhor, se ele não tivesse orado, ele não teria alcançado o coração de Deus, mas devido a sua insistência Deus ouviu a sua oração e respondeu ao seu clamor.
Portanto, você que está precisando de uma, benção urgente, de uma vitória, não perca mais tempo, levante um grande clamor, e começa a orar.
Busque ao Senhor em oração, as tuas orações subirão como cheiro suave e Deus se alegrará e responderá, pois a oração atinge o coração de Deus.
E quando o coração de Deus é atingindo, libera e derrama a benção e a unção da providência sobre a sua vida.
O que é Oração? É Conversar com Deus, é dialogar com o teu criador, a oração é uma busca de contato com Deus, a oração é o segredo para receber poder e autoridade, oração é a alavanca que move o cristão, a superar as dificuldades e renovar as suas força.
A oração é o oxigênio da nossa alma é ter comunhão com Deus, é a chave que abre as janelas do céu, Portanto, se você não gosta de orar,