sábado, 18 de agosto de 2012

O Obreiro Cristão Normal Watchman Nee 2º parte


O Obreiro Cristão Normal 2º parte

Watchman Nee


Outra daquelas qualidades que esperamos en­contrar na vida de todo obreiro cristão é que ele seja capaz de ouvir. Muitas pessoas, sem dúvida, consideram isso como uma questão de somenos importância, com­parativamente falando; mas a experiência e a observação nos têm demonstrado que isso de modo algum é assim.

Qualquer indivíduo que queira servir ao Senhor deve adquirir o hábito de ouvir o que os outros dizem, e não ouvir de maneira casual, e, sim, ouvir com atenção, com o objetivo de prestar atenção e de compreender o que lhe é dito. Se um crente, em necessidade cons­ciente, volta-se para um servo do Senhor pedindo-lhe ajuda, este, enquanto escuta a história de seu irmão, deve ser capaz de discernir três tipos diferentes de linguagem - as palavras que ele está proferindo; as pa­lavras que ele está reservando para si; e as palavras que ele não pode proferir e que jazem no profundo do seu espírito.

Em primeiro lugar, deve-se ter como alvo dar ou­vidos ao que nosso interlocutor está realmente dizendo, ouvindo-o até que possamos compreender o que ele busca, o que significa que nós precisamos manter tranquilamente defronte de Deus, para que a nossa mente esteja desanuviada e nosso espírito esteja calmo, visto que dar atenção não é uma questão muito fácil. Deixem-me perguntar-lhes: Vocês podem seguir inteli­gentemente o que alguém diz, enquanto esse alguém procura explicar laboriosamente a sua dificuldade? Temo que se vinte de vocês começassem a ouvir todos à mesma pessoa e ao mesmo tempo, haveria tantas impressões diferentes acerca do problema daquela pessoa quantos fossem os ouvintes.

Ah, temos que aprender a nos controlarmos com mão firme, se quisermos adquirir ouvidos aptos a escutar. Nossos ouvidos devem ser treinados para ouvir. A menos que estejamos bem disciplinados, ficamos enfadados com os relatos que as pessoas necessitadas derramam em nossos ouvidos, e muito antes que elas parem de falar já as deixamos de ouvir, e então tiramos as nossas conclusões prematuras a respeito de seus problemas. Ou então, desde o início lhes damos escassa atenção, visto estarmos tão impressionados com a im­portância do que temos para lhes transmitir que só esperamos pela oportunidade de interrompê-las e as­sumir novamente o papel de quem fala, naturalmente esperando que elas se mostrem boas ouvintes.

Sucede com freqüência que um obreiro, depois de meditar por algum tempo sobre um determinado tema espiritual, fica tão impregnado de seus pensa­mentos que quando um irmão aflito busca a sua ajuda, ele, imediatamente, expõe a questão sobre a qual vinha meditando. Depois, quando um irmão dominado de alegria e regozijo se apresenta, recebe o mesmo trata­mento; e a mesma coisa é impingida a todos quantos procuram aquele obreiro, sem importar o estado dos mesmos. Na obra cristã a questão de prestar ajuda aos outros é mais difícil do que a tarefa do médico que busca aliviar os sofrimentos dos pacientes que vêm à sua clínica, pois conta com um laboratório onde podem ser efetuados testes que possam auxiliá-lo no diagnóstico dos diversos casos, enquanto que o obrei­ro cristão tem que chegar ao seu diagnóstico sem qualquer ajuda semelhante. Se alguém vier a vocês e se puser assentado durante meia hora a fim de lhes suprir de informes sobre a sua condição, mas vocês não lhe puderem dar atenção cuidadosa, como serão capazes de localizar a sua dificuldade? É imperativo que todos quantos servem ao Senhor cultivem a arte de dar ouvidos ao que os outros dizem, a fim de que se tornem ouvintes sagazes e desenvolvam a capaci­dade de compreender o problema específico de ca­da indivíduo.

Em segundo lugar, quando algum necessitado nos dirige a palavra, enquanto ele fala devemos discernir o que tal pessoa está evitando dizer. Naturalmente, é mais difícil obter um registro claro das palavras não proferidas do que daquelas que são ditas, mas temos que aprender a ouvir com tanta atenção que possamos discernir tão bem o que é audível como aquilo que é inaudível. Quando as pessoas nos consultam sobre as suas questões, não é incomum que nos relatem apenas metade da história e se refreiem de divulgar a outra metade. É nesse ponto que a competência do obreiro é posta à prova. Se vocês são obreiros incompetentes, discernirão somente aquilo que for audivelmente ex­presso; ou talvez vocês procurem compreender a his­tória interpretando-a, inserindo os seus próprios pensa­mentos, pensamentos que jamais subiram ao coração do interlocutor. O resultado será que vocês compre­enderão mal aquele que veio atrás de auxílio. Se vocês tiverem de interpretar corretamente, então será neces­sário que mantenham estreitas relações com o Senhor. Quando uma pessoa necessitada fala somente da sua dificuldade superficial, mas faz silêncio quanto à questão mais importante, como poderão vocês reconhecer a sua condição? Poderão, de fato, reconhecê-la, contanto que suas próprias relações com o Senhor não estejam confusas.

Em terceiro lugar, devemos ser capazes de des­cobrir o que os seus espíritos estão dizendo. Por detrás de todas as palavras que uma pessoa possa proferir, e das palavras que ela esteja deliberadamente ocultando, existe aquilo que já denominamos de palavras proferidas pelo espírito. Quando qualquer crente em necessidade começa a abrir a boca e a falar, então o seu espírito também fala. O fato que ele se dispõe a falar sobre si mesmo lhes dará a oportunidade de tocarem em seu espírito. Se os seus lábios se mantiverem fechados, porém, será difícil saber o que se passa em seu espírito, mas, paralelamente com as palavras que lhe saem dos lábios, o seu espírito encontrará algum meio de ex­pressão, por mais que ele se esforce por controlar-se. A habilidade de vocês discernirem o que o espírito de tal pessoa quer dizer dependerá da medida da própria experiência espiritual que vocês já tiveram. Se tiverem adquirido compreensão mediante o exercício do coração na presença de Deus, então serão capazes de discernir as palavras proferidas por aquele irmão; as palavras que ele evitou exprimir; e as palavras que ele está dizendo no mais íntimo do seu ser. Vocês serão capazes de discernir a dificuldade intelectual que ele definiu, e também a dificuldade espiritual que não foi definida; e então estarão em posição de oferecer o remédio específico para o caso.

É uma tragédia que tão poucos crentes sejam bons ouvintes. Pode-se passar uma hora inteira a lhes explicar uma dificuldade, mas, no fim, continuam totalmente atordoados a respeito. É que a atenção não foi sufici­entemente aguda. Se não formos capazes de ouvir o que os outros têm para nos dizer, como podemos dar ouvidos ao que Deus nos diz? Oh! não tomemos o caso como uma questão insignificante. Se não aprendermos a ouvir, e ouvir com entendimento, ainda que nos tornemos grandes leitores da Bíblia ou grandes mestres das Escrituras, e nos tornemos eficientes em vários tipos de trabalho, continuaremos incapazes de tratar do caso de um irmão necessitado. Devemos ter a habi­lidade não somente de falar com as pessoas, mas também de cuidar das suas dificuldades. Porém, como isso poderá vir a ser uma realidade se tivermos aprendido a usar a boca, mas não os ouvidos? Sim, cumpre-nos entender a seriedade dessa falha.

Conta-se a história de um antigo médico cujo estoque de medicamentos consistia exclusivamente de duas variedades — óleo de rícino e quinino. Não impor­tava do que os seus pacientes se queixassem, invariavel­mente ele prescrevia um ou outro desses medicamentos. Muitos obreiros cristãos tratam exatamente desse modo daqueles que buscam a sua ajuda. Contam com apenas um ou dois recursos favoritos, e por mais variados que sejam os males daqueles que os procuram, aconselham-nos segundo esses parcos recursos. Tais obreiros não podem ser de grande auxílio para os outros, visto que só podem falar; não sabem ouvir. Como, pois, podemos adquirir a capacidade de ouvir às pessoas e de entender o que dizem?

(1) Devemos evitar a subjetividade. Porque é uma das principais razões por que tantas pessoas são más ouvintes. Se tivermos os nossos próprios conceitos acerca das pessoas, descobriremos ser difícil aceitar o que elas dizem, porquanto nossa mente já estará repleta das nossas própriasconclusões. Ficamos tão fixos em nossas noções que as opiniões alheias não pe­netram em nossas mentes. Estamos tão firmemente persuadidos que já descobrimos a panacéia para todos os males que, sem importar quão variegadas sejam as necessidades daqueles que nos buscam, oferecemos sempre o mesmo remédio para todos. Como é possível que um obreiro dê atenção ao que os outros lhe dizem acerca de suas necessidades se, antes de ao menos abrirem a boca, ele está convencido de que já conhece a dificuldade e já tem o remédio à mão? Precisamos rogar ao Senhor que nos liberte dessa subjetividade. Acheguemo-nos a Ele e oremos para que Ele nos capa­cite a pôr de lado todos os nossos preconceitos e con­clusões próprios, em todos os nossos contactos com os nossos semelhantes, e para que Ele mesmo nos instrua para que possamos chegar ao diagnóstico certo em cada caso.

(2) Não devemos divagar. Muitos crentes nada conhecem do que se refere à disciplina mental. Dia e noite os seus pensamentos fluem sem interrupção. Nunca se concentram, mas permitem que a sua imagi­nação divague para lá e para cá, até que as suas mentes acumulem tantos subsídios que nada mais podem tolerar. E assim, quando alguém lhes dirige a palavra, não podem seguir o que lhes é dito, mas só podem seguir a linha dos seus próprios pensamentos ou falar das coisas que os preocupam. É essencial que apren­damos a tranqüilizar as nossas mentes, para que pos­samos ouvir e aceitar o que nos estiver sendo dito.

(3) Cumpre-nos aprender a penetrar nos senti­mentos alheios. Ainda que sejamos capazes de escutar o que alguém nos diz, seremos ainda incapazes de com­preender as suas necessidades, a menos que possamos entender, com atitude simpática, as suas circunstâncias. Se alguém vier a vocês profundamente aflito, mas vocês permanecerem em atitude despreocupada e leviana, não tendo sido tocados pela aflição dele, não serão capazes de chegar ao verdadeiro diagnóstico do caso. Se a nossa vida emocional não tiver sido moldada por Deus, quando outros expressarem a sua alegria seremos incapazes de irromper em jubilosa reação, e quando exprimirem as suas tristezas, nos mostraremos incapazes de comparti­lhar das mesmas; em conseqüência, quando os outros falarem, seremos capazes de ouvir as palavras que proferem, mas não poderemos interpretar corretamente o seu sentido.

Não nos devemos esquecer de que, por amor de Cristo, somos servos uns dos outros, e compéte-nos não só devotar-lhes nosso tempo e nossas forças, mas também importa que deixemos que nossas afeições se estendam para eles. Diz-se do Senhor Jesus que Ele pode "compadecer-se das nossas fraquezas". As exigências impostas por Deus àqueles que pretendem servi-Lo são muito rigorosas. Elas não nos dão margem para nos entregarmos ao lazer e para nos ocuparmos conosco mesmos. Se tivermos de nos envolver com o nosso próprio riso e com as nossas próprias lágrimas, com as nossas próprias preferências e com os nossos próprios gostos, então estaremos por demais preocupados para nos entregarmos livremente ao serviço dos outros. Se nos aferrarmos aos nossos próprios prazeres e aflições, e hesitarmos em desviar a atenção dos nossos interesses, então nos pareceremos com salas tão repletas de móveis que nada mais elas podem acomodar. Ou, dizendo a mesma coisa noutras palavras, despenderemos todas as nossas emoções conosco mesmos, e nada mais teremos para despender com o próximo. É necessário que enten­damos que a força de nossas almas tem um limite, tal como é limitada a energia dos nossos corpos. Nossos poderes emocionais não são ilimitados. Se exaurirmos as nossas simpatias com alguma coisa, nada mais teremos para gastar com outra. Por esse motivo, quem quer que tenha um afeto desordenado por outrem, não pode ser servo do Senhor. Ele mesmo estipulou: "Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.26).

A necessidade básica de todos aqueles que se ocupam da obra do Senhor consiste em conhecer a cruz por experiência própria; doutro modo nos dobraremos sobre nós mesmos e seremos governados por nossos próprios pensamentos e sensações. Não existe maneira rápida e fácil para alguém se tornar útil para Deus e para os seus semelhantes. Relembremo-nos que os maus ouvintes jamais serão bons obreiros; e para que nos transformemos em bons ouvintes, a cruz terá que operar profundamente em nossas vidas, libertando-nos da ten­dência de ficarmos absorvidos somente conosco mesmos, o que nos torna surdos para com as preocupações alheias. A profunda ação da cruz em nossas vidas pro­duzirá a calma interior que nos fará ser ouvintes cheios de paciência. Isso não significa que deixaremos as pessoas falarem horas sem fim, enquanto ficamos assen­tados, a ouvi-las em silêncio, mas quer dizer que lhes daremos uma oportunidade razoável de explicar-nos o que se passa nos corações delas.

Há uma idéia errônea, mui generalizada entre os obreiros cristãos. Pensam eles que o essencial básico é que sejam capazes de falar. Nada mais afastado da rea­lidade! Para sermos obreiros eficazes precisamos de clareza espiritual; necessitamos de discernimento acerca das condições de todos quantos procurarem a nossa ajuda; necessitamos de tranqüilidade mental para que ouçamo-los a expor o seu caso; e precisamos de sossego de espírito para que possamos sentir a verda­deira condição deles, além daquilo que nos desvendarem. Nós mesmos teremos que permanecer em correta relação para com o Senhor, de tal modo que, donos de luz interna, possamos discernir claramente as necessidades alheias, e, à base de um diagnóstico exato, sejamos capazes de aplicar o remédio específico exigido em cada caso.




Leitura: Tiago 3.1; Eclesiastes 5.3; I Timóteo 3.8; Mateus 5.37; Efésios 5.4 e Isaías 50.4.



Por falta de comedimento nas palavras, é seria­mente cerceada a utilidade de muitos obreiros cristãos. Em lugar de serem instrumentos poderosos no serviço do Senhor, o seu ministério produz pouco efeito, devido ao constante desgaste de poder, devido ao seu falar descuidado, sem nenhuma cautela.

No terceiro capítulo de sua epístola, Tiago faz a seguinte pergunta: "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? " (versí­culo 11). Se um obreiro cristão costuma falar sem a menor cautela a respeito de todas as questões possíveis, como pode esperar ser usado pelo Senhor na propa­gação de Sua Palavra? Se Deus chegou a pôr a Sua Palavra em nossos lábios, então pesa sobre nós a solene obrigação de resguardarmos os nossos lábios, usando-os exclusivamente para o Seu serviço. Não podemos ofe­recer um membro de nossos corpos para o Seu uso, em um dia, para, no dia seguinte, retroceder e usá-lo a nosso bel prazer. O que quer que Lhe tenha sido dedicado uma vez, será eternamente Dele.

No décimo sexto capítulo de Números somos informados sobre como Coré e os seus seguidores se uniram em oposição a Moisés e Arão, e como cada um dos duzentos e cinqüenta homens tomou o seu incen­sário com brasas e o apresentou ao Senhor. Todos eles pereceram, em face de sua presunção, mas Deus ordenou que Moisés aproveitasse os incensários. Observe-se o mo­tivo da preservação dos mesmos: "Disse o Senhor a Moisés: Dize a Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, que tome os incensários do meio do incêndio, e espalhe o fogo longe, porque santos são; quanto aos incensários daqueles que pecaram contra a sua própria vida, deles se façam lâminas para cobertura do altar: porquanto os trouxeram perante o Senhor; pelo que santos são" (versículos 36-38). Tudo quanto houver sido oferecido a Deus é consagrado a Ele, e não mais pode ser utilizado para uso profano.

A passagem de Eclesiastes 5.3 afirma que na multidão de palavras podemos detectar a voz do insen­sato. Deixamos transparecer a nossa insensatez através da nossa loquacidade. Sentimos que devemos dizer tal ou qual coisa para fulano e, naturalmente, não podemos deixar de dizer muitas outras coisas a muitas outras pessoas. Sempre nos parece haver uma boa razão para dizermos algo para alguém. Oh, como alguns dentre nós gostam de falar, e, acima de tudo, gostam de passar adiante o que ouviram! Enquanto isso, muita energia espiritual vai sendo assim dissipada.

Há determinados particulares, vinculados a essa questão de falar, que devemos observar. Em primeiro lugar, notemos o tipo de conversa que nos dá prazer de ouvir. Dessa maneira, podemos chegar a conhecer-nos melhor, porquanto o tipo de conversa que nos atrai indica de que tipo de pessoa somos nós. Algumas pessoas nunca confiam na gente por saberem que não somos do tipo que corresponderia afirmativamente ao que têm para dizer; ao passo que outras pessoas dirigem-se diretamente a nós e derramam em nossos ouvidos toda a mais recente informação que ouviram, visto terem julgado que pertencemos àquela categoria de indivíduos que gostam de ouvir o que elas têm para dizer. Vocês podem aquilatar a si mesmos parando para observar as coisas que as pessoas gostam de dizer para vocês.

Em segundo lugar, observemos quais histórias aceitamos com maior credulidade, pois aquilo a que nos inclinamos a crer revela os nossos pendores. Somos mais crédulos para certas coisas do que para outras, e a direção de nossa credulidade deixa entrever onde reside a nossa fraqueza constitucional. As pessoas, natural­mente, estão prontas a propalar rumores, e nossas tendências temperamentais, algumas vezes, tapeiam-nos e nos fazem dar crédito ao incrível, sobretudo quando as declarações que nos são feitas são alicerçadas na assertiva de que o informante sabe o que diz.

Em terceiro lugar, devemos notar se, quando ouvimos os relatos que nos são transmitidos, os quais são aceitos sem deles duvidarmos, temos o hábito de passá-los adiante. Vocês já observaram esse processo? Determinado indivíduo, dotado de certa inclinação, profere determinadas palavras, que são coloridas pela sua personalidade; e posto haver alguma afinidade entre ele e eu, dou-lhe toda a atenção, e uma parte da perso­nalidade dele penetra-me no íntimo; em seguida, acres­cento as cores do meu próprio temperamento e trans­mito a questão a uma terceira pessoa.

Ato contínuo. observemos a propensão que al­gumas pessoas revelam de transmitir informações inexatas. Contam uma mesma história em ocasiões dife­rentes, mas os seus relatos não se harmonizam entre si. Em sua primeira epístola a Timóteo, Paulo alude a essa espécie de pessoas, recomendando que o obreiro cristão deve ser "de uma só palavra" (I Timóteo 3.8). Alguns indivíduos usam de duplicidade nas palavras, devido à sua ignorância e fraqueza, mas, no caso de outros, revela-se mais do que mera falha de temperamento — há corrupção moral. O trecho de Mateus 21.23-27 registra que os principais sacerdotes e os anciãos do povo vieram ter com Jesus, estando Ele a ensinar no templo, e indagaram Dele com que autoridade agia. Ele retrucou com uma pergunta: "Donde era o batismo de João? do céu ou dos homens? " Isso os pôs em um dilema, pelo que arrazoaram entre si: "Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que não acreditastes nele? E, se dissermos: Dos homens, é para temer o povo, porque todos consideram João como profeta". O resul­tado desses raciocínios foi que eles evitaram enfrentar a verdade, e disseram: "Não sabemos". A resposta deles foi uma mentira deliberada. Em Mateus 5.37 lemos que o Senhor recomendou: "Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar, vem do maligno". Não cabe ao obreiro cristão ser governado pela diplomacia, e nem deixar de pensar sobre o pos­sível efeito de suas palavras sobre os seus ouvintes, antes de resolver o que lhe compete dizer. Quando certos indivíduos buscavam armar uma armadilha diante do Senhor, mediante suas perguntas capciosas, algumas vezes Ele apelou para o recurso do silêncio, mas jamais para a diplomacia. Sigamos o Seu exemplo, e acolhamos o conselho de Paulo, o qual escreveu aos coríntios: "Se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio" (I Coríntios 3.18). E escrevendo aos romanos, disse ele: "Quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal" (16.19). No terreno espiritual a sabedoria do mundo não tem o mínimo valor. A dificuldade de muitos é que nunca aprenderam a dizer "Sim" com candura, quando os fatos exigem um sim, e a dizer "Não", quando sabem que a verdade tem que ser expressa com uma negativa. Jamais falam com simplicidade, com franqueza, mas tudo é cuidadosamente estudado, e as suas declarações são sempre adaptadas aos seus próprios interesses.

Na qualidade de servos do Senhor, entramos em contacto constante com muitas pessoas, desfrutando assim de muitíssimas oportunidades de falar com outros e de ouvi-los; razão por que é essencial que exerçamos controle estrito sobre nós mesmos, a fim de que não suceda que nos tornemos pregadores da Palavra, ao mesmo tempo que fazemos o papel de propagadores de boatos. Esse trágico estado de coisas é mais do que uma simples possibilidade. Se quisermos evitar esse ardil, no qual não poucos já caíram, precisamos ter cuidado não somente com os nossos lábios, mas igualmente com os nossos ouvidos. Em nosso trabalho, não podemos deixar de ouvir muitas coisas que as pessoas têm para revelar-nos sobre os seus negócios, e para sermos obreiros eficientes somos forçados a cultivar a arte de prestar atenção, a fim de que nos seja possível ajudá-las. Contudo, devemos desencorajá-las de continuar reve­lando detalhes, uma vez que já tenhamos compreendido com clareza a necessidade delas. Cumpre-nos manter eterna vigilância, para que a nossa natural curiosi­dade não nos leve a ouvir mais do que convém que saibamos. Existe aquilo que se poderia denominar de concupiscência de conhecimento, concupiscência de in­formações a respeito da vida alheia; e precisamos ter cuidado com isso. Convém que sejamos comedidos nas palavras; porém, se tivermos de usar de comedimento naquilo que dizemos, primeiramente devemos exercer comedimento naquilo que ouvimos.

Levanta-se nesta altura a questão de obter e reter a confiança dos outros. Se alguém compartilhar de seus problemas espirituais conosco, tratar-se-á isso de uma prova de confiança que devemos respeitar. Não devemos falar acerca dessas confidências a menos que os inte­resses da obra tornem tal coisa necessária. Como po­deriam vocês servir ao Senhor, se traírem a confiança em vocês depositada? Mas, que outra coisa poderão fazer, senão trair a confiança, se ainda não aprenderam a dominar a própria língua? Precisamos reputar tais confidências como um depósito sagrado, guardando-as fielmente. Aqueles que, por motivo de sua necessidade, compartilharem de suas histórias secretas com vocês, não o farão para aumentar o cabedal de conhecimentos que vocês possuem. Mas tais pessoas se aproximam de nós em virtude não do que somos pessoalmente, mas em virtude do ministério que exercemos; por isso mesmo, não podemos considerar tais informes como um conhe­cimento pessoal, que possa ser compartilhado com todos e qualquer um. Cumpre-nos aprender a salva­guardar toda a confiança que outros tiverem posto em nós. Aqueles que são incapazes de refrear a própria língua não podem fazer parte da obra do Senhor.

Ao abordarmos a questão da língua, é-nos impos­sível evitar o assunto do péssimo hábito de proferir mentiras. O indivíduo que usa de duplicidade, ao qual já tecemos alusões, é parente próximo do mentiroso. Todas as asseverações feitas com o intuito de enganar cabem dentro da categoria das inverdades, ao passo que o intuito de enganar é um defeito que procede do íntimo. Se a vocês for feita alguma pergunta que não desejem ou não possam responder, poderão recusar-se polidamente a dar resposta, mas não ousem iludir àquele que os interroga. Queremos que as pessoas acreditem na verdade, e não na mentira; por conse­guinte, não ousamos utilizar palavras que, em si mesmas, sejam verazes, a fim de transmitir uma impressão falsa. Se um fato exigir um sim, então teremos que aprender a responder com um sim; se exigir um não, que apren­damos a dizer não. O que vai além disso, provém do maligno. O Senhor, de certa feita, falou em termos extremamente severos para certas pessoas que queriam segui-Lo, dizendo: "Vós sois do diabo, que é vosso pai... Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João 8.44). Satanás é o autor das mentiras, e em face do fato que todas as mentiras se originam nele, como poderia alguém que se diz consagrado ao Senhor emprestar os seus lábios para que profiram palavras instigadas pelo Seu inimigo? Onde quer que se verifique tal fenô­meno, isso indica uma dificuldade fundamental na vida do indivíduo. Trata-se de um problema da mais grave natureza possível. Nenhum de nós tem a coragem de afirmar que sempre diz exatamente a verdade (de fato, quanto mais cuidadosamente procuramos ser verazes, tanto mais percebemos a dificuldade de ser exatos em tudo quanto dizemos), mas devemos cultivar o hábito de ser verazes e de evitar toda a afirmação precipitada.

Evitemos tudo quanto cheire a altercação. Foi predito acerca de Jesus: "Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz" (Mateus 12. 19). E Paulo escreveu para Timóteo, dizendo: "É neces­sário que o servo do Senhor não viva a contender" (II Timóteo 2.24). O servo do Senhor deve conservar-se debaixo de tal controle que não dê margem a conversas ruidosas ou a qualquer coisa que se assemelhe a alter­cações. Falar em altos brados usualmente indica falta de poder, e sempre indica a necessidade de auto-disciplina.

Podemos ter plena razão naquilo que dizemos, mas não há necessidade de fazermos afirmações em altos brados, quando queremos dizer a verdade: pois poderemos impressionar os nossos ouvintes com a verdade sem usar de qualquer insistência ruidosa acerca de nossas con­vicções a respeito. Andemos na presença do Senhor na calma dignidade que convém aos Seus servos. Natu­ralmente, não desejamos assumir uma sobriedade ou refinamento meramente artificial, porquanto a vida cristã c espontânea e sem afetação; mas o domínio próprio tem que ser posto em prática até que se torne em nós uma segunda natureza.

O domínio próprio no terreno da linguagem eli­mina grande parte do linguajar frívolo e inconveniente, ao que Paulo se refere em sua epístola aos Efésios como "cousas inconvenientes" (5.4); e igualmente anula a zombaria e muitas outras coisas que ao servo de Cristo não cabe praticar. Se pudermos entreter uma audi­ência com nossas histórias interessantes e observações engraçadas e críticas espirituosas, não conseguiremos conquistar o seu respeito ao lhe falarmos acerca do Senhor; as nossas palavras não terão valor para eles. Quando nos dirigimos ao púlpito a fim de proclamar a Palavra de Deus, eles aquilatarão a nossa prédica com a mesma medida com que avaliaram as palavras que proferimos tão frivolamente, quando ainda não está­vamos no púlpito. Não nos olvidemos daquela aguda pergunta feita na Palavra de Deus: "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amar­goso? " Não há necessidade de preparativos laboriosos antes de subirmos ao púlpito para pregar; porém, temos necessidade de precaução constante em nossa conver­sação diária normal, a fim de que nossa maneira des­cuidada de falar não venha a fazer-nos perder poder, para que não se tornem ineficazes as nossas palavras, quando estivermos falando do púlpito.

Se vocês adquirirem o vício de falar sem cuidado, também lerão a Bíblia descuidadamente. As palavras desse Livro são as únicas palavras inteiramente dignas de confiança, mas, se vocês não apreciam exatidão de linguagem, então não acolherão essas palavras com seriedade; em conseqüência, a prédica de vocês terá pouco poder. Para que o pregador pregue a Palavra de modo eficaz, requer-se que este tenha determinada disposição; e a leitura das Escrituras requer idêntica disposição. Pessoas de caráter descuidado se aproximam da Palavra de Deus com atitude frívola e não podem embalar a esperança de chegar a compreendê-la verda­deiramente. Ilustremos o assunto por intermédio da própria Bíblia.

No capítulo vinte-e-dois de Mateus aprendemos que os saduceus não acreditavam na ressurreição. Um dia vieram ter com o Senhor e lhe apresentaram o se­guinte problema: "Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva e suscitará descendência ao falecido. Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro, tendo casado, morreu, e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro, até ao sétimo; depois de todos eles, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? porque todos a desposaram". Mas Jesus respondeu: "Errais, não conhecendo as Escri­turas nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu. E quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos" (versículos 24-32). É claro que os saduceus liam as Escrituras, mas não as entendiam. Suas próprias palavras eram profe­ridas com frivolidade, e, por esse motivo, não podiam apreciar a exatidão absoluta das declarações divinas. Nosso Senhor tão somente citou uma breve passagem da Palavra de Deus para responder à indagação deles, a saber, Êxodo 3.15, onde Deus chama a Si mesmo de Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó. Ali­cerçado nessas poucas palavras, nosso Senhor raciocinou como segue: Vocês, saduceus, admitem que Abraão está morto, que Isaque está morto, e que Jacó está morto; no entanto, Deus declara que Ele é o Deus deles, como igualmente afirma que Ele não é Deus de mortos, mas de vivos; por conseguinte, nada menos do que a res­surreição pode capacitar o Deus vivo a ser o Deus deles. E, dessa forma, os saduceus foram silenciados.

Quando nos tivermos de apresentar perante o tri­bunal de Cristo, talvez descubramos que o dano produ­zido pela maneira de falar leviana e fútil em muito excede ao prejuízo causado de muitas outras maneiras, visto que opera grande destruição, tanto em outras vidas como em nossa própria. As palavras, uma vez saídas de nossos lábios, não mais podem ser recuperadas; pelo contrário, prosseguirão cada vez para mais longe, passando de boca para ouvido e de ouvido para boca, espalhando danos enquanto prossegue. Podemo-nos ar­repender de nossa insensatez, e podemos receber o perdão, mas não podemos recolher de volta aquilo que soltamos. Temos falado a respeito de váriosdefeitos de caráter que maculam a vida e o ministério de muitos crentes; entretanto, se a nossa dificuldade é uma língua solta, então o problema é mais grave do que todos os demais problemas mencionados, pois as palavras descuidadas que a língua profere liberam uma torrente mortífera que se espalha cada vez mais, levando a morte por onde quer que passe.

Irmãos e irmãs, em face de fatos tão solenes, precisamos arrepender-nos. Muitas palavras que temos proferido nos dias passados foram "palavras ociosas", mas agora elas não são mais "ociosas", pelo contrário, estão intensamente ativas, a semear uma furiosa des­truição. Busquemos a purificação divina quanto ao pas­sado, e, no tocante ao presente, confiemos em que Ele resolverá radicalmente essa miséria que ameaça destruir a nossa utilidade para Ele. Se, em Sua misericórdia, Ele assim fizer, no futuro seremos poupados de muita tristeza e lamentação. Abraão pôde arrepender-se de ter gerado a Ismael, e até mesmo depois desse lamentável nascimento segundo a natureza carnal ainda pôde gerar a Isaque, de conformidade com o propósito divino. Porém, ele já havia posto no mundo um adversário da descendência escolhida por Deus; e ainda que tivesse despedido a Hagar e a seu filho para longe de Isaque, isso não solucionou a divergência entre os dois, a qual continuava muito viva, apesar da passagem dos séculos.

Acha-se escrito acerca do Senhor Jesus: "O Senhor Deus me deu língua de eruditos" (Isaías 50.4). A ex­pressão "língua de eruditos" poderia ser traduzida por "língua de discípulo", isto é, de alguém que tem sido disciplinado. Necessitamos buscar fervorosamente ao Senhor, para que Ele nos capacite a controlar a própria língua, a fim de que esse membro "indomável" possa tornar-se um membro disciplinado. Quando a nossa boca fica debaixo de controle restrito, e deixa de liberar aquilo que causa dano aos interesses do Senhor, então podemos esperar que Ele a use como porta-voz. Assim como Ele santificou-se a Si mesmo por nossa causa, por semelhante modo que nos santifiquemos, por causa daqueles para quem Ele nos enviou. Mantenhamo-nos sempre em estado de alerta, separando-nos de todas as ligações que nos envolveriam em conversas que não contribuem para a edificação, pois de outro modo poríamos em risco o ministério que Deus a nós confiou.




Leitura: Números 22.7-20; Gênesis 22.1-13; Sal­mos 32.8,9; Mateus 20.25,26 e Filipenses 1.15-18.

A subjetividade é outro dos defeitos de caráter de alguns obreiros cristãos, o que produz um efeito adverso em seu trabalho. Já tivemos oportunidade de mencionar uma das direções em que se manifestam os seus malé­ficos efeitos — a incapacidade de ouvir. Conforme já tivemos ocasião de frisar, é essencial que todo obreiro cristão cultive a habilidade de dar atenção ao que as pessoas têm para lhe dizer; doutra maneira, o obreiro não terá meios de conhecer os seus semelhantes, e, em conseqüência, não poderá servi-los.

Outro efeito prejudicial da subjetividade é a inca­pacidade de aprender. Uma pessoa subjetiva tem opiniões formadas tão arraigadas que quase não pode ser ensi­nada. Quando certos jovens se lançam ao trabalho cristão imaginam que já sabem tudo quanto se pode saber, e mostram-se tão apegados às suas idéias que é quase impossível fazê-los aprender alguma coisa, pelo qual motivo o progresso deles também é dolorosamente lento. A incapacidade de aprender é um dos mais trá­gicos aspectos da subjetividade. Se alguém não pode aprender, que possibilidade de progresso pode haver? Se pudermos ser inteiramente libertados de nossa relu­tância em aceitar a instrução, para que a aceitemos sem hesitação, então seremos capazes de passar rapidamente de uma lição para outra. Existem lições intermináveis a serem aprendidas no campo espiritual, e, assim sendo, devemos estar preparados para receber subsídios de muitas direções diversas. A menos que nos tornemos melhores aprendizes, faremos um progresso patetica­mente ínfimo, até mesmo durante todo o decurso de nossas vidas.

O segredo do progresso espiritual e a receptividade para com Deus, sendo essa uma razão por que devemos abrir-Lhe com franqueza nosso coração, mente e espí­rito, para que as impressões divinas possam chegar até nós; pois se falharmos nisso, ficaremos tão impas­síveis ante as impressões que Ele terá de usar da espora e do freio, ou dos açoites do látego, a fim de tornar-nos cônscios de Sua presença e propósito. A incapacidade de receber orientação é uma das conseqüências do estado subjetivo, pois a subjetividade cerra o nosso ser para Deus. No capítulo vinte e dois de Números lemos acerca de Balaão, o qual, quando Balaque lhe ofereceu presentes, contanto que ele amaldiçoasse aos filhos de Israel, não se comprometeu, mas declarou: "Ficai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o Senhor me falar". Mas Deus lhe disse: "Não irás com eles". De conformidade com essas palavras, Balaão se levantou pela manhã e respondeu aos príncipes de Balaque: "Tornai à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco". Poderia haver algo mais claro do que isso? E no entanto, quando Balaque pressionou nova­mente o seu pedido, Balaão replicou: "Rogo-vos que também aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais o Senhor me dirá". E o registro sagrado diz; "Veio, pois, o Senhor a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens vierem chamar-te. levanta-te. vai com eles". Quando Balaão apresentou sua segunda consulta a Deus, por qual motivo Deus lhe permitiu a ida. visto que por ocasião da primeira consulta lhe recusara termi­nantemente a permissão de ir? É que quando Deus respondeu a Balaão de modo tão inequívoco, ele deveria ter aceitado a resposta do Senhor como algo final, sem jamais reabrir a questão. O fato que a reabriu mostrou a sua subjetividade. Viera ostensivamente saber qual a vontade de Deus, mas sua mente já estava resolvida. Sabia o que queria fazer, e estava disposto a fazê-lo.

Deus exige que aceitemos prontamente a Sua Pa­lavra. Se Ele nos disser "Vai", devemos ir sem demora. A dificuldade que as pessoas subjetivas enfrentam é que se Deus lhes disser "Vai", estão sempre tão fixas em suas próprias idéias que será mister muito tempo antes que possam ajustar-se à Sua ordem; e, se eventualmente obedecerem, ficarão tão fixas na idéia da ida que não poderão obedecer prontamente se Deus lhes ordenar "Pára". E terão de atravessar novo processo de acomo­dação antes que possam obedecer. Se Deus lhes ordenar que vão, poderão vocês abandonar tudo para que obedeçam imediatamente? E, tendo obedecido ao Seu mandamento e ir, e estando preparados para continuar, poderão vocês estacar instantaneamente se Deus emitir a ordem de estacar? Se vocês são pessoas subjetivas, será muito difícil vocês partirem, pois primeiramente vocês terão de ver-se a braços com as suas próprias idéias; e, uma vez que aceitem a ordem de Deus para partir, fixar-se-ão nessa ordem, e haverá outra batalha antes que desistam da idéia de prosseguir, se Deus ordenar que parem. Quando o crente se torna maleável em Suas mãos, há uma reação positiva imediata para com qualquer nova indicação de Sua vontade.

No sacrifício de Isaque, oferecido por Abraão, encontramos bela ilustração sobre um homem que foi libertado de si mesmo. Se Abraão houvesse consultado a sua própria experiência, quando Deus lhe pediu que Lhe oferecesse Isaque, ele jamais teria obedecido. Prova­velmente teria raciocinado nos seguintes termos: Eu não tinha filhos, e a possibilidade de ter um filho nunca me ocorreu. Foi Deus quem tomou a iniciativa nesta situação impossível; e foi Ele quem a previu. Como pode Ele agora anular o Seu próprio propósito, exigindo de mim que Lhe ofereça Isaque? Se uma pessoa dotada de atitude subjetiva fosse solicitada a enfrentar tal desafio, quais razões não teria apresentado para não cumprir a ordem de Deus! Mas a vida de Abraão, em contacto com Deus, se tornara tão simples que nem mesmo um tão imenso desafio lhe pareceu problemá­tico. Ele creu que Deus cuidaria de Seu próprio propó­sito, ressuscitando a Isaque dos mortos, e, desse modo, em simplicidade de fé, colocou seu filho sobre o altar e ergueu o cutelo, a fim de sacrificá-lo. Foi exatamente naquele instante que Deus ordenou a Abraão que sus­pendesse o golpe, e foi então que lhe mostrou um car­neiro que poderia ser oferecido em lugar de seu filho. Ora, se Abraão tivesse sido um crente subjetivo, isso lhe teria apresentado um novo problema; sem dúvida teria ficado perplexo e estupefato, pois como lhe seria possível discernir a vontade de Deus se, em um momento Deus lhe dizia para fazer uma coisa, mas logo em seguida lhe ordenava justamente o oposto? Para Abraão, entretanto, tudo isso pareceu perfeita­mente simples e direto. Quando Deus lhe deu a ordem de oferecer o seu filho, imediatamente ele aceitou o encargo e se preparou para oferecê-lo; e quando Deus ordenou que ele sustivesse o movimento do braço e ofe­recesse um substituto, sem fazer uma única pergunta Abraão obedeceu. A obediência instantânea de Abraão não deixava margem para perplexidades.

Quando Deus pede de alguns crentes que sacri­fiquem isto ou aquilo por Sua causa, imediatamente se põem a pensar em toda sorte de problemas relacio­nados com a Sua Palavra; e, se no decurso do tempo, conseguem solucionar seus problemas para oferecer-Lhe o sacrifício solicitado, caso Deus venha a pedir-lhes que estaquem, novos problemas surgirão em suas mentes sobre como poderão obedecer de maneira coerente. A simplicidade da vontade revelada de Deus vê-se assim complicada, devido à complexidade da própria maneira de pensar dos tais, e o resultado é que se houver obediência ela será tardia e laboriosa. Se fixarmos os nossos pensamentos à vontade de Deus, então, quando uma ordem Sua for alterada, nossos pensamentos per­manecerão fixos, e essa fixidez mental nos impedirá de fazer com simplicidade o que Ele nos ordena.

Lemos em Salmos 32.8,9: "Instruir-te-ei e te ensi­narei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obe­decem". Até os cavalos e as mulas podem ser compe­lidos a fazer aquilo que os seus proprietários quiserem (embora não sem algum controle externo), mas Deus jamais tencionou dirigir os Seus filhos dessa maneira. O cavalo e a mula são "sem entendimento", mas os filhos de Deus têm uma tal relação íntima com Ele que até mesmo um olhar deveria ser suficiente para que o Seu desejo fosse reconhecido por eles. O conhe­cimento da vontade de Deus não é uma questão que se resolva por haver-se achado o método certo, mas é antes a questão de haver-se encontrado o homem certo. Se o indivíduo não for correto para com Deus, nenhum método funcionará para que a vontade de Deus lhe pareça clara; entretanto, se o crente mantiver correta relação com Ele, o conhecimento de Sua vontade será uma questão simples. Isso não elimina os métodos, mas deveríamos enfatizar que apesar do mais completo conhecimento de todos os métodos mediante os quais Deus possa querer fazer conhecida a Sua vontade, continuaremos a ignorá-la, se não estivermos andando intimamente com Ele.

Outro ponto que deve ser observado no tocante à subjetividade é que a menos que nosso ego tenha sido desnudado por Deus e tenha sido drasticamente mode­lado, jamais seremos instrumentos apropriados em Suas mãos para tratar com outras vidas. Deus não entregará o manuseio de homens a um indivíduo que ainda não foi moldado pelas Suas mãos. Não é possível que aquele que ainda não aprendeu a discernir a vontade de Deus e a cumpri-la seja usado por Ele para conduzir outras pessoas no caminho de Sua vontade. Se um obreiro cristão em quem o ego permanece dominante, procurar instruir a outros no caminho de Deus, por mais que ele possa doutrinar, o seu próprio fundo intelectual e emo­cional inevitavelmente se expressará e obscurecerá o ca­minho. Consciente ou inconscientemente, tal obreiro procurará dominar outras vidas. Quer intencionalmente ou não, ele imporá sobre elas as suas próprias opiniões, e exigirá que elas digam o que ele diz e que ajam como ele age. Poderá apresentar-se como grande líder do povo de Deus, ou como um grande mestre, ou como admirá­vel pai do rebanho; mas, por impressionante que pareça ser a sua liderança, ele não poderá exprimir a auto­ridade divina, porquanto a sua vida estará sendo domi­nada por sua própria vontade, e não pela vontade de Deus. Nosso Senhor declarou: "Sabeis que os governa­dores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós" (Mateus 20.25,26). Se tivermos de ser bons pastores, o Senhor nos terá de rebaixar muito, porquanto nossas naturezas dominadoras tendem mais a dispersar o rebanho do que a ajuntá-lo.

Cumpre-nos aprender a não dominar aqueles que nos foram confiados, a não conduzi-los além de sua habilidade de seguir. Se tivermos no coração uma impo­sição do Senhor, devemos transmiti-la com fidelidade, não ousando insistir, entretanto, que os outros aceitem a mensagem que proclamamos. Lembremo-nos de que Deus respeita o livre arbítrio que Ele mesmo conferiu ao homem; e, se Ele jamais usa de coerção para com o homem, como ousaríamos nós fazê-lo? Aprendamos a viver brandamente na presença Dele, não nos exibindo perante os homens, ansiosos por desempenhar o papel de líderes. Não devemos reputar como motivo de auto-satisfação quando as pessoas estiverem prontas para ouvir o que lhes temos a dizer, mas, pelo contrário, isso nos deveria chegar mais para perto do Senhor, em temor e tremor, levando-nos a dar a maior atenção possível àquilo que Ele nos quiser dizer. Sem importar quão intensas sejam as nossas convicções, devemos aprender a desconfiar de nós mesmos, pois todos nos inclinamos para o erro; e quanto mais seguros nos sen­tirmos em nós mesmos tanto mais facilmente nos pode­remos desviar. Um dos perigos próprios da subjetividade é que nossa confiança própria nos torna ansiosos por liderar a outros, e quanto maior for o número de segui­dores que possamos atrair, tanto maior se tornará a nossa confiança própria; e o resultado disso será que ficaremos cada vez menos capazes de receber ajuda de terceiros ou de discernir a mão liderante do Senhor.

Os crentes dessa espécie só podem operar sozinhos. Por estarem fixos em seus próprios caminhos, não podem ajustar-se aos seus semelhantes e, portanto, não podem funcionar em qualquer capacidade coletiva. Jamais se submeteram a qualquer autoridade espiritual e, visto que nunca aprenderam a sujeitar-se à autori­dade, não podem agora exercer verdadeira autoridade. Muitos crentes, desde o início de sua história até o presente, nunca souberam o que significa sujeitar-se a qualquer de seus irmãos na fé. Visto nunca haverem aprendido o que significa ser conduzido, Deus não pode entregar em suas mãos a tarefa de liderarem a outros.

Irmãos e irmãs, observai com atenção este fato que se alguém se oferece para o serviço cristão, mas anteriormente não teve ocasião de aprender a ser sub­misso, mostrar-se-á cristalizado em seus próprios cami­nhos e estará perenemente pronto para tomar a inici­ativa e para liderar a seus companheiros; ao passo que aquele que já aprendeu a submissão, através de severa disciplina, manter-se-á firmemente estabelecido no Se­nhor, mas não procurará dominar aos seus pares. Confio em que nenhum de vocês se mostrará inflexível, mas que cederá aos seus irmãos na fé, dando-lhes o direito de exercerem o seu livre arbítrio em tudo. Devemos ter cuidado para que não lhes furtemos o seu livre arbítrio, uma faculdade que lhes foi outorgada por Deus, o que estaremos fazendo se lhes impusermos as nossas próprias convicções.

Enquanto um crente que se caracteriza pela subjetividade for deixado isolado, o seu individualismo não se manifestará. Mas, ponha-se o mesmo junto com alguns poucos irmãos na fé, e imediatamente ele as­sumirá a liderança. Ou coloque-se uma irmã que tenha forte tendência para a subjetividade, em um lugar com outra irmã, e dentro em breve aquela estará dizendo à sua companheira que tipo de alimentos se deve comer, que estilo de roupas se deve usar, e que tipo de colchão é mais propício para conciliar o sono. Contanto que apenas uma delas tenha fortes idéias próprias, a vida entre elas será possível; porém, se ambas tiverem idên­tica disposição, não se passará muito tempo antes que elas cheguem a um impasse.

Já tivemos oportunidade de frisar a necessidade de cedermos aos nossos semelhantes, quando vivemos e trabalhamos juntos; mas isso não significa submissão indiscriminada, nem quer dizer que devamos tolerar o mal em silêncio. Naqualidade de servos do Senhor, compete-nos ser fiéis, e a fidelidade, algumas vezes, exigirá que exortemos, que advirtamos, ou que repreen­damos. Algumas vezes teremos que tratar os outros com firmeza, porque não ousaríamos tolerar aquilo que está errado; mas aqueles com quem o Senhor já tratou tratarão os outros com fidelidade, para com eles e para com Deus, e não por causa de algum desejo inato de dominar outras vidas.

Paulo era um líder nato, mas também era homem preparado pelo Senhor. Ao desincumbir-se de seu minis­tério, algumas de suas afirmações eram "graves e fortes"; Ele sabia ser mordaz em suas denúncias contra o mal, mas também podia mostrar-se gentil até à ternura, com os fracos e equivocados. Sabia acusar os mestres falsos nos termos mais vigorosos, mas também era tão eman­cipado de si mesmo que foi capaz de escrever: "Alguns efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evan­gelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei" (Filipenses 1.15-18). Podem ver vocês o equilíbrio perfeito na vida de Paulo? Ele sabia alegrar-se se os homens acolhessem a sua men­sagem e andassem como ele mesmo andava, mas também continuaria a regozijar-se se eles rejeitassem a sua men­sagem e lhe armassem oposição. A fidelidade exige uma atitude intransigente e uma linguagem intransigente; mas se a linguagem de Paulo, vigorosa como era, provo­cava antagonismo contra ele, o apóstolo não recebia isso como uma afronta pessoal, mas podia prosseguir jubiloso no fato que eles estavam anunciando a Cristo. A pessoa inclinada para a subjetividade fica obcecada pelas suas próprias idéias e vive a defendê-las, e facil­mente se ofende se as suas sugestões não forem seguidas; mas aquele que tem aceitado constantemente a correção hesita em assumir a liderança e evita o perigo de manipular outras vidas. O homem que se apega aos seus próprios pensamentos e caminhos é tacanho e intro­metido, mas o homem que já aprendeu a encurvar-se debaixo da mão castigadora de Deus, tem-se expandido por meio da pressão, e é homem de coração grande e de horizontes amplos.

Sintetizando o que temos dito, se o propósito do Senhor houver de ser realizado por nosso inter­médio, então devemos ser libertados de toda a subjeti­vidade, e isso só poderá tornar-se uma realidade na medida em que Lhe dermos permissão para que nos tome pela mão e que nos amolde sem qualquer indul­gência, pois o nosso próprio ego é o ponto crucial do problema. Em algumas vidas isso se torna mais evidente do que em outras, mas nenhum de nós está imune a essa dificuldade. Continuamos dotados de nossas próprias opiniões e de nossos próprios meios de agir, e ainda continuamos tendo a tendência de controlar outras vidas. Por conseguinte, humilhemo-nos debaixo da mão de Deus, a fim de que Ele nos torne intransigentemente fiéis em todo o nosso ministério, ao mesmo tempo que sejamos gentis de espírito e sempre prontos a ceder terreno ante outros membros de Sua família.

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COMO ATINGIRMOS O CORAÇÃO DE DEUS (IICr 7:14) “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Para Que Uma Pessoa, Uma Igreja, Uma Nação, Possa Receber As Bênçãos Das Mãos Do Deus E Necessário Atingir O Coração De Deus
Neste versículo aprenderemos como atingirmos o coração de Deus.
1º VOCÊ PRECISA SE HUMILHAR DIANTE DE DEUS
Um dos significados da palavra humilhar é: Submeter-se, render-se e prostrar-se

SE HUMILHAR é Submeter, é se por debaixo, é tornar dependente, é se sujeitar.
Então aquele que se humilha ele esta se colocando debaixo das mãos do Soberano,
Ele depende de Cristo para receber o perdão dos seus pecados.

SE HUMILHAR é se Render, mas se render do que:
Aos desejos e propósitos do Senhor Jesus em torna-lo cada vez mais puro e santo.
Aquele que se humilha, ele se torna dependente, ele se entrega a supremacia do Deus.
Ao tornar-se humilde está pessoa está submetendo a receber a graça e o perdão que nos levará a Deus.

SE HUMILHAR é se prostra, é se lançar aos pés daquele que tudo vê, tudo pode, tudo sabe.
É matar, deixar morrer, o desejo de vingança de orgulho, da carne.
Se humilhar, é reconhecer quem éramos no passado , e Deus nos deu uma nova vida.

A humilhação, faz toda a diferença na vida do cristão.
(Tg 4:10) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
(IPe 5:6) Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte
(Mt 23:12) “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. .

Para mexer no coração de Deus, a primeira coisa que você deve fazer é se humilhar. ORA COMIGO
Senhor eu reconheço os meus pecados, eu reconhece as minha falhas, eu reconhece os meus defeito os meus erros, eu quero Senhor, abrir meu coração, a minha alma tem sede de ti, eu desejo receber o seu perdão, eu quero ser perdoado por ti.
Vale a pena se humilhar, não pense duas vezes, pois aquele que se humilhar diante de Deus, alcançarão as bênçãos.

2º VOCÊ PRECISA TER UMA VIDA DE ORAÇÃO, POIS A ORAÇÃO E A CHAVE,
QUE ABRE O CORAÇÃO DE DEUS
(Lc 1:13a)Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida.
Zacarias, se ele não tivesse buscado ao Senhor, se ele não tivesse orado, ele não teria alcançado o coração de Deus, mas devido a sua insistência Deus ouviu a sua oração e respondeu ao seu clamor.

Portanto, você que está precisando de uma, benção urgente, de uma vitória, não perca mais tempo, levante um grande clamor, e começa a orar.
Busque ao Senhor em oração, as tuas orações subirão como cheiro suave e Deus se alegrará e responderá, pois a oração atinge o coração de Deus.
E quando o coração de Deus é atingindo, libera e derrama a benção e a unção da providência sobre a sua vida.
O que é Oração? É Conversar com Deus, é dialogar com o teu criador, a oração é uma busca de contato com Deus, a oração é o segredo para receber poder e autoridade, oração é a alavanca que move o cristão, a superar as dificuldades e renovar as suas força.
A oração é o oxigênio da nossa alma é ter comunhão com Deus, é a chave que abre as janelas do céu, Portanto, se você não gosta de orar,